
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
As disputas municipais consideram menos o contexto nacional, ou seja, nem sempre há como entender alianças e discursos nas campanhas por prefeituras a partir das orientações distantes que partem das cúpulas partidárias. Há uma lógica na cabeça do eleitor que o faz separar as situações e, com isso, fazer suas escolhas locais independentemente de influências de líderes nacionais. No caso de agora, as principais referências seriam Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro, o atual presidente da República e seu antecessor no cargo.
Feito o preâmbulo, a partir de agora vou contrariar um pouco a tese que apoio de que a tal polarização influirá em geral menos do que muitos imaginem na campanha de 2024, esboçada nas linhas acima, para apontar um quadro meio diferente para o caso de Fortaleza, onde o cenário nacional tende a ser mais considerado do que o usual nas estratégias de partidos e candidatos. É o que explica o fato de a capital cearense ter sido incluída entre as prioridades do petista Lula e do bolsonarista (na falta de uma identificação partidária mais precisa) Bolsonaro. Os dois virão por aqui ajudar seus candidatos, conforme já está decidido em ambos os casos.
Lula, que especialmente no Nordeste tem sido muito procurado para ajudar presencialmente nas campanhas de candidatos do PT ou de aliados, será bastante poupado de tais compromissos. Primeiro porque não é fácil conciliar a agenda de quem dirige um país com as complexidades do Brasil, também pelo ponto de que ele já não é mais uma criança e precisa de um tempo para descanso, e, finalmente, devido ao esforço que se fará de evitar complicações derivadas do quadro eleitoral que resvalem para o ambiente de Brasília, em especial o Congresso. Regra que decidiu-se ignorar no caso de Fortaleza.
Ao lado de São Paulo e Belo Horizonte, a cidade teria sido incluída entre as três capitais brasileiras nas quais Lula, por exemplo, deve se fazer presente às convenções homologatórias de candidaturas. Como aconteceu em 2022 com Elmano de Freitas, projeta-se a produção de imagens fortes na reunião programada para o próximo sábado, dia 3, no Centro de Formação, ao lado do Castelão, objetivando utilizá-las bastante ao longo da campanha.
No caso de Bolsonaro, André Fernandes, seu candidato, é o único que mantém a data da convenção em aberto, prevendo-se que aconteça entre 3 e 4 de agosto, sábado ou domingo próximos. Há quem diga que o suspense sobre o melhor dia esteja relacionado a negociações para trazer o ex-presidente a Fortaleza, criando a possibilidade "assustadora" de termos ele e Lula na cidade em momento simultâneo. Dá para imaginar o que isso representaria de tensão política, mas o certo é que Jair Bolsonaro virá dar uma força na campanha do aliado em algum momento conforme já deixou registrado em vídeos que o parlamentar publicou em suas movimentadas redes sociais.
De alguma forma, o confuso quadro político também estará presente no palanque do prefeito José Sarto (PDT) em sua tentativa de reeleição, através de Ciro Gomes. Um político cearense cujas atitudes e declarações hoje têm alcance para além de nossas divisas depois das várias candidaturas presidenciais, inclusive em 2022, e de uma trajetória nos últimos anos que mantinha o nosso estado apenas como uma referência de partida. Ciro movimenta-se, dizendo que não quer mais ser candidato a nada e convencendo a poucos de que esteja falando a verdade, na ideia de ser percebido como uma alternativa à polarização entre bolsonaristas e lulistas que dominou a política nos últimos anos e que ele diz ser danosa ao Brasil. O seu problema, talvez, é que para entrar nesse seleto grupo precisa de mais votos do que tem sido capaz de amealhar.
"Meu padrinho é o povo de Fortaleza"
Capitão Wagner, do União Brasil, pré-candidato que lidera as pesquisas em Fortaleza e que se esforça para minimizar a influência de líderes nacionais na disputa pela prefeitura
Os apressadinhos precisam ter um pouco mais de atenção com os prazos para campanha eleitoral, porque eles existem. Há aqueles com ações indevidas mais sutis e inteligentes, mas tem também os que agem como se autorizados já estivessem a fazer campanha. Os prazos são claros e não exigem interpretação. Outro dia, no trânsito, cruzei com um veículo que desfilava pela cidade carregando um adesivo no qual apareciam sorridentes, um ao lado do outro, o deputado federal André Fernandes, pré-candidato à prefeitura de Fortaleza, e seu (dele) mito Jair Bolsonaro. Depois esse pessoal é punido por desrespeito flagrante às leis e se diz perseguido pelas autoridades.
O prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa (União Brasil) gastou parte do seu tempo na semana falando a interlocutores, que o procuraram curiosos, sobre o reencontro recente com Ciro Ferreira Gomes, um desafeto antigo, em palanque no Juazeiro do Norte. Os dois já trocaram ofensas mútuas em nível bastante baixo, mas, agora, estão juntos no apoio à reeleição do prefeito Glêdson Bezerra (Podemos), que desafia lá o grupo de Camilo Santana. De quem Ciro é hoje inimigo figadal, enquanto Pessoa tem o petista como aliado, mas essa é outra história. O que ele tem dito aos curiosos? "O Ciro tá sozinho né? Tentando se aproximar de quem possa lhe dar alguma manchete no Ceará", disse ele, lembrando que já havia acontecido encontro dos dois antes, quando do velório do pai do ex-prefeito Roberto Cláudio. "Já ali nos cumprimentamos discretamente", relata, adiantando que não faz inimigos na política. Não sei se esta versão serena resistiria a uma pesquisa rápida de Google sobre o histórico de desentendimentos entre os dois personagens. Aliás, sei: não resistiria!
Está faltando explicação melhor, até hoje, para o afogadilho em que se deu a decisão da aliança sobre o nome para a vaga de vice na chapa a ser encabeçada por Fernando Santana (PT) na eleição de Juazeiro do Norte. Foram apenas algumas horas entre as primeiras postagens enigmáticas de Maricele Macedo (MDB) que apontavam sua indicação iminente e, na noite da mesma quinta-feira, dia 25, a realização da convenção que confirmou o nome dela para o posto. A rapidez foi tanta que as ausências de aliados de peso de outras agremiações, como Gilmar Bender, José Arnon e Geovani Sampaio, explicadas de várias formas, no primeiro momento até parecem justificadas. No segundo (momento), veremos.
Um cuidadoso trabalho é feito no PT para encontrar um jeito de convencer a deputada federal e ex-prefeita Luizianne Lins a ajudar de maneira efetiva na campanha de Evandro Leitão em Fortaleza. Entende-se, com razão, que a força dela junto a parcela do eleitorado não pode ser desprezado e que quem lhe segue fiel precisa ser melhor informado sobre sua opção. Focada, por enquanto, no objetivo de eleger o aliado Waldemir Catanho em Caucaia, a parlamentar, por enquanto, prefere manter distância dos movimentos na capital. Lembre-se que ela brigou até o fim pelo direito de ser a candidata e, concluído o processo nas instâncias internas, silenciou.
O excesso de holofotes em Fortaleza e Juazeiro do Norte ofuscou um pouco o quadro da disputa em Sobral, mas as pré-campanhas de Izolda Cela (PSB) e de Oscar Rodrigues (União Brasil) seguem a mil, enquanto a temporada de convenções não começa por lá. Ela, inclusive, tem surpreendido muita gente com seu ritmo na agenda de visitas a residências, uma estratégia de corpo a corpo para que possa se apresentar aos potenciais eleitores. Lembre-se que é a sua primeira experiência à frente de uma chapa majoritária, pois, duas vezes vice-governadora, acabava adotando papeis secundários nas candidaturas anteriores. Oscar também intensifica os contatos diretos em andanças pela cidade, sendo que já decidiu data, local e horário da convenção para homologar candidatura: será dia 3 próximo, a partir de 8 horas, no Palmeiras Country Clube.
No meu livro imaginário de memórias, Colombo Sá, que vem de nos deixar aos 87 anos e foi sepultado ontem, entraria no capítulo das figuras que comecei a admirar antes de conhecer. Sua voz e seu humor me ajudaram a dormir em muitas noites, quando criança e adolescente, através do seu inesquecível "Clube dos Teteus", especialmente nos tempos de ouro do rádio.
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