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Inteirei 57 anos de existência. Nem sabia que duraria tanto, minha tia Auxiliadora tinha medo de eu não vingar. Ainda pelejo. Falta de noção, mesmo, do porvir. E, também, não me interessar sobre quando eu for. A experiência é alheia e acasos.

Confusa será esta crônica, aviso logo. Ultimamente, os pensamentos me azucrinam desmedido. Tenho divergências com as "normalidades", as coisas. Quase todo dia, peço que à noite venha logo. Um escafandro me atache, uma morte impermanente até perto do amanhecer.

Ando a viver, presentemente, querendo zerar pelo menos o que vivi de gastura enquanto tinha sol. Por exemplo, a carnificina covarde de Israel com os palestinos. Destruição de crianças, infâncias e brinquedos.

 

Não posso desejar que no futuro, se existir para as meninas e meninos palestinos, eles não suportem a existência de um israelense

 

Bombardear o gato! O peixinho que tinha acabado de trocar a água! Derrubar a árvore que eles subiam! Incendiar as fotografias dos avós que já haviam ido?

Ando aperreado do juízo e andando entre ruínas.

 

A rua onde nasceram não existe mais. O supermercado sumiu, a banca de revista é ruína

 

Meus pensamentos andam acossados. Imagine o dos meninos que perderam irmãs em Gaza? Que tiveram de fugir durante uma noite aterrorizada por drones?

A noite geralmente traz dráculas para as infâncias... e bombas.

A rua onde nasceram não existe mais. O supermercado sumiu, a banca de revista (se é que lá ainda tinha essa tradição decadente e inesquecível) é ruína, a escova de dente... o celular com jogos oferecendo mortos ressuscitados.

 

Imagine o ódio de meninas e meninos que perderam um braço, os dedos da mão, o olho esquerdo, o sorriso

 

O Youtube, o twitter, o whatsapp, o violento slap battles de bater e levar de volta... Israel e seus soldados destruindo tudo das crianças palestinas. Netanyahu é um infeliz.

Imagine o ódio de meninas e meninos que perderam um braço, os dedos da mão, o olho esquerdo, os cabelos, o sorriso, as memórias? Por enquanto estão no medo extremo de terem perdido que o existiu...

No próximo ano se completarão 60 anos que Castelo Branco e um bando de arrogantes desapareceram com a vida de milhares de garotas e garotos. Tiraram por 21 anos o direito de minha geração votar num presidente.

 

Seis ditadores e 21 anos de destruição de infâncias, adolescências e juventudes. E ainda há ruas com o nome desse povo

 

Eu tinha dois anos quando a ditadura de extrema-direita entrou na marra nas casas do Porangabuçu e se alastrou disfarçada e escancarada pelo resto dos bairros. Por debaixo da porta, feito Nosferatu.

Castelo, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo. Vinte e um anos de destruição de infâncias, adolescências e juventudes. E ainda há ruas com o nome desse povo, centro sociais, avenidas, escolas, quartéis, mausoléu e auditórios.

Não leio ruas, nem postos de saúde, nem palácios do governo com os nomes de Jana Barroso, Teodoro de Castro, Custódio Saraiva, Bergson Gurjão... pode ser uma besteira (acho que é), mas é ter ali para não esfacelar mais ainda. Não deixar que se apague por causa da memória imposta.

 

Imaginou não ter aquele bolo besta de chocolate, os abraços apertados, o é pic-é-pic-é-pic...

 

Sim, este texto seria para falar (lembrei agora) sobre "aniversários" de novembro. O direito de comemorar aniversários das crianças palestinas, de qualquer mês. Imaginou não ter aquele bolo besta de chocolate, os abraços apertados, o é pic-é-pic-é-pic... as lembrancinhas fuleiras e as crianças desejosas na fila?

Israel tirou esse direito dos palestinos... aniversariar. Os ditadores daqui tiraram a vez dos filhos de Jana, de Teodoro, de Custódio, de Bergson...

 

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