Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
É um pouco de invencionice, admito, mas a coluna achou por bem fazer uma avaliação dos primeiros 30 dias do governo de Elmano de Freitas. Não se estará buscando detectar se há uma revolução em curso ou se já é possível apontar um fracasso definitivo, enfim, é um período muito curto que pode não dizer nada do que está por acontecer ao longo dos três anos e onze meses que restam ao governador para ele cumprir ainda de mandato. Porém, trata-se de um exercício que considero possível de fazer na perspectiva de projetar um pouco o que está por vir, além de dizer respeito a uma etapa histórica agitada do País, na qual até uma tentativa de tomada de poder pela força se experimentou.
Primeiro, talvez seja importante conhecer como o próprio governo avalia o período. Tarefa que a coluna entregou ao experiente Nelson Martins, quadro histórico e influente do PT, ex-deputado estadual e há alguns anos atuando nos bastidores políticos na articulação que se faz a partir do Palácio da Abolição. Um trabalho que nos dois mandatos de Camilo Santana cresceu de importância na missão principal de conter crises e manter uma base aliada coesa. É, além disso, uma voz boa de ouvir porque costuma aplicar uma transparência bem pouco comum no meio, o que ajuda muito na confiabilidade das informações que passa.
Claro que Nelson entende que ainda se tem muito por percorrer e que falar sobre um tempo de 30 dias pouco diz do que há pela frente. "Mas, estou bastante satisfeito", diz ele, "conseguimos fazer muita coisa". O mais diferente, comparando-se o momento atual com aquele que se vivia quatro anos atrás, por exemplo, é o clima e o diálogo com Brasília. Elmano já teve vários encontros com ministros e dirigentes de órgãos federais do governo Lula, em praticamente todos dizendo-se atendido, em algum nível, em relação aos interesses cearenses que levou à mesa.
Hoje assessor especial de Relações Institucionais, Nelson Martins, elenca um volume realmente expressivo de apoios, ações, recursos e compromissos que seriam resultantes das movimentações do governador junto à esfera federal em seu primeiro mês. Fala, com destaque, do acerto em relação à duplicação da Estrada do Algodão, do avanço nas obras do Eixo das Águas, que hoje transporta 11 metros cúbicos por segundo e a expectativa é de que quase dobrará, passando a 20 metros cúbicos, e, finalmente, a garantia de recursos para investimento em hospitais especializados em oncologia localizados em três regiões do Ceará: de Iguatu, de Baturité e da Serra da Ibiapaba. "Sem falar na ampliação de uma unidade já existente em Crateús", acrescentou.
Mesmo a parte que se pode considerar mais delicada na chegada do novo governo, com a arrumação geral da casa que se tornou necessária diante dos efeitos trazidos para 2023 de medidas tomadas ano passado pelo então governo Bolsonaro que atingiram as contas estaduais, especialmente a queda imposta às receitas com ICMS e aos repasses de fundos constitucionais, a avaliação de Nelson Martins é de que a performance foi boa. Claro que para trazer mais realidade, nesse caso, há necessidade de avançar um pouco no tempo e ir além dos 30 dias, já que a nova Assembleia se instalou e começou a trabalhar apenas em 1º de fevereiro. O importante, para ele, é a racionalidade do pacote de medidas e a capacidade que elas têm de manter o nível de investimentos do governo cearense. Na sua compreensão, isso está garantido.
Olhar o que aconteceu até agora buscando projetar o que ainda virá exige entender se a gestão Elmano constituiu uma base de apoio parlamentar boa, nos números e na confiança dos que a integram, para os desafios de um mandato inteiro. Aqui Nelson Martins surpreende, calculando algo entre 35 e 36 deputados, de um total de 46, em alinhamento hoje com o governo. "É mais ou menos o que já tínhamos antes, acho que não mudou", calcula, admitindo que persistem problemas com parte da bancada do PDT, ao mesmo tempo em que demonstrando otimismo quanto à possibilidade de superá-los.
Como dito inicialmente, não é uma tentativa de avaliar se o governo tem futuro ou se já acabou. Dá para dizer, inclusive a partir da avaliação que prevalece nas próprias entranhas oficiais, que o fato de ter no novo governador um político de boa experiência, que vem de dois mandatos inteiros consecutivos no parlamento, onde conversar e dialogar é o meio mais eficaz de sobrevivência, ajudou na travessia com pouco tumulto até agora e deverá ter importância para superação dos desafios que chegarão com os tempos futuros. Especialmente nas turbulências, vale dizer, porque até agora prevaleceu a calmaria. Não será sempre assim, sabemos todos, incluindo Elmano de Freitas e o seu experiente assessor de uma área, a política, que tem outras pontas a serem ajustadas. Um bom assunto para ser tratado em outra oportunidade. E o será.
