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Capitão Wagner orquestra o bolsonarismo no Ceará
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Capitão Wagner orquestra o bolsonarismo no Ceará

Movimentação para manter Acilon no comando do PL passa pelo pré-candidato a governador, e pela astúcia do prefeito de Eusébio
Tipo Opinião
 Acilon Gonçalves participou da recepção ao presidente Jair Bolsonaro na semana passada, em Jati (Foto: HENRIQUE ARAÚJO / O POVO)
Foto: HENRIQUE ARAÚJO / O POVO  Acilon Gonçalves participou da recepção ao presidente Jair Bolsonaro na semana passada, em Jati

Acilon Gonçalves vai, por enquanto, levando a melhor na disputa pelo controle do PL. Essas coisas podem mudar, há instabilidade hoje na cúpula de alguns partidos. Mas, não deixa de ser uma surpresa que Acilon tenha prevalecido. Um dos principais aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) no Ceará, o deputado estadual André Fernandes (PL) dava como certo que Acilon não ficaria. Afinal, o prefeito de Eusébio é, ou era, aliado da família Ferreira Gomes e do governador petista Camilo Santana. Porém, Acilon fez sinais de que, para manter o comando do partido, está disposto a seguir as novas determinações. E assim se aproximar do presidente. A operação não é simples e foi viabilizada pelo deputado federal Capitão Wagner (Pros).

Os sinais mais claros apareceram na visita de Bolsonaro a Jati, na semana passada. Foi surpreendente quando Acilon apareceu por lá. Fernandes, naquela madrugada, denunciou ter sido vítima de atentado, e não estava presente no evento. O prefeito, ao estar lá, demonstrou a disposição para se entender com Bolsonaro.

O movimento era parte da estratégia geral do Capitão Wagner. O deputado e pré-candidato a governador ganhou espaço de destaque no evento e fez o discurso de abertura. Na ocasião, ele defendeu que Bolsonaro não respondesse a críticas, desse destaque às realizações. Para cada ataque que recebesse, sugeriu, apresentasse uma ação de governo. Wagner chegou a chamar Bolsonaro de estadista, veja só, ao defender uma postura menos agressiva. A aproximação de Acilon passa por isso.

Ao jornalista Henrique Araújo, aqui do O POVO, Wagner explicou a presença do prefeito de Eusébio ali. “O prefeito Acilon, que apresentei ao presidente Bolsonaro, a gente está tentando agregar ao nosso grupo político. Disse para o presidente que, para ganhar eleição majoritária, a gente tem de agregar.”

A lógica não é a que Bolsonaro segue. Wagner quer a conciliação e a postura propositiva. O presidente é de confronto, de embate, de conflito. Wagner quer agregar. Bolsonaro perdeu vários aliados desde 2018. Quantas pessoas você conhece que não votaram em Bolsonaro em 2018 e votam hoje? Quantos novos eleitores ele agrega? Ex-bolsonaristas tem vários? Novos bolsonaristas ele agregou ao atrair o centrão. Daí ter se tornado tão dependente. Mas, ele tem sido muito bom em sustentar e alimentar a ala mais radical dos apoiadores. Agregar não é com ele. E Capitão Wagner apregoa duas coisas nas quais o presidente não é bom.

Não é da natureza do bolsonarismo aceitar “convertidos”. Receber quem é, ou era, aliado de PT e PDT. Eles valorizam demais quem está ao lado deles desde sempre e não dá passo fora da linha. Wagner vê diferente: precisa agregar para ter chance. Acilon está disposto a entrar na dança.

Os movimentos de Acilon

Wagner fez movimento inteligente. Mas, importante notar o papel de Acilon. O prefeito é político experiente, matreiro. Não é do nada que se constrói a hegemonia que ele alcançou na parte leste da Região Metropolitana de Fortaleza. Além de se reeleger em Eusébio, elegeu o filho, o ex-deputado estadual Bruno Gonçalves (PL), prefeito de Aquiraz. Elegeu ainda aliados em Itaitinga (Paulo César Feitosa, pelo PL), Cascavel (Tiago Ribeiro, pelo Cidadania), Pindoretama (Dedé Soldado, do PL), além de Beberibe (Michele Queiroz, do PL). É dos aliados mais relevantes que Wagner pode obter.

Outra mostra da astúcia política do prefeito de Eusébio? Em 1997, quando era vereador pelo PMDB, conseguiu se articular para se eleger presidente da Câmara Municipal de Fortaleza, a contragosto do então prefeito, Juraci Magalhães. Enfrentou o candidato governista, José Maria Couto, e venceu. Acilon bateu de frente em Fortaleza com Juraci, no auge da força política. E foi o então vereador quem se deu melhor.

Como escrevi, as coisas ainda podem mudar. Mas, diante de políticos menos experientes e mais inocentes do novo PL, Acilon vai se dando melhor.

Composições

O Capitão Wagner que hoje se compõe com Acilon, em 2020, apresentou denúncia contra o filho do prefeito de Eusébio, então deputado Bruno Gonçalves, hoje prefeito de Aquiraz. Wagner se baseou em áudio no qual Bruno ofereceria dinheiro para suplente de vereador se filiar ao PL.

Foto do Érico Firmo

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