
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
A primeira semana de campanha oficialmente nas ruas, vista a partir da média do que colherem os institutos de pesquisas, aponta como primeira indicação de fenômeno nacional relacionado às eleições de 2024 a perda de força do ex-presidente Jair Bolsonaro na condição de líder do segmento de direita, conservador ou o que valha. Quem admira o "mito" talvez não goste da constatação, é possível inclusive que não concorde com ela, mas, aprendemos isso com o tempo, lidar com a realidade não é a característica mais evidente de boa parte deles. E delas.
O caso de São Paulo é o que chama mais atenção, considerando o tamanho da cidade e o peso político/econômico que dele decorre. Lá, Bolsonaro não tem conseguido transferir para o candidato que escolheu (por vontade ou circunstância) - o prefeito Ricardo Nunes (MDB) que tenta reeleição - o prestígio que avalia ter como nome principal de um movimento político que se mostrou resistente depois da derrota de 2022 e que se mantém atuante. Pablo Marçal (PRTB), a quem ele tem recusado ajuda, gravita em torno dele e cresce como candidato à sucessão paulistana, segundo está claro no detalhamento deste último Datafolha, exatamente em cima do próprio eleitorado bolsonarista, que ameaça dar de ombros à orientação do seu "amado" líder.
O crescimento de Marçal acontece em meio a um esforço do ex-presidente e de seus filhos, por ele autorizados a falar em seu nome, para transformar o ex-coach em inimigo, ou adversário, o que não é um dado irrelevante. Pode ser uma indicação inicial mais forte de que o bolsonarismo, como movimento político, estaria se descolando da figura de Bolsonaro, inclusive como forma de renovar seu entusiasmo com a ideia de negação ao status quo que ele dizia representar. Estranhamente, aliás, considerados os quase 30 anos de vida parlamentar ininterrupta que já tinha quando partiu para a aventura presidencial vitoriosa de 2018 que lhe lançou a uma prateleira nova do cenário político.
A situação de crise em São Paulo, que ganha destaque pelo que a cidade representa para o País, como já dito, não parece indicar um caso isolado de perda de influência de Jair Bolsonaro. Sua mais recente passagem por Fortaleza, trazendo o quadro aqui para perto de nós, andou longe de deixar o saldo animador de outros tempos, apesar do esforço que fez o candidato a prefeito André Fernandes, deputado federal do PL e um dos seus mais fiéis aliados, de alardear que faria, com a presença dele, a maior carreata da história da cidade. Não foi, por mais que a verdade dos fatos imponha-nos reconhecer que também não foi pequena.
A ideia inicial de que estar vinculado a Bolsonaro seria suficiente para fortalecer um palanque agora em 2024 tem esbarrado numa realidade que aponta mudanças, aceite ele (e sua turma mais fiel) ou não. O Datafolha que foi às ruas na semana mostra isso em vários cidades importantes: em Recife, o "sanfoneiro" Gilson Machado patina em 6% das intenções de voto; em Belo Horizonte, o deputado Bruno Engler aparece numa quarta posição, estacionado em 10%; no Rio de Janeiro, enfim, o deputado federal Alexandre Ramagem, aposta pessoal do ex-presidente, posiciona-se num humilhante 9% e assiste à distância o atual prefeito Eduardo Paes (PSD), com 56%, caminhar para uma reeleição tranquila.
O resumo de tudo, incluindo-se o imbróglio paulistano, é que o conservadorismo brasileiro que se movimenta pela direita-extrema já demonstra cansaço com suas lideranças e pode estar buscando uma bússola nova para se orientar. Pablo Marçal, mesmo que não se tenha anunciado assim e sequer haja certeza de que pense mesmo na possibilidade, pode estar começando a ser percebido nesse sentido devido à sua performance política em São Paulo. Por isso, inclusive, é que tem sido tão atacado pelo clã Bolsonaro.
É do interesse pessoal dele, mas também se avalia internamente que será muito necessário que Camilo Santana entre forte na campanha em Juazeiro do Norte. As coisas estão sendo organizadas para acontecerem pelo menos cinco viagens de Camilo Santana ao município até o dia da eleição, prevendo-se participação sua em atos de apoio à candidatura de Fernando Santana, deputado do PT e concunhado, que tenta conquistar o direito a sentar na cadeira hoje ocupada pelo prefeito Gledson Bezerra (Podemos). Vale lembrar que o atual ministro da Educação aparece, na pesquisa realizada pelo Atlas/Intel para o Grupo de Comunicação O POVO, com aprovação de 80% dos juazeirenses consultados. Uma recomendação de voto sua tende a ser ouvida e considerada por muita gente.
