Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.
Por que trouxe uma cria dos "Cem Anos de Solidão"? Não sei. Talvez, porque pense na metáfora dos quartos infinitos como algo ainda por decifrar no dia a dia de cada um. O tal inacabado particular que nos peleja, nos columeia e ruge
A um amigo querido, Danilo Patrício, toda a empatia que se tiver. Já explico por que venho com uma crônica sobre amizade e solidariedade pra esse moço. Verdade, tenho o privilégio de usar um espaço caro do jornalismo e do O POVO para escrever o que achar que devo.
É o que o destino me deu até aqui e recebo e distribuo feito informação, prosa poética ou qualquer outra manifestação do corpo-jornalista que também atua em mim feito cavalo quando os tambores percutem.
O rapaz jornalista, pesquisador e extraterrestre dos sertões de Quixeramobim e de Antônio Conselheiro, teve um inesperado na saúde e a luz de seus olhos estão enfrentando uma delicadeza. É um caso raro na história do enxergar e o risco tênue de deixar de ver.
É quando estamos em casa, tomando café depois de uma noite de percursos, e algo nos assalta para mudar rumo no sopapo
Uma síndrome que não vou me aprofundar, sei que vem de uma falha inabitual de mitocôndria de herança genética. Neuropatia Óptica Hereditária de Leber. Dessas histórias que chegam tsunami na vida da gente e dos outros.
É quando estamos em casa, tomando café depois de uma noite de sonhos e percursos, e algo nos assalta para mudar rumo no sopapo. Vivi isso quando uma bactéria comeu 80% de um tímpano e entrei numa jornada de interrogações e buscas. Acho que superei.
Mas são extemporâneos, repentes na rotina efêmera... Vi isso também com uma ex-companheira amada, a Virgínia - mãe de nossos três filhos, que do "nada" recebeu a contramão de um exame besta de sangue. E lá estava uma leucemia aguda e um redemoinho nos dias e sem escolha.
Há muitos repentinos ao derredor da gente e vamos nos abismando, tentando ser, minimamente, empáticos com o aperreio alheio
Virgínia está vivendo cada dia um dia. É clichê, mas é isso mesmo e, talvez, a rede de bem-querência ao redor dela a faça seguir, encruzilhar e relampejar um amanhecer atrás do outro. Pois.
Há muitos repentinos ao derredor da gente e vamos nos abismando, tentando ser, minimamente, empáticos com o aperreio alheio. Oswald Barroso também é notícia de um itinerário de sobrevivência e o corpo dele cheio de teatros e sertões também, feito Danilo Patrício. Há quem cuide afetuosamente deles.
Falo de quem está na minha convivência, muitas vezes em desculpas pelos desencontros por aí e a preguiça, a leniência, a mudança de endereço, o cansaço do trabalho, a depressão, os recolhimentos e mil coisas que vão nos fiando a existência. Falo também de quem nem imagino conhecer.
Porque desceu de um disco voador em Quixeramobim e decidiu invadir Fortaleza, São Paulo, Canudos e outras andanças
Sobre Danilo Patrício é um ser extraterrestre do Sertão Central, nunca será vítima. Porque desceu de um disco voador em Quixeramobim e decidiu invadir Fortaleza, São Paulo, Canudos, o Benfica e outras andanças. Tem a benção de Viviane Lima, Gilmar de Carvalho, Agostinho Gósson, Ronaldo Salgado e Osvaldinho.
Sei que a escrita que me toma é um desvão, é estranha por vezes. E por isso, me lembrei de alguém que me leu José Arcádio Buendía. Homem que sonhava entrando em quartos infinitos. Passava de um para o outro exatamente igual e, depois, para outro exatamente igual até o infinito. Ele se consolava com o sonho dos quartos infinitos.
Sonhava que se levantava da cama, abria a porta e passava para outro quarto igual, com a mesma cama de cabeceira de ferro batido, mesma poltrona de vime e mesmo quadrinho da Virgem dos Remédios na parede dos fundos... É Gabriel García Marquez.
Danilo Patrício terá de ir aos EUA para esperançar, é a nossa tentativa de tanger o que nos fere o corpo transitório
Por que trouxe uma cria dos "Cem Anos de Solidão"? Não sei. Talvez, porque pense na metáfora dos quartos infinitos como algo ainda por decifrar no dia a dia de cada um. O tal inacabado particular que nos peleja, nos columeia e ruge. E vamos em ruínas, tempestades silenciosas e revoadas avoantes.
Danilo Patrício terá de ir aos EUA para esperançar, é a nossa tentativa de tanger o que nos fere o corpo transitório que amamos e encontramos templo nele.
Pois quem desejar e puder contribuir com seu voo, o Pix é 77002300300 (CPF), em nome de Marco Antônio Ximenes Paiva, banco Bradesco.
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