Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Espaço que pré-candidato a governador teve no evento foi bem menor, mas isso não necessariamente indica mudança na relação. Porque Bolsonaro precisa mais dele que ele de Bolsonaro
Comentei ontem que seria interessante observar como seria o tratamento dado ao deputado federal Capitão Wagner (União Brasil) durante a passagem do presidente Jair Bolsonaro pelo Ceará. Em 8 de fevereiro, um mês e meio antes, Wagner foi uma das estrelas do evento. Fez o primeiro discurso. Recebeu apoio do presidente na pretensão de ser governador. Retribuiu chamando o presidente de estadista. Sim, o Bolsonaro. Ontem, foi diferente. Mas, não significa necessariamente uma mudança.
Wagner chegou ao evento ao lado do presidente. Como em outras ocasiões, ocupou lugar de honra, sentado à esquerda dele. Dessa vez, contudo, não discursou. Quem falou foi o suplente dele, Nelho Bezerra (Pros), que assumiu o mandato este mês, com a licença do deputado federal. Aliás, um discurso, diria, inesperado.
O fato de Wagner não discursar, por si só, não oferece elementos para conclusões. Não é de se esperar que ele protagonize todas as visitas de Bolsonaro — e olha que elas são muito frequentes.
Verdade que, de fevereiro para cá, há um fato novo. Wagner reforçou algo que já havia sinalizado antes. Ele apoiará Bolsonaro, mas não será apoio exclusivo em seu palanque. Em fevereiro, Wagner fez seu mais explícito gesto em direção ao presidente. Porém, na sua aliança eleitoral, haverá espaço para outros candidatos ao Planalto.
Em condições normais, Bolsonaro — e o bolsonarismo — não gostam nada disso. Costumam exigir fidelidade total. Não toleram hesitações. Costumam ser implacáveis com quem tem a ousadia, o atrevimento, que contrariá-los e flertar com adversários deles.
O que muda em relação a Wagner? Muda que o apoio do deputado cearense é melhor para Bolsonaro que o de Bolsonaro para o capitão da PM do Estado. Wagner tem mais força eleitoral no Ceará do que o presidente. Em resumo, Bolsonaro precisa mais de Wagner do que Wagner de Bolsonaro. Não por acaso, na eleição de 2020 para prefeito, o nome de Bolsonaro era certo tabu. Para 2022, Wagner deu a senha quando disse: "Minha pátria se chama Ceará".
Wagner não discursou, mas cochichou com Bolsonaro, ficou quase o tempo todo ao lado do presidente. Sinais de que não há arranhões — ou, se há, eles não são sérios. Por que o bolsonarismo aceita isso? Indicativo de que, para a campanha de reeleição, o presidente adotará algo que não é de seu feitio: pragmatismo.
Detalhe adicional: o partido de Bolsonaro, PL, passou a cogitar ter candidato próprio a governador. Abandonando, assim, o capitão. A conferir o quão séria é a intenção.
O espaço do PSD
Além de Capitão Wagner, outro deputado federal bastante citado nos eventos com Jair Bolsonaro é Domingos Neto (PSD). Em particular nas duas últimas ocasiões. Por um fator: tanto Jati, onde o presidente esteve em 8 de fevereiro, quanto Quixadá, onde ele esteve ontem, são municípios administrados pelo PSD. E os prefeitos o destacaram. Mas, Domingos marca presença nas visitas de Bolsonaro desde a primeira, em junho de 2020. Naquela ocasião, presenteou Bolsonaro com uma manta de carneiro.
Domingos Neto apoia o governo Bolsonaro, e também o governo Camilo Santana (PT). O pai dele, Domingos Filho, inclusive trabalha para ser candidato a vice-governador na chapa do PDT no Ceará. O PSD é um dos maiores partidos do Ceará, e também dos que mais sabe se equilibrar.
O exemplo do presidente
Fico pensando no trabalho dos sérios servidores do governo federal que preparam campanhas educativas para motociclistas, ao verem o presidente sem capacete, na garupa, em Quixadá. Vale usar aquele emoji de palhaço. Bolsonaro tem aquela postura de que faz mesmo o que quiser, é assim mesmo e ninguém impede. Machão e tudo mais. Como em quase tudo no governo, apenas mostra irresponsabilidade, inconsequência, ainda faz pouco de campanhas educativas — nas quais se gasta dinheiro público.
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