Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.
Depois de mais de 500 séculos da barbárie europeia por aqui, ainda estupram indígenas e invadem os corpos de meninas, de florestas, de bichos e de rios
Lula não precisa querer garimpar votos ao dizer que o mundo está chato por causa do "politicamente correto", e que não há problema em fazer piadas contra nordestinos. Ainda mais ele, um ser vivo do Semiárido migrado para a esnobe São Paulo.
Preconceitos todos nós temos em alguma ocasião. Perde-se o amigo, mas não se perde a blague. E se não verbalizamos publicamente, na intimidade (com uns poucos) fazemos uns escarniozinhos entre nós. Claro.
Os baitolas com os baitolas, os machos entre os machos, os gordos com os gordos, as mulheres entre as mulheres, os velhos com os velhos, os filhos-da-puta entre os filhos-da-puta, os negros com os negros... Temos nossos porões particulares para liberar umas gracinhas sem "intenção de ferir ninguém".
Lula não perderá meu voto pragmático e sem amor. Não. Ele não pode ser comparado às sevícias de Bolsonaro
Lula não perderá meu voto pragmático e sem amor. Não. Ele não pode ser comparado às sevícias de Bolsonaro. Apenas não carece alimentar a possibilidade de mais maldade num país quase insuportável.
Está mais assim ainda o glossário de torpeza dos brutos e até dos não-imbecis. Porque a paciência está nos cascos e não faltam coices, tiros, ameaças, estupros e o que for de barbarismos.
Garimpeiros indizíveis, incentivados por um ódio atualizado que degenera o sangue dos Bolsonaro, não respeitam corpo nenhum
Porque jamais toleramos indígenas, desde os 1500, então se estupra a pequena Yanomami de 12 anos de idade. Nem o nome dela achei nas matérias que li, vi e ouvi.
Garimpeiros indizíveis, incentivados por um ódio atualizado que degenera o sangue dos Bolsonaro, não respeitam corpo nenhum. Nem o deles em estado de desamor.
Nem o dos rios exauridos pela busca do ouro. Nem os das árvores mortas a machado e fogo. Nem de uma menina Yanomami... atocaiada, acuada, açoitada e violada na comunidade de Aracaçá, em Roraima.
Uma mulher e uma floresta que teimam em rebrotar. Corpos sempre à beira da extinção e penalizados pela invasão
Um ser vivo feminino, criança e pagando ainda por ser uma indígena. Uma mulher e uma floresta que teimam em rebrotar. Corpos sempre à beira da extinção e penalizados pela invasão.
Nas matérias, vãos de silêncios. Talvez porque a gente seja "branco" e não tenha a dimensão do suplício dela em descender do povo dos começos. Teve ainda um bebê Yanomami jogado ao rio e uma mãe acossada.
Com Bolsonaro há uma autorização para o tiro na testa, para o preconceito, a mentira, a facada, a ferocidade, a misoginia, o indulto para o fascismo, a LGBTfobia, o desdém à morte por Covid sem vacina, para o racismo e estupro...
O que mais dói é ainda ter gente, do mesmo naipe dos garimpeiros, votando em Bolsonaro e dando ainda corpo às incivilidades num País quase abominável
Dói ser a miúda Yanomami estuprada, que não é minha filha e só tenho dó. Dilacera o menino não existir mais porque o afogaram. Fere ser a mãe indígena ainda atacada por bárbaros.
O que mais dói é ainda ter gente, do mesmo naipe dos garimpeiros, votando em Bolsonaro e dando ainda corpo às incivilidades num País quase abominável.
Repito. Não confio em quem ostenta bandeira do Brasil no carro, na varanda de casa nem em quem fala em Deus e vota em Bolsonaro.
Depois de mais de 500 séculos da barbárie europeia por aqui, ainda estupram indígenas e invadem seus corpos de meninas, de florestas, de bichos e de rios.
Ali poderá ter uma pistola, ter alguém que ainda concorde com a invasão das terras Yanomamis e tolere os estupradores apoiados pelo presidente.
Depois de mais de 500 séculos da barbárie europeia por aqui, ainda estupram indígenas e invadem os corpos de meninas, de florestas, de bichos e de rios.
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