Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Significativa a escolha de Geraldo Alckmin (PSB) para coordenar a transição para o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O papel é naturalmente estratégico e antecipa que o ex-governador paulista terá protagonismo no governo, para além do papel de vice. Nos primeiros governos de Lula, José Alencar, o vice, não ocupou tal espaço. Alencar foi importante para dar credibilidade a Lula perante o empresariado. Os dois ficaram amigos, mas eram comuns as críticas de Alencar à equipe econômica. É improvável que Alckmin haja dessa maneira, pelo estilo e pela centralidade que se sugere desde já que terá. Quem comanda a transição sempre está no centro das decisões. Quando Lula foi eleito pela primeira vez, em 2002, a tarefa coube a Antonio Palocci, que virou ministro da Fazenda.
Alckmin é uma boa escolha para um governo que precisa dialogar com um País que teve quase metade do eleitorado posicionado no campo conservador. Ele é experiente e conciliador. Precisará, pois a transição se prenuncia muito mais complicada do que foi a cordata passagem de poder de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) para Lula em 2002. Se terá cargo além do posto de vice ainda não se sabe. Mas, certamente será um vice com atuação destacada.
Facções radicais fecham rodovias pelo Brasil e expõem sem disfarces o caráter antidemocrático da direita brasileira mais extremista. O presidente derrotado Jair Bolsonaro (PL), no primeiro pronunciamento após perder para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preocupa-se em justificar esses atos. Questionou apenas os métodos, mas não o conteúdo. Mais que isso, afirmou que protestos pacíficos são bem-vindos. Ou seja, a criatura fez foi incentivar. Se um ato que se diz ordeiro pede medidas autoritárias, ele não é pacífico. É violento.
Bolsonaro reclamou de ser tido como autoritário. Quanta injustiça, não é? Só porque ele defendeu a ditadura, pediu reedição do AI-5, é fã de torturadores e contra liberdades individuais elementares, como união civil de pessoas independentemente de gênero? Somaram-se a isso as 44 horas sem se pronunciar após a derrota eleitoral. E, ao se dignar a fazê-lo, não houve qualquer menção a quem recebeu 60 milhões de votos e foi escolhido pelo eleitor brasileiro para governar. O silêncio deu espaço para proliferar o golpismo que sempre rondou o presidente.
Ao longo do governo, o bolsonarismo passou a tentar construir uma imagem de defensor da liberdade. Nem eles acreditam nessa conversa, salvo os mais fanáticos e iludidos. Agora, a máscara esburacada e capenga caiu de vez. Não tem nada de defesa da liberdade. Aliás, observe-se que eles não falam em democracia. A palavra parece banida. Democracia é a forma política da liberdade. Mas, a ideia bolsonarista de liberdade não é democrática. Pelo contrário, querem ser livres para não respeitar a vontade popular manifesta pelo voto. Livres para fechar estradas. Para defender golpe de Estado.
Nem se dão o trabalho de apresentar argumentos, nem explicam se acham que fraudaram as urnas ou alguma outra coisa. É só birra com o resultado da eleição. Querem o candidato deles no cargo e pronto.
Quando se manifestou, Bolsonaro agiu de modo rancoroso, ressentido e pequeno. Podia ter sido pior. Só em não questionar o resultado já é digno de nota, mesmo que ele seja incapaz de cumprir o mínimo da civilidade e das boas maneiras.
Métodos da esquerda?
Bolsonaro justificou os atos golpistas, mas disse discordar do que chamou de "métodos da esquerda". Ora, a esquerda perdeu várias eleições no Brasil — só Lula perdeu três — e nunca vi fechar estrada por não aceitar resultado. No Brasil, ao longo do século XX o golpismo foi método da direita, sob alegação de combater o comunismo.
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