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Acerto dos caciques e dúvidas dos índios
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Acerto dos caciques e dúvidas dos índios

O que nasce, com a fusão do PP e União Brasil, é algo grande no plano nacional, como ficou demonstrado na festa realizada na semana em Brasília, com, por exemplo, 12 governadores presentes
2408gualter (Foto: Carlus Campos)
Foto: Carlus Campos 2408gualter

Envolverá ainda uma engenharia política intensa finalizar os acordos que farão funcionar pelo País, com a lógica esperada, a superfusão entre PP e União Brasil. Já se sabia desde o começo que não seria fácil, considerando a marca principal das duas legendas envolvidas, que sempre foi o respeito às realidades locais como forma de garantir liberdade aos filiados, especialmente quando lideranças políticas e detentores de mandatos, para tomar suas decisões livres de amarras nacionais.

O que nasce é algo grande no plano nacional, como ficou demonstrado na festa realizada na semana em Brasília, com, por exemplo, 12 governadores presentes. Os números de largada impressionam seja qual for a expectativa em que forem observados: 109 deputados federais, 15 senadores (com a adesão ao PP esperada para os próximos dias de Margarida Buzetti, egressa do PSD) e 1.335 prefeitos espalhados pelo Brasil. Uma máquina gigantesca, mas exige algum cuidado projetar o futuro da federação que surge imaginando-a como algo único.

Leia também: A federação e o futuro da política no Ceará e no Brasil

É ver o caso do Ceará. A cúpula estadual do PP tem uma forma de analisar o quadro, mantendo-se simpática ao governo atual, participando dele e, e em princípio, sendo favorável à permanência de seu comandante, Elmano de Freitas; acontece que as vozes mais fortes do União Brasil integram a linha de frente da oposição desde sempre e dali se espera que saia um nome, da própria sigla, que lidere o palanque para brigar pela conquista do Palácio da Abolição. Seriam posturas inconciliáveis não fosse a característica que marca a forma de fazer política dos personagens envolvidos.

Quando se conversa com figuras de um e do outro lado, em geral, políticos de larga experiência, o clima captado indica uma sinalização mútua de oferta de uma paciência para que as coisas sejam conduzidas pelas cúpulas nacionais evitando açodamentos que possam levar a crises ou rachas. Zezinho Albuquerque, que simboliza com sua força o lado do PP, e o Capitão Wagner, que representa a melhor síntese dos interesses que movem a parte predominante do União Brasil, sabem que o processo exigirá serenidade deles. E parecem dispostos a exercê-la até o limite do possível, porque para tudo há um limite.

O quadro precisa mudar além do que as condições reais permitem supor para imaginarmos os dois grupos juntos em 2026, no mesmo palanque e defendendo uma mesma ideia de candidatura, numa linha ou em outra. É inimaginável, olhando para o que temos agora de realidade concreta, que o grupo de Zezinho Albuquerque, com tudo que ele tem de prestígio e força acumulada em tanto tempo de trajetória pública, submetendo-se à orientação da turma do União Brasil, boa parte dela formada por gente com quem nunca teve qualquer aproximação. Pelo contrário, na era contemporânea da política cearense sempre esteve em lados opostos. O que faz supor que a recíproca seria verdadeira.

O que acontece é que na política controla-se as coisas até determinado ponto e, a permanecer como está hoje o cenário, com as duas legendas agora fundidas numa ideia de federação em posições bastante claras para 2026, no âmbito local, em algum momento algo acontecerá. Os caciques, que existem de sobra nas duas pontas, podem ter dificuldade de segurar seus liderados, a depender de como o quadro evolua na briga pelo poder cearense no próximo ano. A expectativa com os próximos capítulos é, justificadamente, grande.

Espaço para política, com "P" maiúsculo

Pelos nomes esperados no evento de lançamento do Anuário do Ceará 2025/2026, que acontece amanhã, a partir de 19 horas, no La Maison, os bastidores políticos serão quentes. O fato de estarem circulando pelo local figuras como o governador Elmano de Freitas (PT), o prefeito Evandro Leitão (PT), o presidente da Assembleia, deputado Romeu Aldigheri (PSB), o ex-prefeito Roberto Cláudio (sem partido), o ex-deputado Capitão Wagner (União Brasil) e o deputado estadual Carmelo Neto (PL), para citar apenas uns poucos exemplos dentro de uma extensa lista de presenças confirmadas, o ambiente tende a ficar bastante animado.

E, claro, democrático. Como não é um evento da política, mas também destinada aos políticos, haverá espaço para circulação de todas as ideias dentro de um mesmo ambiente, o que parece algo raro nos tempos atuais em que o mundo se vê dividido em bolhas e as pessoas com algum nível de representação pública costumam buscar apenas o conforto de ter ao seu lado quem pensa igual.

Outro aspecto importante diz respeito ao momento, que é de muita movimentação e de conversas para acertos sobre a disputa de 2026, que, no calendário político, já praticamente começou. É muito comum que os encontros casuais que acontecem em ambientes sociais do tipo que eventos assim demarcam, menos afetados pela contaminação doentia dos espaços atuais da política, abram oportunidade para aproximações ou reaproximações. Acaba que os envolvidos estão menos desconfiados e, não raro, as conversas fluem com mais facilidade. E, quem
sabe, resultados.

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Aline Albuquerque, filiada ao Republicanos, filha de Zezinho Albuquerque e ex-prefeita de Massapê, teve o nome indicado para vaga de conselheira da Agência Reguladora do Ceará (Arce). Falta agora apenas aprovação da Assembleia Legislativa, que virá sem problemas.

Movimento que acontece simultaneamente à história da federação que, em tese, empurra o grupo do qual ela faz parte para uma tendência de oposição. É isso que determina os caminhos na política e, se aceita conselho, em casos assim não acredite em coincidência.

Domingos Neto (PSD) assume na próxima terça-feira a estratégica missão de coordenar a bancada do Ceará em Brasília, formada pelos 22 deputados que ocupam cadeiras na Câmara e pelos três senadores. Substitui a Moses Rodrigues (União Brasil).

Não é um cargo que dê hierarquia sobre os outros, mas, dependendo de quem o ocupe, pode ajudar a encaminhar as coisas de interesse do Ceará de forma um pouco mais organizada. Convenhamos que no caso, encontrou-se a pessoa certa pelo perfil agregador.

Eduardo Girão (Novo) avoca pra si boa parte da responsabilidade, no sentido positivo, da vitória da oposição sobre o governo na semana com a escolha do senador Carlos Viana (Podemos-MG) como presidente da CPMI do INSS.

Pode fazer sentido porque o senador cearense era candidato ao posto, havia mais dois integrantes do Novo na Comissão e ele saiu da disputa na reta final. Como foram dois votos de diferença sobre o governista Omar Aziz (PSD-AM), a conta pode bater.

Geovani Sampaio, ex-prefeito de Juazeiro do Norte e atualmente diretor do Hospital Regional do Cariri, foi acusado por Ciro Gomes de ter sido indicado para o cargo por critérios eminentemente políticos, "mesmo não dispondo das qualificações para exercê-lo"

A resposta veio forte, no mesmo nível que o ex-governador costuma dirigir-se aos adversários. Coisa do tipo "canalha", "falastrão", "vou comparecer aos seus comícios na região para dizer quem você é e quero ver me botar pra correr" etc etc. É o que teremos, a depender da interlocução.

 

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