Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Leitão ataca o que era até então o principal trunfo de RC para a disputa do que ano vem, qual seja, a retórica da responsabilidade fiscal e do rigor com as contas públicas
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O ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio (PDT) precisou calibrar o discurso para 2026 depois das críticas do atual chefe do Paço, Evandro Leitão (PT). Sucessor de José Sarto (PDT) no Executivo, o petista neutralizou o que era até então o principal trunfo de RC para a disputa do que ano vem, qual seja, a retórica da responsabilidade fiscal e do rigor com as contas públicas.
Desde a transição, Evandro tem dedicado energia a atacar precisamente esse ponto, fazendo demonstrar um sem número de problemas relacionados à saúde financeira da Capital. Das dívidas que se acumulam ao sucateamento dos equipamentos, o gestor tenta minar a plataforma responsável pela reeleição de RC em 2016 e pela vitória de Sarto em 2020 - ambas, frise-se, com apoio decisivo de Evandro e de Camilo.
Nesse movimento, o prefeito impôs um lance forçado a RC: passar da economia - a tônica de suas intervenções dirigidas ao governo de Elmano de Freitas - para a da segurança, ainda um flanco exposto do Abolição. Esse deslocamento de agenda fez com que o ex-prefeito convergisse para o campo de outro opositor: Capitão Wagner (União). O resultado, por enquanto, é favorável ao governador, que tem hoje um aliado enfrentando o PDT "cirista" num setor no qual RC dava as cartas (a economia).
Evidentemente, Sarto tem dado valorosa colaboração a Evandro e Elmano ao não esboçar reação ante essas investidas, pavimentando o caminho para que a tese de que sua administração foi um descalabro se torne a única em voga na praça.
E não se trata apenas do ex-prefeito, mas de todo seu entorno. É notável o silêncio que impera entre ex-secretários, sobretudo do ex-vice-prefeito Élcio Batista (PSDB), sempre muito vocal na defesa do então chefe.
De dezembro até agora, todavia, não se ouviu uma ressalva de quem quer que fosse. Há duas leituras: uma é que cada um dos ex-aliados está às voltas com uma espécie de "harmonização política", mais preocupados em se reposicionar no cenário. A outra é que a intenção é deixar mesmo que o peso recaia sobre os ombros de Sarto.
O senador Cid Gomes (PSB) consolida amanhã um processo cuja origem está no racha entre PDT e PT, ainda em julho de 2022. De lá para cá, o ex-governador liderou um grupo, entre deputados e prefeitos, que foi gradativamente migrando para o PSB, a nova casa partidária do Ferreira Gomes.
Rompido com o irmão Ciro, que se mantém no trabalhismo, Cid vem fazendo da legenda socialista uma sigla influente para os rumos do pleito de 2026. Esse capital cidista se amplia nesta sexta-feira, 7, com a assinatura da ficha de ingresso no PSB de 13 deputados (uma dezena de titulares e três suplentes).
Do bloco, somente dois seguiam em dúvida: Oriel Filho, que tende a se filiar ao PT, e Bruno Pedrosa, de futuro incerto. Os demais embarcam no partido dirigido por Eudoro Santana. Cumprida essa etapa, Cid terá mais condições de sentar à mesa para negociar a montagem da chapa governista.
O que já se convencionou chamar de "guerra dos bonés" é uma tentativa atrapalhada do governo Lula de recuperar terreno na disputa das redes, tomando para si o controle da pauta nessa arena com regras próprias: saem os grandes debates, entram as picuinhas.
Com as eleições batendo à porta, o Planalto, agora com Sidônio Palmeira capitaneando a Secretaria da Comunicação, pretende explorar fragilidades do bolsonarismo, encarando os adversários em seu próprio território e recorrendo ao arsenal típico dessa falange.
O boné, nesse sentido, é signo que constrange duplamente os aliados do ex-presidente: por sequestrar o objeto que remete a Trump, fazendo uma releitura de conteúdo/forma; e por desmascarar um patriotismo que faz reverência aos EUA.
Política como cenário. Políticos como personagens. Jornalismo como palco. Na minha coluna tudo isso está em movimento. Acesse minha página
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