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Ataque grosseiro à política, não à mulher
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Ataque grosseiro à política, não à mulher

O conjunto das falas dos dois vereadores, é só ver, não apresenta um só trecho que permita dizer que o gênero determinava as agressões feitas
1012gualter (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos 1012gualter

Sou 100 por cento favorável a todas as iniciativas que objetivem corrigir a distorção evidente que há no cenário político brasileiro em relação à presença das mulheres, subestimada em qualquer quesito que se considere. Até defendo que se amplie a cota atual obrigatória de 30% para candidaturas femininas na montagem das chapas proporcionais pelos partidos e coligações, entendendo que 50% representaria um índice mais justo. Digo mais, inclusive: o ideal seria destinar compulsoriamente uma parte das cadeiras nos parlamentos, talvez começando pelo piso de um terço delas, para ser ocupada por uma bancada feminina.

Por tudo isso, sinto-me à vontade para, enfrentando a discordância firme de amigas diletas (inimigas também, talvez), considerar que a vice-governadora Jade Romero (MDB) não foi vítima de misoginia no episódio das últimas semanas na qual se viu transformada em alvo de ataques rebaixados feitos pelos vereadores Lúcio Bruno e Adail Júnior, pedetistas e aliados do prefeito José Sarto. Foram termos duros, exagerados, injustos, equivocados, inconvenientes, mas não vejo neles o componente do machismo.

Jade foi agredida verbalmente pelos vereadores porque, de maneira legítima e manifestando-se como uma das vozes autorizadas do governo que integra, disse aquilo que eles não gostam de ouvir. Lembremos: ela criticou com a dureza necessária uma fala do vereador Carlos Mesquita, ex-líder do prefeito José Sarto na Câmara, na qual ele indicou que verbas destinadas ao tratamento oncológico de fortalezenses tinham sido retidas para pressionar a gestão Elmano de Freitas. A vice-governadora também sugeriu, no mesmo embalo, que o ex-prefeito Roberto Cláudio tende a trair Sarto mais adiante, repetindo, na versão dela, o que fez ano passado com Izolda Cela.

Lúcio Bruno e Adail Júnior acreditam estar cumprindo o papel de aliados do prefeito quando se contrapõem a qualquer voz, seja ela masculina ou feminina, que ouse dizer algo que venha a ferir sentimentos no Paço Municipal. Portanto, atinja os interesses políticos, particulares alguns, que defendem. As expressões depreciativas utilizadas, do tipo "garganta de aluguel" e "menina de recado", buscam uma desqualificação da interlocutora, porém, não me resta qualquer dúvida de que seriam utilizadas, feitos os ajustes de flexão, estivessem eles diante de um interlocutor. De um homem, portanto.

A verdade é que a vice-governadora não precisa pedir licença aos vereadores em questão, e a ninguém mais entre aliados ou opositores, para expressar sua opinião sobre temas da pauta política. A posição na qual está lhe garante protagonismo natural e voz para expressar-se sempre que considerar necessário. A questão a considerar é que o posto importante que ocupa lhe garante protagonismo na mesma intensidade em que a expõe.

O conjunto das falas dos dois vereadores, é só ver, não apresenta um só trecho que permita dizer que o gênero determinava as agressões feitas. O que não impede muita gente de fazer uma leitura interpretativa, aplicar fundamentos sociológicos etc para concluir que o machismo impulsionou o movimento. Penso diferente, buscando ser mais objetivo em relação àquilo que vejo, embora respeite o que se diz em contrário na farta análise que tem sido feita do episódio.

Aqui não se trata de fazer uma defesa de Lúcio Bruno e Adail Júnior, inclusive pelo aspecto em que eles não merecem, mas de refletir sobre a importância de a ocupação de espaço pelas mulheres se dar, como está acontecendo num ritmo que até deveria ser mais veloz, pela combinação de políticas afirmativas com a capacidade real que elas apresentam de firmar suas posições no debate político. E, sabemos todos, nem sempre a discussão se dá no nível elevado que gostaríamos.

