Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
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Foi um domingo difícil, tenso, que fez balançar de verdade a nossa democracia. Portanto, é mais do que justificável toda a preocupação com o que aconteceu a partir da tarde de hoje na capital do País, provocando imagens fortes de invasões violentas às sedes dos três poderes da República, com muita destruição e vandalismo, tudo registrado, nas redes sociais, com um orgulho inaceitável por quem participava das ações criminosas. Talvez caiba, porém, um olhar mais frio que tente enxergar mais adiante, buscando prospectar o cenário que teremos depois de superado, quando acontecer, o quadro de terror das últimas horas.
É impossível àquele que for realmente democrata, a partir de tudo que aconteceu em Brasília, seguir defendendo o direito dos que se mantêm mobilizados por uma tal intervenção militar. A começar pelo novo ministro da Defesa, José Múcio, que, dentro do governo atual liderado por Luiz Inácio Lula da Silva, insistia em vender a ideia de que era um grupo agindo dentro do limite de um cidadão, ou cidadã, para mostrar sua indignação com a derrota do candidato que apoiou no ano passado ou, o que não é a mesma coisa, com a volta do PT ao poder.
Valendo sempre o registro de que Jair Bolsonaro, o irresponsável ex-presidente que até hoje não se dignou a uma declaração ou gesto que indicasse respeito ao resultado colhido nas urnas, tem suas digitais postas nos acontecimentos do dia e muito do que aconteceu tem a ver diretamente com a sua postura pós-eleições.
A partir de agora, de maneira definitiva, torna-se impossível a tolerância com quem está nas ruas protestando contra o resultado eleitoral e este é o ponto no qual me apego para projetar que talvez possamos entrar agora numa fase mais estável da democracia verde e amarela.
Está agora cabalmente demonstrado, com provas e imagens disponíveis à farta, que o que há diante de nós são fascistas, inimigos das instituições, criminosos, simplesmente isso, e ir atrás de todos eles, incluindo aqueles que estavam por trás de tudo, seja incentivando, estimulando ou financiando, passa a ser uma obrigação das autoridades. É o que está prometido pelo presidente Lula no pronunciamento público feito até o momento acerca do assunto, no qual anunciou intervenção federal na segurança em Brasília, e será importante cobrá-lo para que isso realmente aconteça.
Os fatos são graves demais, a depredação contra prédios públicos e símbolos da República aconteceu após uma invasão esquisita a uma área que deveria estar sob proteção máxima, considerada que é de interesse da segurança nacional. Chama atenção ainda maior que os eventos foram largamente anunciados e noticiados de maneira prévia, indicando que um monitoramento eficiente teria conseguido antecipar todos os passos para montar uma operação capaz de conter os manifestantes, protegendo os prédios públicos atacados.
Como já acontecera no festivo dia da posse, 1º de janeiro, que teve toda sua longa programação cumprida sem qualquer tipo de incidente, mesmo com ameaças e sinalizações de véspera de que algo poderia acontecer.
Outro ponto interessante, a partir desse momento, é a possibilidade que oferece de separarmos quem faz oposição ao governo Lula numa postura de respeito à institucionalidade política, entendendo qual o papel que lhe cabe dentro do novo momento, daquele equivocado que segue entendendo como justa a agenda de inconformados que ocupam as ruas na defesa de um golpe.
Quem não condenar de maneira clara tudo que aconteceu, incluindo no pacote a insistência de alguns em manter mobilizações nas portas de unidades militares, precisa, a partir deste momento, ser também responsabilizado pelo quadro de ameaça à nossa democracia. Especialmente quem for ocupante de cargo ou mandato público.
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