Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
José Sarto (PDT) terá 4 minutos no horário eleitoral de rádio e televisão. É praticamente o que têm somados quatro dos principais adversários, aqueles que já disputaram eleições majoritárias. Capitão Wagner (Pros, 1min30seg), Luizianne Lins (PT, 1min11seg), Heitor Férrer (Solidariedade, 1min2seg) e Renato Roseno (Psol, 18 segundos) têm somados 1 segundo a mais que Sarto sozinho.
A questão é: propaganda de rádio e televisão ainda faz diferença? A campanha de Jair Bolsonaro, em 2018, colocou essa interrogação. Bolsonaro tinha 8 segundos. Geraldo Alckmin tinha 41 vezes e meia o tempo dele. Bolsonaro é presidente e Alckmin foi um fiasco.
A candidatura de Sarto aposta que o rádio e a televisão, numa campanha de capital, ainda serão determinantes. Acredita que esse tempo irá impulsioná-lo até o segundo turno. Desde ontem à noite, com o diagnóstico de Covid-19 do candidato, os programas terão importância maior ainda.
A eleição de Bolsonaro foi um fenômeno específico ou a nova regra? A resposta a essa pergunta poderá determinar o resultado da eleição em Fortaleza. Tenho algumas impressões: 1) A TV e o rádio hoje têm menos peso do que já tiveram. Mas, ainda têm peso. 2) Nenhum candidato vence eleição majoritária sem forte trabalho de redes sociais. Mas, elas não decidem sozinhas. 3) A eleição de Bolsonaro foi um fenômeno muito particular. Não me parece que seja a regra. Em resumo, TV, rádio e redes sociais formam um conjunto que precisa ser trabalhado em campanha. Não se vence eleição por um caminho só.
A campanha de Bolsonaro é vista como divisor de águas, e foi mesmo. Mas, fala-se como se antes a TV fosse absoluta e depois passasse a não valer nada. Ocorre que já houve muitos casos de candidato com pouco tempo superar quem tinha muito tempo. Por exemplo, Maria Luiza Fontenele em Fortaleza, em 1985. Em 2000, Inácio Arruda (PCdoB) foi ao segundo turno com muito menos tempo que Patrícia Saboya. Em 2002, José Airton Cirilo (PT) tinha tempo muito menor e foi ao segundo turno na disputa pelo Governo do Estado. Em eleição presidencial, o tempo no horário eleitoral era bem maior. Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva foram ao segundo turno cada um com 10 minutos no rádio e na televisão. Mas o tempo maior era do Ulysses Guimarães, que tinha 22 minutos. Aureliano Chaves tinha 18 minutos. Ulysses ficou em sétimo lugar, com menos de 5%. Aureliano foi nono e não teve nem 1%.
O que eu quero dizer? Que rádio e televisão, apenas, nunca venceram eleição. Isso muito antes do Bolsonaro. Agora, também ajudaram a eleger muita gente. Tempos muito maiores já tornaram competitivos candidatos que, em condições igualitárias, não teriam chances. Hoje, o peso da propaganda televisiva e radiofônica ainda existe, mas ficou menor. Quão menor? A campanha dirá. E em Fortaleza não necessariamente será igual a São Paulo, ou a Quixelô.
Sarto com Covid-19
O diagnóstico de coronavírus de José Sarto é importante do ponto de vista da saúde antes da política. O candidato tem cumprido intensa agenda de compromissos e estado com muita gente. A chance de candidatos em campanha se tornarem propagadores da doença é enorme. Ontem mesmo, Sarto esteve num ambiente fechado em reunião com empresários. Visita estabelecimentos hospitalares, comércios, faz carreata. Ele está com diagnóstico positivo e outros candidatos correm risco igual. E as campanhas podem ajudar na propagação. Que o candidato se recupere e que as campanhas, todas elas, tirem lição e redobrem os cuidados.
Do ponto de vista político, para Sarto o diagnóstico é terrível. Precisará reforçar a campanha a distância. Para ele, que precisa crescer rápido, a estratégia terá de ser revista. Estava tendo carreata todo dia. Farão carreata sem candidato?
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