Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
A quinta-feira foi muito tensa na política cearense. Já se prenunciava desde o início da semana, quando policiais mostraram insatisfação com a proposta do governo Camilo Santana (PT) para reajuste salarial. O dia teve temperatura elevada nos gabinetes, no plenário e nas ruas perto da Assembleia Legislativa, nas redes sociais e nos quartéis também. A preocupação com o que ocorreria com a segurança pública era real e imediata. Ao final do dia, o assunto não está resolvido, mas se abriu perspectiva de solução para evitar o impasse, a ameaça, o conflito aberto. A situação chegar ao ponto que chegou ontem é ruim para todo mundo: policiais, que estavam no epicentro da tensão; para políticos e para o governo; e para a sociedade acima de tudo. A solução que se começou a desenhar embute, portanto, várias vitórias, ainda que parciais.
É uma vitória para os policiais. O resultado financeiro ainda não está claro, mas existirá. Está sinalizado o acordo para o parcelamento não ser tão longo, o pagamento inicial ser maior. Também foi prometido não haver punição pelo protesto. Há perspectiva de gratificações passarem a compor o salário fixo. Não é pouca coisa. E, fundamentalmente, houve uma demonstração de força, uma vitória política.
O governo Camilo também teve uma vitória. É igualmente parcial, mas é significativa por contornar o impasse e ganhar tempo para negociar. E, também, pela afirmação de uma forma de fazer política. O camilismo em estado puro, o diálogo à exaustão. Ao menos por ora, uma crise foi desarmada. Fosse o governador Tasso Jereissati (PSDB), hoje estaríamos numa crise aberta entre governo e tropa. Fosse Cid Gomes (PDT) no Palácio da Abolição, estaríamos numa situação complicada na segurança. E olha que Cid e Camilo são aliados. Cid gostava de se apresentar como alguém sempre disposto a negociar. Acreditava no próprio poder de convencimento, que superestimava. Camilo se mostra mais habilidoso e paciente ao contornar crises e administrar conflitos. Camilo conseguiu desobstruir o diálogo e estabelecer canais. Como disse, é uma vitória ainda parcial. Haverá muita água para rolar e o acordo não será fácil. Mesmo assim, essa vitória parcial.
E vitória mesmo foi para a população, que deve ser sempre prioridade, para o governo e para as forças de segurança. Devem ter em vista que todos - os políticos, os bombeiros e os policiais - são ou devem servir ao povo antes de qualquer coisa. É a razão de estarem lá. É uma missão árdua, uma grande responsabilidade, mas é também uma honra.
A decisiva reunião de ontem foi tranquila dentro da óbvia tensão do momento. Estavam presentes presidentes das várias associações de policiais. O governador ouviu todos eles. Estava também eclético grupo de deputados. Estavam o presidente da Assembleia, José Sarto (PDT), e o líder governista Júlio César Filho (Cidadania), o Julinho. Também foram Evandro Leitão (PDT), Elmano de Freitas (PT) e Walter Cavalcante (MDB). O deputado Soldado Noélio (Pros) era presença óbvia, assim como o vereador Sargento Reginauro (sem partido), como presidente de associação, e o deputado Delegado Cavalcante (PSL). Também participou Renato Roseno (Psol). E o deputado federal Heitor Freire (PSL) chegou durante o encontro.
Lideranças
A reunião foi tranquila, mas os manifestantes fora estavam agitados. Quando Noélio e Delegado Cavalcante chegam com o resultado, foram surpreendidos com gritos de quem não queria acordo, não confiava em entendimento, cobrava de imediato o percentual. Os deputados precisaram tranquilizar a base.
Ficou claro que, pelo menos de imediato, os líderes políticos dos policiais não querem o enfrentamento mais extremo. Quisessem partir para o tudo ou nada, o ambiente estava criado já ontem. Mas, eles sabem o custo e quão traumático é o conflito total. Não é algo do qual se sai sem baixas.
O desafio que terão os líderes será administrar as expectativas criadas e conter o ânimo de uma categoria que foi inflamada. Não podem perder a mão ou o resultado será ruim para todos, inclusive para esses líderes.
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