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A verdadeira ameaça às igrejas e à religião
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

A verdadeira ameaça às igrejas e à religião

Bolsonaro acusa Lula de pretender fechar igrejas, mas hostilidades em espaços religiosos partem de apoiadores do atual presidente
Tipo Opinião
 Dom Odilo Scherrer cardeal arcebispo de São Paulo, recebeu críticas por usar vermelho — e teve de explicar que é a cor dos cardeais (Foto: GABRIEL BOUYS / AFP
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Foto: GABRIEL BOUYS / AFP Dom Odilo Scherrer cardeal arcebispo de São Paulo, recebeu críticas por usar vermelho — e teve de explicar que é a cor dos cardeais

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O fanatismo político é perigoso. Distorce o julgamento em decisões que afetam a vida em coletividade. Alimenta a idolatria em relação a personalidades, que passam a reunir seitas em torno de si e ser vistos como acima do bem e do mal. Quando o fanatismo político se mistura com religião, tem-se uma fórmula explosiva. Ela tem colocado igrejas e crenças em risco e gerado episódios de violência.

Há episódios de fiéis pressionados, desqualificados e hostilizados nas suas igrejas. Isso é assédio religioso. Há pessoas que criticam, desacreditam e atacam padres e pastores para defender os políticos aos quais cultuam. É surpreendente — em nome da fé, defende-se o candidato e se ataca os sacerdotes.

O presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) tem vinculado o adversário, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), à perseguição religiosa na Nicarágua. Afirma que igrejas serão fechadas. A acusação é estranha. Não é como se o PT nunca tivesse governado coisa alguma e a experiência não fosse conhecida. Em mais de 13 anos de governos petistas, não houve tal perseguição. Lula esteve com papas e manteve boa relação com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Teve vice indicado pelo partido da Igreja Universal, que sempre o apoiou. Inclusive, a TV Record era bastante governista quando ele estava no poder. Era lá que trabalhava, por exemplo, Paulo Henrique Amorim, simpatizante do PT — ele foi afastado já no governo Bolsonaro.

Porém, há episódios preocupantes nos últimos dias. Apoiadores de Bolsonaro interromperam missas, em Jacareí (SP) e Fazenda Rio Grande (PR), indignados com a pregação dos padres, que consideraram ser contra o candidato deles.

Ainda no ano passado, em Fortaleza, simpatizantes do presidente hostilizaram o padre Lino Allegri, na época com 82 anos, na Igreja da Paz, na Aldeota, em Fortaleza. Situação o levou a se afastar.

O cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, foi insultado por usar vermelho na foto de perfil — e teve de explicar que aquela é a cor das vestes dos cardeais. Foi ainda acusado de ser a favor do aborto — prática a qual ele se opôs em várias ocasiões. Ele reagiu e disse que o momento lembra a ele a ascensão do fascismo.

“Radicais preferiram o partido ao catecismo”

O sacerdote e cantor padre Zezinho anunciou que iria se retirar das redes sociais até o fim do segundo turno. “Depois das ofensas de hoje contra o Papa, contra os bispos, contra mim, com calúnias e palavras de baixo calão, estou fechando esta página até dia 31 de outubro (...). Continuam a dizer que sou mau padre, que sou comunista e que sou traidor de Cristo e da Pátria porque ensino doutrina social cristã.” Ele completou: “O triste é que as ofensas são todas de católicos radicais que preferiram o seu partido político ao catecismo católico.”

Quem ganha com a mistura entre religião e política

A mistura entre política e religião sempre ocorre em benefício dos políticos e em prejuízo da fé, da qual é tirado proveito. A separação entre Estado e religião existe para resguardar as decisões públicas da influência de um ou outro credo, mas também para proteger as igrejas da pressão e do aproveitamento político, e para assegurar a liberdade religiosa.

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