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André Fernandes depois de um dia carregado
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

André Fernandes depois de um dia carregado

Tipo Opinião
Deputado André Fernandes (Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita Deputado André Fernandes

Dias de punições a deputados são tristes e carregados. Haver divergência é a razão de existir de um colegiado. Se fosse para pensarem todos igual, bastava uma pessoa para decidir. Quem está lá foi colocado pelo voto popular. Foi eleito para representar determinadas ideias, pensamentos, interesses. No caso, André Fernandes (Republicanos) foi o mais votado do Ceará. Interromper um mandato - em definitivo ou, como é o caso, temporariamente - é afetar essa representação. Acaba mexendo com um dos fundamentos da democracia.

O que não significa que punições não sejam cabíveis, mesmo necessárias. André Fernandes errou e admitiu que errou. Aliás, as opiniões ontem sobre o que aconteceu eram muito parecidas. Ninguém disse que Fernandes não errou. Nem ele. Nem o advogado dele. As opiniões, de um lado, eram de que ele já aprendeu a lição, já se arrependeu. De outro, que foi sério demais e não pode passar batido. Que ele tem demonstrado que não mudou de postura, portanto não se arrependeu mesmo.

Os discursos em defesa de Fernandes eram muito mais convictos que os contra ele. Fernandes, com toda divergência que se tenha dele, não é Sérgio Benevides, último deputado punido por desvio de recursos da merenda escolar, veja só. Quem era pela punição ontem parecia acanhado. Carlos Felipe (PCdoB), dos poucos votos pela suspensão a se manifestar, mostrou justamente sua hesitação. Ressaltou que acha a suspensão uma pena excessivamente dura para a falta. Mas entende também que não pode deixar o delito sem castigo.

Vários deputados demonstravam hesitação. O fato de Fernandes não ter tornado público o nome de Nezinho Farias (PDT) pesava a favor dele. Chegou a se emocionar. Disse que mantinha o pedido de desculpas a Nezinho. Porém confirmada a decisão, Fernandes explodiu. Fez discurso furioso. Atacou Elmano de Freitas (PT), relembrou insinuação feita em 2018 sobre uso de drogas, ao ouvir piada de Cid Gomes (PDT). Fernando Hugo (PP) até tentou contê-lo, sem sucesso. A fala foi um despropósito. Sinalizou tom de guerra quando retornar, daqui a 30 dias.

Alguns deram o desconto da emoção do momento. Outros tiveram a certeza de que Fernandes não aprendeu nada, tomará a punição como afronta, perseguição e motivo para ser ainda mais André Fernandes.

Conjunto da obra

Pesou contra Fernandes o "conjunto da obra". Fosse apenas o episódio em si pelo qual foi julgado, tendo a concordar com Carlos Felipe: a pena é dura demais. Porém, o comportamento de Fernandes antes e sobretudo depois fez muitos deputados votarem pela suspensão.

Dia excêntrico

A sessão de ontem foi tumultuada e muito tensa. Alguns deputados dormiram por lá para marcar a vez de falar. Um deles foi Leonardo Araújo, um dos quatro parlamentares alvos de representação. Logo no início, foi à tribunal e disparou acusações contra seu adversário Domingos Filho (PSD) e a família dele. A deputada Patrícia Aguiar (PSD), casada com Domingos, teve direito de resposta. A sessão mal havia começado.

O que virá

Há mais quatro representações na Assembleia. Uma é novamente contra Fernandes. Quanto aos outros deputados, Fernandes já iniciou ontem a pressão: será que quem o puniu irá inocentar outros por situações parecidas? Se Fernandes tivesse sido inocentado, seria a senha de que todo mundo iria escapar. A punição de ontem aumenta as chances de haver outros casos.

Quanto ao novo caso contra Fernandes, dependerá muito da postura dele de agora em diante. A depender, é possível que uma eventual tese de cassação ganhe corpo. Mas a maioria não foi folgada - cinco votos além do mínimo.

 

Foto do Érico Firmo

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