A temperatura segue elevada no ambiente interno do PDT também no âmbito de Fortaleza. O vereador Julio Brizzi não gostou nem um pouco da iniciativa do prefeito José Sarto de produzir um vídeo para encher de elogios o senador Eduardo Girão (Novo), após visitá-lo em seu gabinete, em Brasília. Para ele, a decisão de procurar o parlamentar faz sentido, pedir seu apoio para matérias de interesse da gestão é parte do jogo político, "mas, dizer que ajuda muito Fortaleza, enaltecer a atuação de quem nada tem feito pela cidade, alguém que enquanto estávamos brigando para vacinar o povo ele era contra, vivia falando de ivermectina, promovendo audiência pública para atrapalhar a vacinação etc, me deixa muito decepcionado".
É intenção do presidente da Câmara Federal, Arthur Lira (PP-AL), promover um freio de arrumação preventivo diante do clima de beligerância verbal que se espera que prevaleça em plenário na nova legislatura. A expectativa é de que o Conselho de Ética seja demandado em níveis nunca antes observado e, inclusive, o deputado Sargento Farah (PL-SC) já deve ter uma denúncia contra ele encaminhada assim que sua composição for definida, por ofensas e ameaças na semana passada contra o ministro da Justiça, Flávio Dino. O tema está pautado para a próxima reunião do Colégio de Líderes, terça-feira, e exige mesmo preocupação porque não há polarização que justifique a falta de civilidade de muitas atitudes de parlamentares nos últimos tempos.
O deputado federal cearense André Fernandes (PL) passou a liderar um movimento que, se der certo, sem exagero, o colocará na prateleira onde estão as maiores "inteligências" que a política brasileira produziu. Como explicar que sua agenda da semana na Câmara tenha sido dominada pela colheita de assinaturas para viabilizar a instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para apurar responsabilidades e omissões pelos eventos violentos do dia 8 de janeiro em Brasília?!? Seria uma das maiores viradas da nossa história, considerando-se o contexto confuso.
Expliquemos: André Fernandes é réu, já enrolado com a justiça, inquérito aberto a pedido do Ministério Público e tramitando no STF, como um dos parlamentares que de alguma forma se envolveram com o que aconteceu em Brasília naquela data trágica. No seu caso, a partir de farto material juntado através de posts que animaram suas redes sociais, antes e durante os ataques à democracia, e apesar do esforço posterior de sair apagando o que podia. Houve até pedido de advogados para que a posse dele como deputado federal fosse suspensa enquanto não se esclarece seu envolvimento real com o evento violento. Já imaginou uma reversão dessa história no nível que o parlamentar arquitetou? Coisa de gênio, repito. Ou, de quem acha que somos todos idiotas.
Falta acertar apenas o dia exato, mas a primeira visita de Lula ao Ceará como presidente da República, desde a posse em 1º de janeiro, acontecerá em março próximo. Na agenda, entrega do módulo 5 do projeto Cidade Jardim, na região do Conjunto José Walter, com cerca de 880 apartamentos em detalhes finais de regularização. Tudo acertado, Lula virá à solenidade de entrega das chaves em ato que simbolizaria a retomada firme do Minha Casa Minha Vida em Fortaleza. O mesmo projeto tem mais módulos, com 416 e 1.200 imóveis respectivamente, em fase de conclusão para inauguração em mais 45 e 75 dias.
O presidente Lula já bateu o martelo e, removidas questões legais que ainda impedem, o comando do Banco do Nordeste (BNB) será mesmo entregue ao ex-governador de Pernambuco, Paulo Câmara. Uma escolha pessoal do petista e que impõe uma derrota direta ao líder do governo na Câmara, José Guimarães, que se empenhou até o fim para emplacar um aliado no cargo. Ou, pelo menos, um nome cearense. Detalhe sobre Câmara, que mês passado deixou o PSB, do qual não era um quadro histórico: ele é formado em economia e tem doutorado em finanças, currículo que teria pesado na escolha final de Lula. Caso raro em que o peso político parece ter sido relativizado.
"Assim fica difícil mobilizar a solidariedade coletiva da sociedade em torno de sacrifícios tão dolorosos para manter o fundamental ajuste fiscal do Estado"
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