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Onde a polarização não se cria
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Onde a polarização não se cria

O segredo do México que vem conseguindo escapar da onda de polarização que assola o mundo
Tipo Análise
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Foto: Carlus Campos 0505gualter

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A marca do simplismo que costuma acompanhar os sensos comuns que muitos abraçam na busca de entender fenômenos sociais e políticos parece estar, de novo, determinando conclusões apressadas acerca das razões das ruas brasileiras estarem hoje sob controle aparente das forças de direita. É um debate que ganhou muito volume nos últimos dias pelo fracasso de público em evento realizado no dia 1º de Maio em São Paulo, com a presença do presidente Lula, oferecendo aos seus opositores imagens incontestáveis de um ato claramente esvaziado.

Lula irritou-se, e não poderia ser diferente, reclamando de erros na articulação do evento pelo Dia dos Trabalhadores, o quê de certa forma alimenta mais esse debate pouco profundo. Até porque, aquela situação ajudou a atenuar os sinais que a própria direita ultra mobilizada no Brasil apresentara em seus eventos recentes sem a pujança que antes parecia demonstrar, apesar da presença do seu líder Jair Bolsonaro. O fracasso de uma manifestação organizada pelas forças progressistas, com apoio e participação do governo, mudou a pauta com a rapidez que convinha ao conservadorismo que dá as cartas nas ruas do País atualmente.

.A gente fica olhando o que acontece no Brasil, replicado em países como Argentina, Equador, El Salvador, os Estados Unidos mesmo, considerado apenas o ambiente regional americano, e acaba levado à conclusão de que se trata de um fenômeno político inevitável. Simplismo, voltemos ao termo. Como mostra o que acontece no México agora, também aqui próximo, onde um presidente de esquerda, Andrés Lopez Obrador, caminha para fechar seis anos de mandato com aprovação em alta e tendo a candidata que apoia, Cláudia Sheinbaum, amplamente favorita na eleição de junho próximo. Num contexto em que a principal opositora, também uma mulher - Xochitl Galvez -, anda longe de representar um pensamento radical pela direita e tem até partido de esquerda na sua coalizão. Ou seja, a tal polarização ideológica de dois lados extremos que anda dominando o mundo e alguns entendem como impossível de evitar não parece vir interferindo no humor do eleitor mexicano.

Presidente do México, Andrés Manuel López Obrador(Foto: PEDRO PARDO / AFP)
Foto: PEDRO PARDO / AFP Presidente do México, Andrés Manuel López Obrador

Qual a fórmula de López Obrador, então? É preciso dizer que o México segue tendo problemas muito graves, especialmente no campo da segurança pública diante da ameaça de um crime organizado que afronta o Estado com seus cartéis de drogas e organizações paramilitares que chegam a controlar, de verdade, territórios inteiros do país. Os números continuam ruins, mas, aparentemente, o líder encontrou uma forma eficiente de se comunicar com a população e isso não se dá através das redes sociais. O caminho pelo qual optou é até bem convencional porque, basicamente, consiste em entrevistas coletivas diárias através das quais enfrenta de peito aberto as acusações, denúncias, protestos ou críticas que envolvam seu governo. No mínimo, sai dali com a sua versão apresentada à sociedade, eventualmente também com dados oficiais que nem sempre o noticiário ressalta com o destaque que o olhar oficial gostaria.

O resumo da história é que o governo mantém o controle da pauta política, é absolutamente transparente a partir de sua versão dos fatos e, fazendo uso de uma prática que muitos entendem ultrapassada, objetivamente dificulta que as fake news, em geral beneficiadas pela ausência de um contraponto que não buscam, possam circular com o peso da verdade que assumem hoje na realidade de muitos países. O Brasil dentre eles.

