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A duna da Sabiaguaba não tem código de barras
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Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.

A duna da Sabiaguaba não tem código de barras

A duna mãe da Sabiaguaba está diminuindo. Só não enxerga que já decretou seu fim. Está passando da hora do Ministério Público entrar em ação, antes que ela desapareça
Tipo Crônica
0409demitri (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos 0409demitri

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Ando pensando sobre a "data de validade", minha "vida útil" para os idiotas do capital. O destino de um ser vivo, feito um jumento trocado por uma motocicleta, não servir mais e ser abandonado em alguma BR. Com azar, o Detran recolherá para morrer em algum "depósito".

Por pensamentos vãos, de alguma janela para a Cidade - quando todo mundo está dormindo, fornicando ou se embriagando -, fiquei calculando até quando quero ficar por aqui.

Cheguei à conta, não me perguntem o cálculo porque é melhor não saber. Desejo ficar até os 85 anos de idade. Isso, se nenhum BO atravessar meu caminho e decretar game over antes do que combinei com as entidades.

 

Daqui a pouco, o paulista-sobralense se autodeclarará também mulher ou homem trans. Mas não cola só porque é um candidato em desespero à presidência 

 

Aniversario em 17/11 e no dia seguinte, tomo um rumo e Fortaleza ficará com menos uma criatura a reclamar da falta de amor pelas dunas da Sabiaguaba e de prefeitos bocós. Ou de políticos "negros" feito Cirilo Gomes (lembra da novelinha mexicana Carrossel?).

Daqui a pouco, o paulista-sobralense se autodeclarará também mulher ou homem trans. E com todo o direito, claro, mas não cola só porque é um candidato em desespero à presidência do Brasil. Seja feliz, vá para Paris e novamente permita que Bolsonaro se eleja.

Sim, fico por aqui até os 85 anos. Está marcado. Aos 85 anos e um dia, sigo para a ponte onde existia a Femme Bateau, do Sérvulo Esmeraldo, pulo nas águas de Iracema e parto de braçadas em direção ao pôr do sol.

 

Nadar e nadar até virar peixe ou sereia depois da rebentação, longe. Sem dar trabalho a ninguém. Terão somente de sentir alguma saudade

 

Vou partir a geleira azul da inquietação e buscar a mão do mar. Mando garrafas de náufragos, com bilhetes de amor, para quem quero bem até o dia em que a caneta não morrer com a maresia do Atlântico.

Vou ouvir, antes de passar do Mara Hope, Elis, Milton e Zizi rezando "Corsário". O João Bosco também. Nadar e nadar até virar peixe ou sereia depois da rebentação, longe. Sem dar trabalho a ninguém. Terão somente de sentir alguma saudade. Os mais próximos e íntimos.

Irei pelo mar exatamente porque tenho um medo dele. Criatura gigantesca, plantas e bichos coloridos. Borboletas marítimas e peixes que se transformam em lua cheia. Já vi um no oceanário de Lisboa e fiquei impressionado com a arrogância antropocêntrica.

 

Faz-se de conta que a duna não existe. E todo ano a mesma história tantas vezes lida. Os ventos sopram forte do mar e a duna, naturalmente, se move

 

Um bicho indizível daqueles e um mergulhador italiano querendo porque querendo que a criatura de 3,3 metros de altura tivesse uma "utilidade" no oceano. Estúpido é o idiota chamando o peixe-lua de estúpido.

O peixe-lua existe e basta. É pensar igual aos néscios do meio ambiente da prefeitura de Fortaleza, do governo do Ceará, da Justiça cearense e do próprio Ministério Público. A duna mãe da Sabiaguaba está sendo destruída e não se toma nenhuma providência.

Faz-se de conta que a duna não existe. E todo ano a mesma história tantas vezes lida. Agosto chega, setembro vem, os ventos sopram forte do mar e a duna, naturalmente, se move. E o governo do Ceará, com a conivência da Prefeitura de Fortaleza e da Justiça, retira a areia dali. O Ministério Público precisa sair do silêncio.

A duna da Sabiaguaba está diminuindo, não tem mais vegetação na parte pisoteada e vai desaparecer. Ela bem que poderia se jogar no mar e permitir que o Atlântico inundasse tudo ali. Assim, talvez, deixassem de matá-la porque não tem "utilidade" para Fortaleza.

 

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