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A segunda família mais poderosa do Ceará
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

A segunda família mais poderosa do Ceará

Eleições suplementares de domingo fortalecem grupo que já tem peso e alimenta ambições no Estado
Tipo Opinião
Patrícia Aguiar, Domingos Neto e Domingos Filho: família ganha espaços e tem ambições (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Patrícia Aguiar, Domingos Neto e Domingos Filho: família ganha espaços e tem ambições

As eleições de domingo em Martinópole, Missão Velha e Pedra Branca não são o que se poderia chamar de um acontecimento capaz de desestabilizar a geopolítica no Ceará. São municípios, respectivamente, no Norte do Estado, no Cariri, ao sul, e no Sertão Central. Têm significa relevância em suas regiões. O maior deles é Pedra Branca, com 43 mil habitantes, seguido não de longe por Missão Velha, com 35 mil. Já Martinópole tem 11 mil. Sem demérito de nenhum deles, fosse uma eleição regular, ocorrendo também nos outros 181 municípios do Ceará, dificilmente eu estaria falando deles aqui. Não por irrelevância deles, mas pela concorrência e as atenções divididas. Ocorre que os eleitos em 2020 foram cassados e as eleições ocorreram domingo de forma suplementar. E as votações cresceram em relevância e repercussão. Chamaram atenção de líderes políticos estaduais e nacionais. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) gravou para a petista Fitinha. Mas, ela acabou ainda assim derrotada por Dr. Lorim (PDT), que teve o pedetista Ciro Gomes como cabo eleitoral. No Telegram, Flávio Bolsonaro, do Patriota, comentou o resultado dizendo que “Lula já era”. Obviamente, políticos estaduais entraram forte e concentraram suas atenções ali.

Chama atenção o desempenho dos aliados de Domingos Filho (PSD). A família Aguiar já havia saído das urnas em 2020 como segunda maior força em prefeituras no Ceará. A primeira são os Ferreira Gomes. O grupo dos dois Domingos, o Filho e o Neto, e de Patrícia Aguiar obteve vitórias em Missão Velha e Pedra Branca. O PSD tem 29 prefeitos, mas também aliados fora. Só não está mais forte porque a legenda perdeu Caucaia no ano passado.

Domingos já foi importante aliado de Eunício Oliveira (MDB) e virou presidente da Assembleia Legislativa no primeiro mandato de Cid Gomes (PDT) como governador. Os dois se entenderam tão bem que ele foi escolha pessoal de Cid para virar seu vice no segundo mandato. Em 2014, ficou contrariado quando Cid se recusou a transferir o governo para ele numa eventual desincompatibilização. Em 2016, veio o rompimento. Em 2018, voltou ao governismo. É hoje quem melhor transita entre a base aliada estadual e federal, que são antagônicas. O grupo está de olho na vaga de vice-governador em 2022.

Em Martinópole, o vencedor foi do PP, partido controlado por outra poderosa família, os Albuquerque, que também transitam entre o governismo local e estadual, com mais tribulações aparentes.

Domingos Filho não esconde de ninguém o sonho de ser governador um dia. Zezinho Albuquerque também não. Para o ano que vem está difícil para ambos, então, vão ocupando espaços.

O incêndio na Cinemateca, Bolsonaro e o PT

O secretário especial da Cultura do governo Jair Bolsonaro, o ator Mário Frias, encontrou responsável pelo incêndio da Cinemateca Brasileira. "O estado que recebemos a Cinemateca é uma das heranças malditas do governo apocalíptico do petismo, que destruiu todo o estado para rapinar o dinheiro público e sustentar uma imensa quadrilha de corrupção e sujeira criminosa."

Gestão pública é de fato feita de continuidade. Para o bem ou para o mal, as coisas não começam ou terminam em uma administração. Porém, Frias adota um comportamento muito recorrente. Joga para os antecessores o problema e puxa para si os méritos que porventura haja. O discurso de Frias atinge unicamente aos propósitos de não assumir a responsabilidade e fazer futrica política.

Não sei em que condição Dilma Rousseff (PT) deixou a Cinemateca ao ser afastada, no dia 12 de maio de 2016. Mas, já se vão cinco anos, dois meses e 22 dias. Tempo de evitar um incêndio tinha dado, não é não? Sem falar que, entre o PT e Bolsonaro, houve outro governo, de Michel Temer (MDB). Bolsonaro governa há mais de dois anos e meio. Quanto tempo dura a prevenção de incêndio?

O engraçado é que, ao inaugurar obras da transposição conduzidas mais de 90% por governos anteriores, aí a administração Bolsonaro puxa os méritos apenas para si.

E, veja bem, merece ser creditado por estar concluindo o trabalho que os outros governos sucessivamente atrasaram. A primeira parte da transposição tinha previsão para sair no governo Lula, mas foi entregue por Temer. O emedebista previa que as águas chegassem ao Ceará no mandato dele, mas ficou para Bolsonaro.

Tivessem as obras sido entregues no prazo minimamente aproximado, Lula, Dilma e Temer não veriam Bolsonaro apagar o papel que tiveram. Mesmo assim, não é honesto apresentar-se como quem fez tudo. Aí, quando a obra tem problema e até gente morre no Ceará, aí se lembra que há outras administrações envolvidas.

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