Demitri Túlio é editor-adjunto do Núcleo de Audiovisual do O POVO, além de ser cronista da Casa. É vencedor de mais de 40 prêmios de jornalsimo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. Também é autor de teatro e de literatura infantil, com mais de 10 publicações
Está entre as 884 páginas do relatório feito pela Polícia Federal sobre o planejamento, o início de execução factível do golpe e o abortamento da operação "Copa 2022" - traçada principalmente pelo general do Exército Mário Fernandes.
Mário era o secretário executivo da Secretária-geral da Presidência da República e ex-comandante dos Kids Pretos.
"Moraes quebrou o sigilo do documento e escancarou como agiram os "homens de bem" e "cristãos" do cercado bolsonarista"
Para que ninguém duvidasse e, também, para evitar o "fogo amigo" na Procuradoria Geral da República em Brasília, Alexandre Moraes quebrou o sigilo do documento e escancarou como agiram os "homens de bem" e "cristãos" do cercado bolsonarista.
O ardil golpista está esquadrinhado a partir de provas testemunhais, da extração de dados de celulares, da apreensão de HDs de computadores, de documentos interceptados e do que sempre esteve explícito nos discursos bolsonaristas antes e depois da eleição de Lula e Alckmin.
Pois foi! Fui contar no documento da Polícia Federal quantas vezes as palavras "assassinato" e a correlata "morte" tinham sido grafadas. E qual a significância para a investigação no conciliábulo de quem sempre fez apologia à ditadura militar e a torturadores.
"Não bastava para Bolsonaro e seus capangas "neutralizarem" Alexandre Moraes. Matá-lo era o objetivo"
Apenas em uma das vezes, na página 803, não se referem a intenção de "extinguir" Alexandre Moraes, Lula e Alckmin. Citam um episódio envolvendo o nome do delegado Fábio Alvarez Shor e o vocábulo "assassinato" surge em outro contexto.
Pois sim, não bastava para Bolsonaro e seus capangas "neutralizarem" Alexandre Moraes. Matá-lo era o objetivo e com previsão de "efeitos colaterais". Circunstâncias "aceitáveis 100%" quando os seguranças do ministro do STF reagissem ao ataque dos golpistas.
"se previa também a baixa eventual de alguns dos seis militares do Exército que espreitaram Moraes"
Na página 455 do relatório, os delegados descrevem que no "planejamento terrorista" de Bolsonaro, de Mário Fernandes e de outros sequazes, se previa também a baixa eventual de alguns dos seis militares do Exército que espreitaram Moraes.
Claro, era uma possibilidade concreta em meio à subversão do Estado Democrático de Direito e um contra-ataque às "ações clandestinas". Todo mundo exposto.
No dia 15 de dezembro de 2022, a investigação revela que, a partir do planejamento operacional da "Punhal Verde Amarelo", seis militares "Kids Pretos" - apelido de integrantes do Centro de Instruções de Operações Especiais do Exército Brasileiro - estavam em Brasília para "prender ou executar o ministro Alexandre Moraes".
"Eles aguardavam ordens para interceptar Alexandre Moraes"
Não o fizeram porque a operação foi abortada. Os seis militares, comandados pelo major Rafael Martins de Oliveira, estavam rondando pontos estratégicos e caminhos de ida e vinda para o STF - onde se desenrolava uma sessão do Tribunal. Eles aguardavam ordens para interceptar Alexandre Moraes.
Havia previsão, no documento elaborado por Mário Fernandes, que a operação contra Moraes era de alto risco político e social. Daí o emprego dos Kids Pretos, que já haviam atuado nos atos golpistas que deram na invasão e depredação dos prédios dos três poderes em Brasília.
A apreensão do celular e a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, aia de Bolsonaro e peça-chave para a Polícia Federal, revelaram parte do plano golpista.
"O que era para ser sobre os crimes do Movimento Anticomunista do Ceará (MAC) ganhou proporção nacional"
Assassinar e desaparecer quem a extrema-direita brasileira elege como "inimigos" dos golpes sempre estiveram presentes na história do Brasil.
É do historiador Airton Farias uma pesquisa de pós-doutorado sobre atentados, ameaças, agressões e sequestros entre 1976-1985. O que era para ser sobre os crimes do Movimento Anticomunista do Ceará (MAC) ganhou proporção nacional.
De 1976 a 1985, a lista de atentados contra alvos políticos no Brasil - pessoas ou instituições - passa dos 400 atentados. Do caso do Rio Centro a planos para emboscar e assassinar, por exemplo, Leonel Brizola, Eduardo Suplicy, padres, freiras, artistas e estudantes e outros subversivos.
"Importante para entender o DNA golpista reativado na Era Bolsonaro"
O livro Explosões Conservadoras: atentados da extrema direita na abertura da ditadura civil-militar (1980-82), de Airton Farias, discute parte dessa história. Importante para entender o DNA golpista reativado na Era Bolsonaro e revelado, agora, com o plano de assassinato de Lula, Alckimin e Alexandre Moraes.
Quando Fernando Haddad perdeu para Bolsonaro, em 2018, a esquerda brasileira não arquitetou nem pôs na rua "matadores" para tentar assassinar Bolsonaro, Hamilton Mourão e nenhum ministro do STF.
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