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Adriana Partimpim homenageia Rita Lee e Gal Costa em novo disco
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Adriana Partimpim homenageia Rita Lee e Gal Costa em novo disco

Heterônimo de Calcanhotto, Adriana Partimpim comemora 20 anos com disco que fala sobre lendas, fantasias e crise climática
Tipo Notícia
Adriana Calcanhotto lança quarto volume da série Partimpim
 (Foto: LEO AVERSA/ Divulgação)
Foto: LEO AVERSA/ Divulgação Adriana Calcanhotto lança quarto volume da série Partimpim

Quando, há 20 anos, Adriana Calcanhotto propôs à gravadora um disco infantil ouviu um sonoro "não" como resposta. Não sendo (mais) loira e sem ter um programa de TV, o projeto foi considerado fora de cogitação. Até ali com cinco discos lançados, ela já havia abordado amores feitos e desfeitos, e lançado um olhar sensível sobre diversas questões brasileiras. Também havia partido para outra estação, ameaçado quebrar xícaras e enganar o diabo, aberto uma fábrica de poemas e proposto uma degustação coletiva de Caetano Veloso. Por que raios ela queria agora cantar para crianças? Mas a ideia ia mais adiante: era falar com diversos públicos a partir do universo infantil.

A gravadora BMG embarcou na ideia e, surpreendentemente, "Adriana Partimpim" foi um sucesso estrondoso puxado, principalmente, pela "versão -18" de "Fico assim sem você", da dupla Claudinho & Buchecha. "E a minha ideia desde o início era poder ter uma discografia. Não era fazer um disco só", conta Adriana Calcanhotto, que comemora os 20 anos do heterônimo com um novo volume. "E quando eu fiz o 'Tlês' (2012), eu sabia que o próximo seria o 'O Quarto'. Na hora, eu já sabia que se chamaria assim porque é meio irresistível, né? Como eu digo, o quarto é o lugar para onde as crianças vão quando se diz 'tirem as crianças da sala'", brinca ela em entrevista ao Discografia.

Nos 12 anos que separam "Tlês" de "O Quarto", Partimpim descansou enquanto Calcanhotto atravessou uma pandemia, passou uma temporada estudando em Portugal, lançou três discos de estúdio e mais três ao vivo. Para manter essa porção criança, a gaúcha que completou 59 anos no último dia 3 ia alimentando uma lista de canções que teriam a ver com o universo da Partimpim e que poderiam render um novo disco. Foi aí que Calcanhotto ouviu o disco "Xande canta Caetano", de Xande de Pilares. "Eu disse: 'É isso aí que é o Partimpim'", relembra ela que se apaixonou pela sonoridade e decidiu trazer para perto o músico e produtor Pretinho da Serrinha.

O mais curto da série ("o tempo de atenção do mundo, das crianças e dos adultos está menor. Então, o papo é mais reto, mais direto. É sem enfeites"), "O Quarto" vem com oito músicas, entre inéditas e regravações dos mais diferentes universos. Tem "Tô Bem", viral da banda Jovem Dionísio que Calcanhotto conheceu em um post no Instagram, e "Atlântida", composição de Rita Lee lançada em 1981 e que está na "Lista da Partimpim" desde o começo. Rita também é lembrada em "O bode e a cabra", versão non sense de "I Wanna hold your hands", dos Beatles, que a rainha do rock regravou no show em que se dedicou ao repertório do quarteto inglês - a versão é de Renato Barros, lá dos anos 1960, feita para Renato e Seus Blue Caps.

