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O presidente, o cidadão e o País
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

O presidente, o cidadão e o País

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A semana passada deixou uma marca política importante, com as várias situações que envolveram o cenário político nacional a partir de como se comportam os integrantes do poder central. O resumo da história é que o Brasil tem, hoje, um governo que tenta se proteger das declarações do seu comandante, Jair Bolsonaro, e, de outra parte, há um presidente que entende possível descolar um comportamento pessoal errático e até irresponsável da tarefa de comandar o País.

Olhemos para dentro do Congresso Nacional e o que ali aconteceu ao longo dos últimos dias. Três ministros estiveram em eventos com parlamentares e, chamados a comentar declarações do presidente Bolsonaro que diziam respeito, diretamente, às áreas respectivas pelas quais respondem, meio que indicaram que eram manifestações pessoais e que por isso deveriam ser mantidas no limite do que pensa, hoje, o cidadão que convive com o Chefe da Nação dentro da mesma pessoa. Como se isso fosse possível.

Assim foi com o general Braga Neto, ministro da Defesa, quando participava de reunião da Comissão de Relações Exteriores da Câmara e se viu questionado por parlamentares de oposição acerca do que sinalizara Bolsonaro na véspera (e que reforçaria nos dias seguintes) ameaçando baixar decreto para que as Forças Armadas garantam a livre circulação das pessoas nas cidades, mesmo diante de eventuais medidas de isolamento social determinadas por governadores e prefeitos, explicitamente ameaçando o País com o caos quando seu papel é evitá-lo. Braga Neto alegou que não falaria sobre declarações do presidente, como se lhe tivesse solicitado comentar alguma opinião do chefe sobre o Palmeiras que diz torcer no futebol ou, enfim, algo relacionado somente ao gosto particular dele. No entanto, era um assunto de Estado e ele optou por silenciar, talvez, até, por ter melhor noção da gravidade do seu conteúdo.

Outro que calou foi o novato Carlos Franca, que estreava como chanceler diante também de uma Comissão de Relações Exteriores, a do Senado, quando perguntando sobre declarações graves de Bolsonaro na quarta-feira. Aquela história, levantada pelo presidente, de que podemos estar vivenciando uma "guerra química ou bacteriológica", de que "ninguém sabe se o vírus não nasceu num laboratório", insinuando que tudo poderia ter sido criado para beneficiar o país cujo PIB cresceu mais depois de toda a crise etc etc.

Numa postura de alguém que se acha muito inteligente, Bolsonaro disse que não citaria nomes, como se fosse preciso, naquela circunstância, juntar as letras que formam a palavra China para identificar o alvo de seus ataques inconsequentes. São dúvidas que até podem estar presentes a algumas conversas, se distantes de ambientes oficiais, mas que nunca deveriam fazer parte de um pronunciamento oficial de um Chefe de Nação. Pois é, mas o ministro também procurou restringir a desastrosa agressão diplomática àquilo que pensa o presidente, dissociando-o do que predominaria como opinião no governo que ele comanda. Ele, no caso, o autor dos ataques gratuitos e grosseiros.

A terceira demonstração de que o Brasil tem um governo que se tenta distanciar do seu presidente veio da CPI da Covid no Senado, onde o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, valeu-se de uma cansativa retórica evasiva para não comentar atos, ações e palavras de Bolsonaro relacionadas à crise sanitária que é foco da investigação parlamentar. Fica-se, assim, no meio de um quadro esdrúxulo em que, por exemplo, a principal autoridade de saúde do País alerta para a importância fundamental do uso da máscara por cada cidadão na luta contra o vírus e o chefe dele, ainda no dia anterior da sua ida ao Congresso, dizia-se de "saco cheio" pela cobrança para que usasse a singela peça no rosto sempre que aparecia em eventos públicos. No mais das vezes, em gestos práticos, oferecendo o mau exemplo de dispensá-la.

