Logo O POVO+
Camilo tenta "sitiar" PDT e age para isolar Roberto Cláudio. Para quê?
Foto de Érico Firmo
clique para exibir bio do colunista

Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Camilo tenta "sitiar" PDT e age para isolar Roberto Cláudio. Para quê?

Aliança do PDT se tornou alvo do ex-governador
Tipo Análise
Camilo e Roberto Cláudio, em março, quando degustavam petiscos e caldinhos na Sabiaguaba (Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA Camilo e Roberto Cláudio, em março, quando degustavam petiscos e caldinhos na Sabiaguaba

Por que o PT decidiu adiar a decisão sobre a eleição no Ceará? Basicamente, para conversar mais. E quer conversar por alguns motivos. Talvez o principal seja: o PT não tem um nome. Tem alguns, vá lá. Mas não tem um nome que, se lançado, as pessoas olharão e pensarão: irá disputar para valer o governo.

A mais forte das opções, como nome e na largada, certamente é a deputada federal Luizianne Lins (PT). Contra ela pesa o desgaste. Não é a única, com certeza. Mas tem rejeição em Fortaleza. Nas duas últimas eleições na capital, ela enfrentou um cenário parecido com o que se desenha agora no Estado: uma candidatura do PDT (em 2016 foi Roberto Cláudio e em 2020, José Sarto) e Capitão Wagner. Em ambas, ela ficou em terceiro lugar, distante do segundo. O que poderia fazer com que fosse diferente no âmbito estadual?

Bem, Luizianne é menos conhecida no Interior, e também menos rejeitada. Podem ser duas vantagens, na verdade. E o PT aposta na força do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Camilo Santana como candidato a senador. São armas das mais poderosas disponíveis na campanha no Brasil. Mas, capazes de levar á vitória? Não é impossível, mas não sei se é provável.

Nesse vácuo do PT, o ex-senador Eunício Oliveira (MDB) gostaria de ser o escolhido. Conta com articulação de Lula para isso. Petistas locais insistem em nome próprio.

Conversas de Camilo

Porém, a decisão de adiar o encontro a pedido de Camilo Santana tem outros ingredientes. O ex-governador quer conversar com Lula. Pretende também procurar o PSB, via comando nacional. Irá articular com o presidente da legenda, Carlos Siqueira, e com o candidato a vice-presidente, Geraldo Alckmin. Pretende ainda procurar o senador Tasso Jereissati (PSDB). Qual o objetivo dessas conversas?

Os movimentos de Camilo ameaçam minar perigosamente a coligação de Roberto Cláudio. Acostumado a grandes alianças, ele está hoje com um PDT fraturado, com o PSD e com o PSB. O Cidadania quer apoiar Roberto Cláudio. Porém, formou federação com o PSDB e os dois partidos estarão necessariamente juntos. Na terça-feira passada, 19, o PSDB estava à mesa com Camilo Santana e um bloco de partidos, representado pelo presidente estadual Chiquinho Feitosa. Na manhã seguinte, foi desautorizado por Tasso e pelo ex-senador Luiz Pontes. Este último deseja apoiar Roberto Cláudio.

Parece pouco provável, pelas sinalizações, que o PSDB feche com Camilo. Tasso passou uma década distanciado dos Ferreira Gomes. A recomposição veio em 2020. Não me parece o caminho mais óbvio que ele venha a romper de novo a aliança sem motivo forte para tal — e não vislumbro razão clara para o PSDB tomar essa decisão.

Também não será fácil fazer o PSB mudar de posição. O partido está na chapa de Lula para presidente. Mas, no Ceará, o deputado federal Dênis Bezerra, presidente estadual, tem aval da cúpula para apoiar Ciro Gomes (PDT) a presidente.

A não ser que Camilo não queira, necessariamente, construir uma forte coalizão para enfrentar o PDT e deixar a candidatura de Roberto Cláudio esvaziada. O ex-governador deixa, no momento, o palanque pedetista "sitiado". Sob ameaça de isolamento atípico. Será que o plano de Camilo é mandar recado aos pedetistas do tamanho da força política que tem e pressionar por um recuo?

Dificilmente haveria tempo hábil para isso. O PDT já fez a votação no diretório estadual e escolheu Roberto Cláudio. As conversas que Camilo pretende ter serão só depois da convenção, que confirmará Roberto Cláudio neste domingo.

Não me parece factível, sobretudo, Ciro Gomes engolir uma derrota como seria rever a posição. Ciro, aliás, já encampou causas mais complicadas, até perdidas.

De todo modo, o que se tem hoje é isso: Roberto Cláudio prestes a ser lançado, com uma aliança pequena e estremecida como os Ferreira Gomes nunca tiveram. E o PT adia a definição enquanto procura um nome e Camilo investe sobre potenciais apoiadores do PDT.

Foto do Érico Firmo

É análise política que você procura? Veio ao lugar certo. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?