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O lado bom da conversa de Ciro com André
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

O lado bom da conversa de Ciro com André

Entenda-se o fato como um sinal de maturidade de um grupo que recém entrou no cenário e que até outro dia acreditava no purismo como único caminho aceitável
Tipo Análise
André Fernandes reuniu apoiadores e falou com Ciro por telefone (Foto: Daniel Galber - Especial para O Povo)
Foto: Daniel Galber - Especial para O Povo André Fernandes reuniu apoiadores e falou com Ciro por telefone

O movimento de aproximação entre figuras como André Fernandes, Carmelo Neto, Ciro Gomes e Roberto Cláudio, para ficar apenas nos exemplos mais referenciais e controversos, embute nele um aspecto que, do meu ponto de vista, parece positivo: seria um encontro da "velha" com a "nova" política, em nome da democracia. Entenda-se o fato como um sinal de maturidade de um grupo que recém entrou no cenário e que até outro dia acreditava no purismo como único caminho aceitável.

Em outras palavras, os jovens parlamentares que chegaram à vida pública atrelados ao bolsonarismo, parece que começam a abandonar, com gestos práticos, a ideia de que nada, nem ninguém, era aproveitável no cenário que encontraram estabelecido quando adentraram o jogo da política.

A grosso modo, claro, porque já estava no meio deles, sem gerar qualquer constrangimento, uma turma bem "famosa", do tipo Valdemar Costa Neto, Roberto Jefferson e outros mais, cujos carnavais passados são bem conhecidos de todos nós. Assim como das autoridades que, vez em quando, pegam os detentores de cargos públicos em malfeitos. Ou seja, o comportamento meio seletivo fazia parte de um discurso que a realidade já negava em várias situações concretas.

É sempre assim. A ideia que move muitos dos que entram na política se anunciando como novidade é a de que está tudo errado, vislumbrando como única alternativa possível implodir o que encontrar estabelecido e começar do zero.

Foi o que aconteceu com o próprio PT, dos tempos históricos em que surgiu, lá atrás, cheio de "virtudes únicas" e voluntarismo, apostando que não precisava de alianças fora da esquerda para conquistar espaços no cenário. Olhemos como ele está hoje, enfronhado no quadro político tradicional, tomado por velhos vícios e, até, em alguns episódios, puxando o bloco dos que se aponta agora como responsáveis por práticas que precisam ser superadas para sanearmos a atividade pública no Brasil.

As conversas entre Ciro, RC, André Fernandes, Carmelo e agregados, de ambos os lados, apresentam a grande virtude de virem acontecendo à luz do dia. Uma parte delas, claro, porque também existem movimentos que dizem respeito apenas às estratégias deles e que não precisam mesmo ser compartilhadas.

Já existem até sinais de disposição mútua de se fazer as autocríticas públicas necessárias em relação às visões agressivamente negativas que um lado até outro dia expressava sobre o outro, coletiva ou individualmente. Algo que será mesmo útil como esforço de redução do sentimento de incoerência que a aproximação tem gerado em certos setores relacionados.

É, de certa forma, a capitulação à institucionalidade de gente que entendia, antes, ter como missão criar um mundo paralelo e, como regra, ignorar o que encontrasse estabelecido para implantar apenas suas ideias. Aceitar que havia gente ocupando o espaço quando eles chegaram, mostrar disposição para uma conversa e até sinalizar para uma aliança eleitoral futura indica disposição do grupo que surgiu ancorado na ideia bolsonarista de fazer política, algo recente, de respeitar as regras de um jogo que não criaram, mas que aceitaram jogar. Bem vindos!

Janja, Bolsonaro e a agenda

A presença anunciada da primeira-dama do País, a socióloga Janja Lula da Silva, tende a ser o evento mais importante desta segunda-feira na agenda política cearense. E, ainda, uma das mais importantes de uma semana que terá ainda em Fortaleza o ex-presidente Jair Bolsonaro, esperado para um evento do PL na sexta-feira. As duas agendas acontecem no Centro de Eventos. Sobre Janja, o PT teria indicações, cientificamente apuradas através de pesquisas, de que a postura dela pró-ativa, ao contrário do que faz crer o senso comum, mais ajuda o governo do que atrapalha. Para entender como andam as coisas.

A realidade não está ali

Quem quiser que se empolgue, ou se desanime, com o que apontam os números do instituto Paraná Pesquisa apresentados na semana sobre o quadro pré-eleitoral no Ceará, mas a verdade é que eles têm muito pouca relevância. Há nomes ali, especialmente na briga pelas duas vagas ao Senado, que não faz sentido sequer que constem como hipótese hoje. De outra parte, como aferir a força real da oposição sem incluir o nome de Ciro Gomes como candidato ao governo? Não parece que os cenários mais prováveis da briga por cargos majoritários tenham sido efetivamente testados.

A resistência de Cid

O presidente da Assembleia Legislativa, Romeu Aldigueri, diz fazer parte do grupo próximo ao senador Cid Gomes que, sempre que pode, tenta dissuadi-lo da ideia de não disputar reeleição no próximo ano. Até agora, admite, sem qualquer sinalização clara dele no sentido de repensar sua intenção e, em todas as vezes que isso exige, reforçando o apoio ao deputado federal Junior Mano, hoje também no PSB, como sua escolha para a chapa. Aldigueri não diz isso, mesmo perguntado, mas o nível de entusiasmo do grupo todo com a sugestão apresentada segue muito baixo e exigirá trabalho do escolhido para ser revertido. A vantagem dele é que já parte com um número grande prefeitos apoiando-o.

O reencontro dos aliados

Aos poucos a coisa vai se reacomodando na política de Juazeiro do Norte. Outro dia, por exemplo, notou-se a presença do empresário Gilmar Bender em evento organizado pelo prefeito Glêdson Bezerra (Podemos) para assinar autorização de obras de pavimentação na importante cidade caririense. Os dois foram aliados políticos em 2020, mas estavam em palanques diferentes no ano passado, quando Bender decidiu apoiar a oposição e Fernando Santana (PT). Agora diz estar focado apenas nos negócios e até elogia a atual gestão, coisa que andou sem poder fazer por um tempo.

O PT em dois momentos

Enquanto o presidente Lula sofreu na mão deles, ao ser recebido com vaias na 26ª Marcha dos Prefeitos na quarta-feira, em Brasília, seu correligionário cearense Elmano de Freitas recebeu tratamento vip de parte da delegação cearense, com a qual se encontrou na noite daquele mesmo dia para um jantar organizado pelo presidente da Aprece, Joacy Júnior (Juju). Havia mais de 100 deles, segundo gente que andou contando os presentes, e, caso aquele clima se prolongue até a temporada eleitoral de 2026, o governador larga bem na frente para briga que deve marcar a disputa pelo poder no Ceará. O problema é que ainda são 17 meses pela frente, tempo bastante para muita confusão política.

 

 

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