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Elmano, um governador em busca de uma marca
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Elmano, um governador em busca de uma marca

Elmano tem como um dos desafios colocados para esse novo momento de sua trajetória política demonstrar-se autônomo e independente nas suas ações e decisões
1903gualter (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos 1903gualter

Precisamos olhar melhor os movimentos políticos que têm realizado de maneira conjunta o ministro Camilo Santana, hoje à frente da poderosa pasta da Educação, e o governador Elmano de Freitas. Ambos do PT. Outro dia, estavam o ministro e o governador lado-a-lado em audiências com os titulares da Saúde, Nísia Trindade, e dos Transportes, Renan Filho. Imagine-se, com a boa vontade possível, que seja parte de uma passagem natural de poder, uma espécie de apresentação a colegas de equipe no primeiro escalão nacional daquele que foi escolhido por Camilo para dar sequência ao modelo de gestão que iniciara oito anos atrás no Estado.

Claro que a condição de novo governador, nas suas primeiras viagens e contatos no ambiente do poder federal, exige de Elmano de Freitas passos cuidadosos no sentido de entender direito onde pisa. O apoio explícito agora de quem foi decisivo na sua vitória e está assentado em posto estratégico é algo natural e, em certos aspectos, parece até necessário. No entanto, há de se encontrar uma forma de aclarar melhor que está em curso uma ação estratégica de chegada e que não se trata do estabelecimento de uma relação de dependência como marca permanente.

Elmano tem como um dos desafios colocados para esse novo momento de sua trajetória política demonstrar-se autônomo e independente nas suas ações e decisões. Claro que não seria justo cobrar dele para já uma marca pessoal forte, mas a situação exige alguns gestos, abertos ou sutis, que deixem algumas pistas, pelo menos, de como as suas qualidades agregam valor a um projeto de continuidade que era de interesse da maioria dos cearenses, considerada a manifestação clara de apoio traduzida através do voto. Lembre-se que, para surpresa de muitos, a vitória dele aconteceu ainda no primeiro turno.

O governador cearense, já demonstrou isso, tem no reconhecimento aos parceiros e aliados um dos seus valores intrínsecos. Assim é que até hoje mantém a relação de sempre, sem arranhão maior conhecido, com a deputada federal Luizianne Lins, que lhe deu as primeiras chances de exposição política real, a começar pelo fato de tê-lo escolhido como candidato à sucessão dela como prefeita de Fortaleza, em 2012. Foi uma espécie de apresentação do seu nome ao eleitor cearense, quando fez uma disputa apertada com Roberto Cláudio, que viria a ser o vencedor naquela oportunidade. O mesmo Roberto Cláudio que, dez anos depois, derrotaria para chegar ao governo estadual, sem dúvida, um "troco" em altíssimo estilo.

É uma qualidade do atual governador do Ceará, para mim, a capacidade que tem demonstrado de se manter próximo àqueles ou àquelas que determinam seus progressos políticos, algo nem sempre mensurável por uma vitória (como no caso da experiência frustrada da disputa pela prefeitura de Fortaleza, ponto de partida para várias de suas conquistas posteriores). A literatura política nos mostra, à exaustão, exemplos de quem, conquistado o objetivo, empolga-se e opta por renegar ou relativizar vínculos, não raro rompendo com quem lhe abriu os caminhos ou ofereceu possibilidades de atalhos. O que o momento exige, talvez, é um cuidado para evitar que se crie, especialmente na perspectiva de interlocutores, a ideia de que por trás de cada movimento seu mais importante há um tutor. Mesmo considerando que foram apenas dois meses e meio de uma trajetória prevista de quatro anos, é politicamente perigoso.

É fato: Dilma não é Lula

Na turma do União Brasil que não é governo e nem oposição (muito antes pelo contrário, acrescentaria algum em tom de piada), o deputado federal cearense Danilo Forte adverte o governo que a situação pede pressa. Na sua avaliação, a pauta está travada e o responsável principal é o Executivo, que não consegue definir prioridades e colocar de maneira mais clara ao Congresso a agenda real que lhe interessa. Para ele, inclusive, há um erro estratégico na insistência no toma-lá-dá-cá. O parlamentar adverte ao PT que fracassar com Dilma Rousseff na presidência seria diferente do insucesso de uma gestão liderada por Luiz Inácio Lula da Silva. Os efeitos sobre o partido seriam maiores e mais devastadores.