Acaracuzinho e Sapucaí

Com as temáticas nordestinas em alta no criativo desfile de escolas de samba no Rio de Janeiro, a festa de 2024 abrirá espaço para Maracanaú. O município cearense vai ser cantado na Passarela do Samba através dos componentes da Acadêmicos de Vigário Geral, da série Ouro, espécie de segunda divisão da festa carioca. O enredo será "Maracanaú: Dos Pitaguarys ao Maior São João do Planeta" e, empolgado, o prefeito Roberto Pessoa (União Brasil) acompanha as coisas de perto e até já andou visitando o barracão da agremiação na Cidade do Samba. Claro que vai pingar dinheiro para a folia ficar mais animada.

Socialista e bolsonarista

Avolumam-se os problemas para o presidente do PSB no Ceará, o experiente Eudoro Santana, administrar às portas do processo eleitoral de 2024. Coisa que ele herdou e que decorre de uma postura um tanto frouxa na legenda quando se tratava, até outro dia, de demarcar melhor o limite até onde pode ir um filiado, especialmente quando exercendo mandato eletivo. Na Câmara de Vereadores de Fortaleza, por exemplo, dois integrantes são totalmente anti-Sarto (como quer Eudoro), Leo Couto e Eudes Bringel, no caso, enquanto o terceiro, Fábio Rubens, apoia o prefeito e, licenciado, até ocupa cargo na gestão. Mais do que isso, no cenário nacional é praticamente um bolsonarista. O cidadão que se vire para entender.

Fiz lá, posso fazer aqui

O Capitão Wagner, que segue com sua programação de encontros pela Cidade - ontem esteve no São Gerardo para conversa com moradores da Regional III -, considera ter um trunfo novo para a próxima campanha eleitoral: a experiência, enfim, de gestor. Os feitos que considera ter obtido como secretário de Saúde de Maracanaú estão listados e organizados para uma comparação direta com o cenário de Fortaleza. Não deixa de ser desafiador utilizar os dados de um município para conquistar simpatia e voto de um eleitor que, na verdade, reside em outro e pode ter dificuldade de adequar determinados ganhos ao seu cotidiano.

A reforma eleitoral

São reais as chances de o presidente Lula antecipar a reforma da equipe ministerial em função da disputa nas urnas em 2024. Pelo menos dois nomes do primeiro escalão se movimentam de olho em prefeituras e podem deixar seus cargos já em janeiro, conforme circula em Brasília: Márcio Macedo (PT), Secretário-geral da Presidência, e Luciana Santos (PCdoB), titular da Ciência e Tecnologia. Ele de olho na capital sergipana, Aracaju, e ela com planos de voltar a comandar a pernambucana Olinda, coisa que já fez por dois mandatos.

A solidez e o discurso

Na Assembleia, até outro dia, a oposição, com voz forte da bancada aliada ao prefeito José Sarto (PDT), questionava a solidez financeira real do Ceará, tão alardeada, ao criticar pedido de autorização para empréstimo de até R$ 900 milhões junto ao Banco do Brasil para amortizar dívidas vencíveis entre 2023 e 2025. Agora, a prefeitura de Fortaleza é cobrada no seu discurso de consistência fiscal diante de um pacote total de empréstimos no ano que soma R$ 2 bilhões. Até se pode dizer que é exatamente este equilíbrio que garante o crédito, mas, na política real, o campo está aberto para o debate. Anda mais com eleição batendo à porta.

O VaiVem que vai e vem

É previsto um clima de festa amanhã no Palácio da Abolição e a, depender dos organizadores, não será pequena. A sanção pelo governador Elmano de Freitas (PT) da lei que cria o VaiVem é parte das estratégias do governo para colocar um aliado no Paço Municipal, além de ajudar a impulsionar seus candidatos de preferência nos demais municípios da Região Metropolitana. A iniciativa é tão louvável e dramaticamente necessária, como efeito de uma população empobrecida, que não deveria estar vinculada a outros interesses. Mas o fato é que etá, inclusive no disurso dos que tentam diminuir sua importância econômica e social.

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