"O ato está mal convocado, nós não fizemos o esforço necessário para levar a quantidade de gente que era preciso levar" Presidente Lula, dirigindo-se ao Secretário-geral da Presidência, Márcio Macedo,ao se queixar da organização do ato em São Paulo, no 1º de Maio, e registrar a pouca presença de público

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Os motivos do garçom

Uma semana depois do assassinato do vereador César Veras (PDT), segue um clima de absoluta incredulidade em Camocim. Não há, até agora, uma só pista que indique de maneira mais consistente as possíveis motivações do garçom Antônio Charlan Rocha Souza, preso em flagrante no mesmo dia do crime. A própria família da vítima se admite surpresa com o acontecido porque havia uma relação pessoal próxima entre os dois e se desconhece qualquer atrito antes do acontecimento trágico. Tratando de ano eleitoral busca-se uma relação entre o fato e o tempo, mas a ideia de um surto, sem qualquer conotação política, parece ainda ser a mais crível.

O apetite da cúpula

O jogo bruto da cúpula petista para montar seu mapa de candidaturas Ceará afora começa a preocupar em relação aos resultados esperados. A disposição demonstrada de intervir nas decisões locais, ignorar e atropelar lideranças históricas em favor de aliados recentes, e até novos filiados, anda gerando muitas crises e algumas perdas que podem levar a efeitos eleitorais importantes. As situações se acumulam e já tiram o sono de gente que, até outro dia, só fazia cálculo otimista ao projetar o tamanho que o partido teria depois de contados os votos em outubro próximo. Talvez seja o caso de pisar um pouco no freio.

O desafio da secretária

A missão está entregue como prioridade do momento à secretária de Articulação Política, Augusta Brito, e vai dar trabalho para levar ao resultado esperado: o Palácio da Abolição quer convencer o deputado David do Raimundão, do MDB, a abrir mão de sua candidatura à prefeitura de Juazeiro do Norte para apoiar Fernando Santana (PT). Todos os apelos feitos nesse sentido até agora foram insuficientes e o plano do emedebista é de se manter na disputa, inclusive baseado no fato de dispor de pesquisas internas que indiciariam a viabilidade do seu nome.

E a contagem continua

A grande expectativa hoje no importante município caririense é quanto à possibilidade de haver segundo turno, situação que será definida a partir do próximo dia 8, com o encerramento do prazo para novos alistamentos. A justiça espalhou pontos de atendimento por vários bairros e a última contagem, feita durante a semana, indicava faltar apenas duas mil novas inscrições para se chegar ao número de 200 mil eleitores que a lei exige para realização de uma disputa em duas etapas. O resultado disso fará muita diferença inclusive para as estratégias de campanha, porque em algumas situações pode ser que a entrada de terceiras forças, algo antes indesejável, passe a se tornar interessante. Aguardemos.

Waldemir Catanho(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Waldemir Catanho

"Forasteiro" em campanha

Claro que isso aconteceria e acontecerá, não deve ser surpresa para quem montou a estratégia de campanha de Valdemir Catanho como candidato à prefeitura de Caucaia: adversários já tentam explorar sua falta de vínculo com a cidade, um fato e não necessariamente um defeito, colocando a turma engraçada das redes sociais para persegui-lo com perguntas que cheiram a pegadinhas sobre questões locais. O petista precisa estar bem treinado - e até se saiu bem nas primeiras investidas - porque assim será até o dia da eleição.

Novo nome, novo cenário

O quadro em Sobral caminha mesmo para o lançamento de Izolda Cela como candidata do prefeito Ivo Gomes. Existe lá uma oposição forte, liderada pelos parlamentares Oscar e Moses Rodrigues, pai e filho, mas a novidade trata-se de um nome com força pessoal bastante para exigir muito mais deles no esforço que se impuseram de interromper os 30 anos ininterruptos de gestão sob um mesmo grupo político. Lembrando-se que a trajetória dela envolve inclusive um período de nove meses como governadora, em si uma mostra do tanto que o desafio cresce.

 

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