Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.
Os homens da política cearense estão decidindo se Izolda Cela (PDT) será candidata ao governo. Na verdade, irão "testar" a atual vice-governadora e gestora de educação. Ela assumirá o Palácio da Abolição quando Camilo Santana (PT) deixar o cargo, em abril, para se candidatar ao Senado.
Até agosto, data final para definição do candidato ao governo e após "pesquisa" sobre a aceitação do nome dela, é que Izolda poderá ter o aval dos homens que "nunca" deixaram uma mulher governar o Ceará.
O falocentrismo é um penico retirado debaixo da cama ao amanhecer. E mesmo os homens mais "fofos" não fogem à regra. Toleram até uma vice para atrair o eleitorado feminino, mas nunca serem conduzidos por uma mulher.
Izolda seria a regra quebrada em 491 anos de chibantes no condão. Mas não é só por isso, da besteira de finalmente abrir uma fissura na muralha dos colhudos do Norte
A história dos machos governantes do Ceará - das invasões bárbaras portuguesas até aqui - foi sempre a apoteose do "pau na mesa". De 1531 até 2022, pelo menos 224 zangões se trocaram no mando. Uns se repetiram, outros formaram juntas.
Izolda seria a regra quebrada em 491 anos de chibantes no condão. Mas não é só por isso, da besteira de finalmente abrir uma fissura na muralha dos colhudos do Norte. É sobre uma nova mentalidade que poderia surgir na política com o feminino, agora, dando as cartas.
É até ingênuo o desejo de Izolda rumar por outro caminho. Como, né, se até aqui esteve entre num clã ferrerista dominado por mandões? Não a conheço no dia a dia, então não posso saber se fez mais valer o que pensa ou se curvou por causa do sistema.
Izolda nunca foi a mãe dos dragões. Por ser discreta, e isso não é ruim, não se sabe se encarna Daenerys Targaryen, Cersei Lannister, Sansa Stark ou até Arya Stark. É o "jogo da política"
Certo, foi responsável como outras mulheres e homens pela mudança na educação em Sobral e virou modelo para o Ceará e para o mapa do Brasil. Uma excelente gestora, mas nunca protagonista no trono de ferro.
Izolda nunca foi a mãe dos dragões. Por ser discreta, e isso não é ruim, não se sabe se encarna Daenerys Targaryen, Cersei Lannister, Sansa Stark ou até Arya Stark. É o "jogo da política" e, talvez, sejam necessários arquétipos assim para o feminino também se impor e reescrever o avesso.
A merda é não conseguir sair da matrix e se iludir que não repetirá modelos machos administrativos que deram, por exemplo, com o exército de mortos sucumbidos por causa da peste das facções.
Nem impediu que territórios deixassem de ser dominados pela massa de "soldados" mulambentos do crime comandado de dentro e de fora do Ceará.
Está na cara que nem o mega-falo-investimento na área da segurança pública, reafirmado por Camilo e outros governadores, resultou numa radical redução de assassinatos.
Nem impediu que territórios deixassem de ser dominados pela massa de "soldados" mulambentos do crime comandado de dentro e de fora do Ceará.
Imagina-se que Izolda seria a possibilidade de acerto, da mentalidade na contramão do bolsonarismo do capitão Wagner. Tão falocêntrico quanto o fauno e todos os governadores de 1531 até aqui, dos arcaicos aos novos arcaicos.
Não será fácil uma mulher "ganhar o aval" para concorrer ao trono de ferro no Abolição. Até aqui, somente Maria Luíza (PT) e Luizianne Lins (PT) no Pajeú
Não será fácil uma mulher "ganhar o aval" para concorrer ao trono de ferro no Abolição. Até aqui, somente Maria Luíza (PT) e Luizianne Lins (PT) no Pajeú. Dilma foi deixada nua, cortaram seus cabelos e a incendiaram na fogueira. Uma inquisição machista deplorável e amaldiçoada. Tai a destroceira.
Desejo, "talvez", uma mulher lá do Bom Jardim vencer e governar o Ceará. Furar o olho do furacão da mesmice politiqueira perpetuante.
Uma mulher do Pirambu, do Jangurussu! Por que não? Dos lugares onde se escreve no muro que se "não baixar os vidros, vai morrer". Vir das ruas onde se "tomam as casas" alheias.
Impossível e inimaginável, né? Chega soa como imbecil o vitupério. É a crença dos que não suportam uma mudança com radicalidade sem o pau
Imaginou uma "mãe da periferia" governando o Estado? Uma mulher que perdeu um filho, morto pela polícia feito Leidiane ou Edna?
Impossível e inimaginável, né? Chega soa como imbecil o vitupério. É a crença dos que não suportam uma mudança com radicalidade sem o pau.
Depois de quase 500 anos do massacre europeu por aqui, os homens machos do Ceará permanecem decidindo se um varão continuará a governar. E não se Izolda será a candidata.
Espero que se imponha pelo feminino e pela gestora que é na corriola manjada do patriarcado cearense. Pode até fazer dobradinha com Luizianne. "Impossível", a política dos homens ao redor não permite.
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