A vida depois da morte

A política de Juazeiro do Norte nunca decepciona (modo ironia acionado). Durou pouco o luto pela trágica morte da jovem vereadora Yanna Brena, que presidia a Câmara, e o caos já está instalado no legislativo municipal na briga pela cadeira que ficou vaga. Está sobrando para o prefeito Glêdson Bezerra (Podemos) que apoiava Beto Primo (PSDB) e de última hora orientou seus vereadores para se ausentarem da votação, acontecida na terça-feira, deixando o caminho livre para escolha do Capitão Vieira (PTB), seu opositor. A confusão tá na justiça, era esperado, mas a verdade é que a dor com a perda da colega mal resistiu ao 7º dia.

Os fiscais da obra

André Fernandes (PL), deputado federal
André Fernandes (PL), deputado federal (Foto: Pablo Valadares / Câmara dos Deputados)

O cearense André Fernandes (PL) foi designado pelo deputado Arthur Lira (PP-AL), que comanda a Câmara Federal, para coordenar uma comissão externa criada para fiscalizar e acompanhar in loco a transposição das águas do rio São Francisco. O núcleo havia sido solicitado pelo próprio Fernandes e terá, no total, nove parlamentares, incluindo ele, todos do Nordeste, da oposição e apenas dois (Clarissa Tércio - PP/PE - e Rodrigo Valadares - UB/SE) não são correligionários do coordenador, o que dá uma ideia do que está vindo por ai. Aliás, os dois citados são tão bolsonaristas quanto os demais integrantes, há quem diga que até mais do que alguns deles.

Na hora da briga, silêncio

Sobre a comissão e sua tarefa, o ex-presidente Jair Bolsonaro focou parte do seu mandato em se apresentar como uma espécie de "pai da transposição", obra que encontrou com mais de 90% concluída quando assumiu em 2019. O discurso não colou, conforme demonstra, por exemplo, a acachapante derrota que sofreu no Nordeste na sua tentativa de reeleição. E a razão parece simples: faz-se uma pesquisa quanto à postura do então deputado federal quando o governo Lula, na época através do ministro Ciro Gomes, brigava pra tirar o projeto do papel e não se encontra uma só manifestação de Bolsonaro em defesa da obra. Que pai seria esse?

Simpatia tem nome. E intenção

É uma jogada sutil e inteligente do governador Elmano de Freitas prestigiar Maranguape, na Região Metropolitana de Fortaleza, ao transferir para lá evento que se pensou realizar inicialmente na Capital, hoje, no qual se fará entrega de máquinas através do projeto São José. Há, claramente, uma ofensiva política para atrair prefeitos do cinturão metropolitano e o normal em tais situações é que os abordados correspondam positivamente. A ideia é que o ato, organizado sob pretexto de ser dia de celebrar o padroeiro do Ceará, junte gente de todos os campos e gere oportunidades de conversas que rendam bons frutos para o futuro. O desfecho não precisa se dar logo neste domingo.

O grito forte do deputado

Acerca dos movimentos políticos do governador e do governo na área da Grande Fortaleza, a reação forte e firme do deputado estadual Júlio Cesar Filho (PT) não deixa dúvidas quanto ao desafio que será criar uma aproximação com o influente prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa, e seu grupo político abrigado no União Brasil. Partido do Capitão Wagner, é importante lembrar. O parlamentar petista chegou a ser dramático, expressando algo do tipo "só se matarem não serei candidato", reforçando suas convicções oposicionistas quanto à gestão que comanda o município desde 2005, pelo menos. Pessoa, lembre-se, tem direito a disputar reeleição em 2024.

"Existe a possibilidade de inelegibilidade, sim,
mas a questão de prisão só se for arbitrariedade"
"
Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, falando nos Estados Unidos, onde está desde o ano passado, e admitindo, até aceitando, que as investigações sobre os atos de 8 de janeiro podem levar ao impedimento de sua participação nas próximas eleições

 

 

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