Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.
Enquanto eu inventava uma tapioca regada à raspa de coco fresco, pensava sobre a violência contra a jornalista Vera Magalhães.
Também refletia sobre a abordagem de alguns textos opinativos referentes ao ataque de um bolsonarista contra uma mulher.
No geral, os articulistas foram solidários, mas sempre atachados a um porém. Derraparam em argumentos também escrotos contra a comentarista da Rádio O POVO/CBN e apresentadora do Roda Viva.
Os opinadores escavaram a atuação de Vera Magalhães durante o período da Lava Jato. Exumaram a opinião dela em relação ao PT, a Lula, à Dilma, a Moro
Dos artigos que li, todos foram contra o ato covarde do deputado de São Paulo. Não havia como não ser. Ele vomitou mentiras contra a repórter e ainda a filmou para fazer média com gente ruim que se alimenta da maldade.
Os opinadores escavaram a atuação de Vera Magalhães durante o período da Lava Jato. Exumaram a opinião dela em relação ao PT, a Lula, à Dilma, a Moro e sobre fatos da história recente da política brasileira.
Alguns articulistas descambaram para o sofisma de que a jornalista estaria sendo alvo de ataques bolsonaristas porque, no passado não tão longe, ela teria sido conivente ao falar, escrever ou silenciar sobre as artimanhas golpistas que deram no obscurantismo atual.
Bolsonaro sendo o que ele é, não somente reforçou seu machismo ao destratar Vera Magalhães no debate entre presidenciáveis
Posso não gostar da atuação de Vera Magalhães no passado ou agora, mas jamais poderei cair na armadilha de justificar qualquer ato de violência contra a jornalista, ou contra quem quer que seja, porque discordo da opinião alheia.
Bolsonaro sendo o que ele é, não somente reforçou seu machismo ao destratar Vera Magalhães no debate entre presidenciáveis. Parece caso pensado. Depois dali, "cidadãos de bem", milicianos e um "povo de Deus" cruel passaram a persegui-la pela internet e até no patético 7 de Setembro.
Ora, contra a imprensa, contra o jornalismo, sempre haverá quem se incomode com a informação amarrada numa apuração responsável. E se o jornalista, o repórter ou a empresa de comunicação erram ou, propositalmente, desvirtuam o que é fato, o caminho é a Justiça.
É processar quem usou do exercício da profissão de reportar para cometer crime ou obter vantagem.
O que não pode ser legitimado é apupar mais violência além do que já herdamos desde as invasões dos bárbaros europeus. Basta de mais brutalidade incentivada por um presidente da República sem escrúpulo.
Em qualquer governo democrático, o jornalismo tem de ser praticado de maneira plena e como prevê a Constituição
Outra bobagem que li, foi alguém desejar que Luiz Inácio Lula da Silva seja eleito para que, somente assim, Vera Magalhães volte a ter liberdade para exercer o jornalismo sem ataques extremados. Um equívoco a condicionante.
Em qualquer governo democrático, o jornalismo tem de ser praticado de maneira plena e como prevê a Constituição. Inclusive no de Bolsonaro.
Bolsonaro é eficiente na contaminação de néscios em favor da violência. É capaz de fazer o xucro de um deputado do Ceará, que se vende como rezador do Terço do Homens em Fátima, ameaçar eleitores de Lula, na bala, caso o o falso mito perca a eleição.
Em nome do "amor e da paz", pediu aos apoiadores que se desviassem da violência alimentada pelo presidente que ele ajudou eleger
Outro absurdo. O bolsonarista Capitão Wagner, durante uma entrevista ao repórter Eliomar de Lima, disse ter orientado a militância a não atacar jornalistas.
Em nome do "amor e da paz", pediu aos apoiadores que se desviassem da violência alimentada pelo presidente que ele ajudou eleger. Se pede, é porque conhece com quem esta lidando.
Vera Magalhães, milhares de mulheres, milhares de jornalistas e repórteres, milhares de negros, milhares de homossexuais, milhares de pobres, milhares de familiares de mortos pela Covid-19... vêm sendo atacados desde 2018. Mas a eleição está nas biqueiras de acontecer.
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