Assim está sendo sobre vários temas postos hoje na ordem do dia, com o governo indicando um caminho aos brasileiros e o presidente da República pensando, dizendo e fazendo o contrário, exigindo para si o direito de opinar apenas como cidadão, algo que não lhe está dado desde 1º de janeiro de 2019. É um quadro que tem tudo para dar errado.

O conterrâneo Bolsonaro?

A história da aprovação do título de Cidadão Iguatuense ao presidente Jair Bolsonaro pela Câmara de Vereadores, fazendo-o conterrâneo do comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira, e, mais importante, deste colunista (captem a ironia, por favor), tem componentes quase cômicos. Dos seis vereadores que protocolaram o pedido de anulação da homenagem um dia depois dela aprovada, cinco tinham votado "sim" na data anterior, ou seja, precisaram apenas de uma noite para concluir que tinham feito bobagem.

O bloco dos arrependidos

A única forma de o título ser mantido é evitando que a matéria vá a votação. Pela matemática simples, os seis que antes tinham votado contra permanecem com a mesma posição, nenhum veio a público dizer-se arrependido e, deles, quem se manifestou foi apenas para reafirmar a convicção do voto. Com os cinco arrependidos do outro bloco que agora assinam o pedido de revogação chega-se ao número de 11 que garante maioria folgada, entre 17, pela anulação. Detalhe: a Câmara é presidida pela vereadora Eliane Braz, que vem a ser a mulher do prefeito Ednaldo Lavor, ambos do PSD.

Independente, na prática

A ideia inicial de que comporia a tropa de choque do governo na CPI da Covid está sendo desfeita de maneira prática pelo senador cearense Eduardo Girão, do Podemos. É autor de um requerimento incômodo, aquele que pede informações sobre os passeios do presidente Bolsonaro por Brasília, e, agora, foi excluído de reunião na quarta-feira no Planalto para avaliar e reavaliar estratégias na Comissão. Foram chamados apenas Ciro Nogueira (PP-PI), Jorginho Melo (MDC-SC) e Marcos Rogério (DEM-RO)

Mayra Pinheiro
Foto: Mauri Melo
Mayra Pinheiro

O caminho que ela escolheu

A ida da cearense Mayra Pinheiro à CPI da Covid, já aprovada durante a semana pelos senadores, dará vez a um momento interessante. A imprensa nacional começa a destacar uma relação política entre ela e o senador Tasso Jereissati, que, é fato, avalizou sua candidatura ao Senado pelo PSDB em 2018, quando a médica e líder sindical acabara de sair de curso de formação de novas lideranças do movimento RenovaBR. Porém, a verdade é que desde a ida dela ao governo Bolsonaro os dois perderam qualquer contato e, se ouvido na época, o tucano a desaconselharia.

O tom tende a ser o mesmo

A curiosidade se cria, de maneira justa, porque Tasso tem sido um dos mais duros críticos à história de incentivo do governo, em especial do presidente da República, ao uso da cloroquina para o combate à Covid-19, iniciativa à qual ela está sendo vinculada e que é motivo de sua convocação. A tendência é que o tucano seja duro com a ex-correligionária, cuja candidatura ao Senado incentivou em 2018 por uma conveniência eleitoral de momento. Depois, foi cada um para seu lado. Mayra, lembremos, que ganhou dos jornalistas políticos a simpática alcunha de "Capitã Cloroquina".

O animado trânsito de vídeos

A ideia de que o processo eleitoral de 2022 passaria pela CPI se confirma à medida em que os dias passam e as sessões acontecem. Também de maneiras mais sutis, como demonstram os vídeos editados que começam a circular nas redes locais de whatsapp com registros de participações dos senadores cearenses Tasso Jereissati (PSDB) e Eduardo Girão (Podemos), explorando os momentos de cada um.

"Estou certo de que o governador Camilo Santana e o titular da Secretaria de Cultura, Fabiano Piúba, são simpáticos à questão" Acrisio Sena, deputado estadual (PT), apoiando a ideia de batizar com o nome de Gilmar de Carvalho a Biblioteca Pública do Ceará

 

Foto do Guálter George

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