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O caso de Juazeiro do Norte, aliás, é um daqueles administrados com atenção pela articulação política do governo. O prefeito Gledson Bezerra é filiado ao Podemos, sigla administrada no Ceará pelo ultra-aliado Bismarck Maia, prefeito de Aracati, que mereceu até uma intervenção do comando petista no núcleo municipal para tirar a sigla da aliança formada em torno do candidato da oposição local, para onde tinha sido levada pelo deputado federal José Airton. Resultado: o grupo de Bismarck trabalha pela vitória de Gledson mas, nas palavras do deputado federal Eduardo Bismarck, filho do prefeito, se prepara para, concluída a eleição, deslanchar uma operação política para manter as portas do Palácio da Abolição abertas para o gestor juazeirense no caso dele vir a ser reeleito.
Não é por falta de tentativa do próprio Evandro Leitão que o senador Cid Gomes segue distante de qualquer atividade da campanha do PT, e aliados, em Fortaleza. Outro dia, o próprio candidato ligou para o líder do PSB e lhe fez um apelo direto para que encontrasse tempo na agenda para vir reforçar o trabalho de convencimento do eleitor. Uma conversa boa, tranquila, segundo relato de fonte, mas que não trouxe mudança no quadro de disposição do parlamentar, ex-governador e ex-presidente da Assembleia, de restringir sua ajuda ao que fez até agora, lutando para manter a sigla na aliança formal, mesmo depois de perder o direito à indicação da vice. Enquanto isso, Cid está de cabeça em várias campanhas pelo Interior.
A ordem da cúpula no Ministério Público do Ceará é clara: qualquer sinal de presença do crime organizado no processo eleitoral em curso, através de facções e semelhantes, deve ser energicamente coibida. Do gabinete do Procurador Geral da Justiça, Haley Carvalho, tem partido uma orientação no sentido de ser implacável com a questão, admitindo-se que ela preocupa hoje mais do que já o fez em campanhas anteriores. O esforço envolve ainda a parte eleitoral do Ministério Público, que tem como chefe no Ceará o Procurador da República Samuel Arruda. Será importante separar o joio do trigo, localizando também os espertos que podem tentar tirar proveito de um problema real para se dizerem alvo ou vítima da violência organizada, muitas vezes em ataques armados. Acontece também.
Não é um número solto o registro de que, quando chamado a se manifestar de maneira espontânea pelo Instituto Datafolha, na pesquisa divulgada nesta semana, parte dos eleitores de Fortaleza consultados tenham citado preferência pelo "candidato do PT", sem nominá-lo. O índice, de 1%, parece baixo, mas nenhuma outra legenda foi lembrada, o que quer dizer algo. Em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Belo Horizonte, a sigla aparece como a preferida dos ouvidos, muito distante do segundo colocado, o PL, nos quatro casos. A cúpula petista comemora muito tais resultados, mas, de verdade, costuma ter dificuldade para transformá-los em foco de uma estratégia que os traduza em votos.
No chamado bloco conservador de Fortaleza cresce a preocupação com o clima que pode se criar entre as campanhas do Capitão Wagner (União Brasil) e do André Fernandes (PL), em especial, mas que também envolve a candidatura de Eduardo Girão (Novo). De todos os lados envolvidos há gente temendo problemas mais adiante para rearticulação de forças numa perspectiva de segundo turno, contra o atual prefeito José Sarto (IPDT) ou Evandro Leitão (PT), identificados como os adversários reais. De público quem mais grita para que os ataques permaneçam no limite do administrável é o deputado estadual Felipe Mota (UB) que, inclusive, defende um entendimento para já e um acordo para que o melhor posicionado nas pesquisas receba o apoio dos outros dois já para 6 de outubro. Ou seja, na reta final eles desistiram para orientar o voto em favor do beneficiado pelo acordo. Dificilmente será ouvido, mas tenta uma reunião para colocar a proposta na mesa.
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