Lockdown em Fortaleza: a tentativa de evitar uma tragédia maior
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Fortaleza, o Ceará, o Brasil e o mundo vivem um triste tempo. É terrível que a capital cearense tenha de voltar ao lockdown. Ninguém gostaria disso. Mas não é essa a causa da tristeza. Essa é uma tentativa de resposta ao problema em si, que é a pandemia. É uma decisão que nitidamente veio sendo adiada. O Brasil contabilizou ontem inacreditáveis 1.910 mortos. Teve gente mais indignada com o decreto de lockdown que com esse número. Aliás, teve gente indignada com o lockdown que não ligou para esse número.
Por que Fortaleza entrará amanhã em lockdown? Por uma série de motivos em cadeia: o número de casos de Covid-19 cresce, a gravidade deles aumenta e a rede hospitalar está saturada. Esse é o indicador que os governos acompanham mais de perto: há leitos hospitalares, há UTIs para atender os pacientes? A situação é limite. Há já espera por leitos. Governante nenhum — nenhum — que esteja nessa gestão direta vai assistir à saturação da rede hospitalar sem tomar medidas para tentar evitar que pessoas morram à míngua. Obviamente vem à mente o presidente Jair Bolsonaro. Ele ontem disse que jamais decretaria lockdown, se dependesse dele. Mas ele não tem essa responsabilidade na ponta. Se tivesse, não digo nem que teria a sensibilidade, mas creio que algum auxiliar o alertaria para o sangue que teria nas mãos. Se não por humanismo, políticos agem por pragmatismo.
Fortaleza entrará em lockdown para que os hospitais não fiquem saturados, para evitar que a população fique sem atendimento. Alguém acha que seu negócio tem mais valor que isso? Entramos num momento muito difícil. Vivemos uma emergência. A maior crise de nosso tempo. Não a econômica. Essa é desdobramento. É a crise de saúde. Há muita gente nos hospitais, à espera de leitos ou enterrando seus entes queridos. Façamos tudo para que passe logo.
A crítica a Camilo e Sarto
A decisão anunciada pelo governador Camilo Santana (PT), pelo prefeito José Sarto (PDT) e pelo secretário da Saúde, Dr. Cabeto, tem sido bombardeada. Causa prejuízo econômico, social e emocional. Não cabem críticas ao que têm decidido as autoridades? Certamente decisões públicas estão submetidas a essa avaliação. E eu tenho, sim, críticas. Diferentes, por certo, da maioria das que têm sido feitas.
Camilo anunciou o aumento das restrições no fim de janeiro. Amplificou para o período desde antes até logo depois do Carnaval. Passada a folia que não houve, novas restrições, aprofundadas uma semana depois, até chegar à decisão limite. Sem fazer segredo, o governo tentou até aqui preservar as atividades econômicas. Até que não deu mais. Ontem, antes do anúncio, ele se reuniu com representantes empresariais.
Qual minha crítica a Camilo? Parece-me que foram sendo tentadas medidas paliativas, de menor impacto tanto negativo quanto positivo. E que foram se agravando cada vez mais. Parece-me que, se tivessem sido tomadas antes medidas mais duras, teríamos hoje um cenário melhor. Talvez não chegasse a quadro tão grave.
Entendo, todavia, a tentativa de preservar a economia. O impacto é enorme, com recessão e desemprego. Tem uma questão pragmática para o Estado: a arrecadação cai bastante. E tem o aspecto político, da enorme pressão. Ainda assim.
Se os críticos batem no governador, no prefeito, no secretário e no comitê pelas medidas que anunciam agora, minha crítica é por não terem adotado antes ações numa escalada que já se desenhava inevitável.
É análise política que você procura? Veio ao lugar certo. Acesse minha página
e clique no sino para receber notificações.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.