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Mas Partimpim também sabe falar sério. Por insistência de Pretinho da Serrinha, Adriana incluiu no repertório "Malala", faixa que ela fez a convite para um espetáculo infantil sobre a ativista paquistanesa. Nessa mesma linha, ela faz uma dupla homenagem em "Estrela Estrela", composição do gaúcho Vitor Ramil, que ela incluiu como uma forma de relembrar as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul no início deste ano. "Foi um momento duro do disco. Eu tinha que sair de casa com aquilo acontecendo e vendo lá meu povo naquela situação. Tinha que ir para o estúdio cantar a Partimpim. Foi difícil", conta ela, que também celebra a memória de Gal Costa na faixa gravada pela baiana em 1981. "Eu pensei isso, porque tem a Rita no disco. E pensei 'é um jeito de ter um pouquinho da Gal'. E fiquei contente de ela também estar", lembra Adriana, que fez uma curta série de shows com o repertório de Gal Costa em 2023. "Foi demais ter feito o show. No mínimo, foi um jeito de atravessar o luto da Gal de uma forma mais positiva. Estava muito estranho e eu acho que as pessoas ficaram gratas", comemora.

Fã de Fernando Pessoa, Adriana Calcanhotto pode se orgulhar de ter seu próprio heterônimo. Tanto que eventualmente ela se refere à Partimpim em terceira pessoa. "Ela não chega a desaparecer, não. O que eu não consigo é conciliar as duas em 'on', né? Então, quando uma está lançando uma coisa, a outra tem que estar parada", divide-se Calcanhotto, que vê papeis diferentes para cada uma. "Eu acho que elas se retroalimentam. Mas tem coisas que talvez a Calcanhoto não precise mais se preocupar porque aquilo já está sendo está colocado, é departamento da Partimpim, sabe?", acrescenta, colocando o público como cúmplice de sua porção menor. "Ela tem uma escuta. Ela ouve que aquilo estava falando com as crianças, não importa a idade da criança, mas está falando com uma criança que a gente pode ter dentro ou que é criança no momento. E é uma escuta subjetiva. Eu escuto uma canção que está dizendo que 'o mundo é dos que sonham e toda a lenda é pura verdade'. Acreditem nisso! Embora isso esteja num repertório lá de Rita Lee, adulto, rock, pop e tal, mas se as crianças ouvirem isso, elas vão ouvir de uma forma. Esse verso fica mais potente quando ele é acreditado pelas crianças".

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MPB para menores

Com o sucesso do projeto "Partimpim", o mercado de música infantil ganhou novos projetos feitos por estrelas da "música adulta". A seguir alguns deles:

Bichos esquisitos

Zeca Baleiro não perde uma onda e com o infantil não foi diferente. Em 2014, ele reuniu um grande time em "Bichos Esquisitos Vol.1", de MPB-4 a Tetê Espíndola. Ficou só no primeiro volume mesmo, mas, em 2018, ele lançou o EP "Zureta".

Cantos de Casa

Uma das grandes estrelas brasileiras da cena jazz, Badi Assad também se viu atraída pelo universo da música infantil quando nasceu sua filha Sofia. De dezenas de composições, ela tirou 12 para o álbum lançado em 2014.

Música de Brinquedo

O Pato Fu quase acaba quando John chegou ao estúdio com um monte de instrumentos de brinquedo para gravar um disco. Todo feito de versões que vão de Zé Ramalho a Tim Maia, com destaque para os vocais em "Live and let die". Rendeu um segundo volume.

A casa Amarela

Do trio elétrico ao parque de diversões, Ivete Sangalo chamou Saulo Fernandes, então vocalista da Banda Eva, para compor e gravar um disco infantil. Indicado ao Grammy, o álbum conta com o "Funk do Xixi" e participação de Xuxa.

Pequeno Cidadão

Representantes do rock nacional, Arnaldo Antunes (Titãs), Edgard Scandurra (Ira!) e Taciana Barros (Gang 90) se uniram ao compositor de trilhas de cinema e filho do Ziraldo, Antonio Pinto, para falar sobre chupeta, futebol no recreio e temas afins.

Alegria

Certamente o mais original da lista. O bandolinista Hamilton de Holanda e a Orquestra do Estado do Mato Grosso se uniram para interpretar composições feitas para desenhos animados e videogames. Tudo instrumental!

Foto do Marcos Sampaio

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