Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.
No domingo que se foi, fiz uma narrativa bem mais perto do que definem ser uma crônica. Despi-me das encruzilhadas do jornalismo e fui revisitar memórias do meio da rua. Tive vontade de escrever sobre instintos, foi o que veio.
A crônica, primeiro, faz bem para quem escreve. Talvez. Depois, sai pulando muro de quintais e pode até afetar alguém. Nem sempre abraça a leitora ou o leitor. Muitas vezes, as besteiras de um cronista estão muito no umbigo dele, no que foi derramado na sala de terapia ou na mesa de bar.
E é nessa esquina, onde o texto é concebido, que algum leitor poderá cruzar a vida dele com a vidinha do cronista. Quanto mais íntimo o mergulho de quem está inventando um texto, tenho a impressão, mais quem está lendo poderá se inscrever também.
Ter textos aperreando o juízo é horrível e ótimo. Até dá um tesão o abodego, o farnesim, mas não é humano
Crônicas, minhas amigas e amigos, não é jornalismo. Mesmo que digam ser porque é publicada nas páginas de um periódico de papel ou digital. E acertar escrever uma crônica, que entre no corpo da gente, não será sempre.
Hoje, queria escrever, ao mesmo tempo, sobre três assuntos, mas é pulverizar demais e arriscar falar sobre nada. Os três, porém, me atazanaram a semana.
Ter textos aperreando o juízo é horrível e ótimo. Até dá um tesão o abodego, o farnesim, mas não é humano.
E ainda bem que não é humano. Quanto mais puder me afastar dessa condição arrogante sobre o que existe na Terra, melhor. Não me interessa mais ser um humano assim feito esse povo inexplicável que se incendeia em praça pública por causa de Bolsonaro ou de Lula.
E nem são relatos novos, não. Permanecem cruéis há séculos. Os europeus invasores fizeram isso durante as navegações criminosas
Não dá, não há compreensão, ter ainda "ser humano" achando que as notícias sobre o flagelo yanomami são mentirosas e partem da articulação da "imprensa vagabunda".
E nem são relatos novos, não. Permanecem cruéis há séculos. Os europeus invasores - portugueses, espanhóis, franceses, ingleses, holandeses - fizeram isso durante o achaque das grandes navegações criminosas.
Estupraram, saquearam, escravizaram, garimparam, desmataram, incendiaram e dizimaram a maior parte dos povos indígenas e as terras. Fizeram pior, conseguiram perpetuar uma mentalidade que ainda persiste.
Até achava interessantes algumas bandeiras levantadas por ele. Um rico preocupado não somente com o próprio umbigo
Não é compreensível tamanha ruindade e ainda ter "ser humano" bolsonarista ou bolsonarista pela metade. Lembro, por exemplo, quando Luís Eduardo Girão entrava pela Redação do O POVO a defender pautas "humanistas". Ainda não era senador.
Até achava interessantes algumas bandeiras levantadas por ele. Um rico preocupado não somente com o próprio umbigo e com os lucros da empresa de segurança privada.
Eduardo Girão foi a favor do desarmamento, pela vida em abundância. Depois, votou em Bolsonaro e continua votando em bolsonarista. Incompreensível.
Perdi o fio da meada. Talvez porque entrei na ruindade humana e me labirinto.
Vou terminar a crônica com ínfimos do discurso de posse do probo desembargador Abelardo Benevides na presidência do Tribunal de Justiça.
Falou contra o corporativismo, a leniência e o patrimonialismo no judiciário e de juízes
Foi a primeira vez que fui para uma solenidade do gênero, nunca me atraiu o beija mão. A não ser de meus avós, de minha mãe e de um amor.
Falou contra o corporativismo, a leniência e o patrimonialismo no judiciário e de juízes.
Completou com o imperativo por uma justiça como instrumento social e confessou, como juiz, "ter vergonha da matança de mulheres no Ceará".
Pois que lute e faça os "machos" experimentarem sobreviver feito uma garota. Desejo perseverança.
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