Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
À coluna, membros de ao menos quatro partidos da base do Abolição se queixaram da "atitude" do senador, notadamente do que classificaram como certa "gula" ante cenário ainda por se definir
Foto: AURÉLIO ALVES
Evento para receber novos deputados ao PSB causou tectonismo na base do governador Elmano de Freitas (PT) com vistas a 2026
A esta altura, já se sabe que o ato partidário promovido pelo senador Cid Gomes (PSB) na sexta passada rendeu bem mais do que aquilo que se imaginava. Convocado para receber deputados estaduais de saída do PDT com destino ao PSB, o evento causou um tectonismo na base do governador Elmano de Freitas (PT) com vistas a 2026.
Entre outras coisas, Cid anunciou na agenda um candidato ao Senado (Júnior Mano), apresentou nomes para deputado federal (Romeu Aldigueri, que assumiu a Assembleia Legislativa) e projetou Fernanda Pacobahyba (hoje à frente do FNDE) para a sucessão do próprio Elmano em 2030.
De passagem, reforçou que não tem interesse em pleitear novo mandato ano que vem, mas que poderia postular vaga na Câmara dos Deputados, a depender do arranjo. Em suma, como de hábito, Cid compensou numa manhã os longos silêncios que mantém, durante os quais fica patente que o ex-governador está sempre alguns passos adiante.
Foi precisamente esse avanço, aliás, o elemento desestabilizador de seu discurso na semana passada. À coluna, membros de ao menos quatro partidos da base do Abolição se queixaram da "atitude" do senador, notadamente do que classificaram como certa "gula" ante cenário ainda por se definir.
Alguns em reserva, claro, mas houve quem criticasse Cid e o PSB abertamente, como foi o caso de Luiz Gastão, deputado federal e dirigente municipal do PSD.
Gastão serve torta de climão
Foto: Samuel Setubal
LUIZ Gastão
Questionado sobre como havia recebido as declarações de Cid, Gastão foi direto. "Acho que o PSB está querendo chegar e ir ocupando todos os espaços da chapa. Da forma que vai, ele vai pedir também o lugar de governador", disse à coluna logo depois de participar do programa Debates do Povo, na rádio O POVO CBN, na última sexta, 7.
O pessedista então acrescentou: "O PSB está guloso demais, sem deixar nada para ninguém". Para ele, "todo partido almeja ter mais espaço e mais ações, mas se você busca uma composição com todos os aliados, a chapa majoritária tem que caber todo mundo".
O deputado enfatizou ainda que "nós temos que buscar fazer com que todos possam participar, dentro do tamanho que cada um vai ter e do peso nas eleições", ressaltando mais uma vez que, segundo ele, o "o PSB está querendo chegar e ir ocupando todos os espaços" e que "a gente tem que tomar cuidado".
Do PT ao MDB, passando pelo Republicanos, as mensagens de Cid foram lidas entre a descrença e o incômodo, principalmente quando o pessebista catapultou Mano como pré-candidato a senador - mesmo que sob condicionantes e falando até num tom mais informal.
Ora, sem o deputado no tabuleiro, a briga pelas duas vagas na chapa governista era já acirrada, com pelo menos quatro cotados: José Guimarães (PT), Eunício Oliveira (MDB), Chiquinho Feitosa (Republicanos) e Cid. Inesperada, a entrada do parlamentar, até outro dia filiado ao PL de Bolsonaro, está por ser digerida.
Uma liderança de um dos maiores partidos da base, por exemplo, segredou: Mano não resistirá à investida jurídica que se anuncia. Um outro deu de ombros: "Cid é mero filiado (ao PSB). Esse (partido) é do Camilo. Zoada não decide, deixa ele achar que manda".
As cartas na mesa
Embora tenha demonstrado pouca disposição para renovar mandato no Congresso, Cid começou a colocar suas cartas para 2026: apoio à reeleição de Elmano, desde que haja contrapartida em 2030, com a indicação de um nome do PSB (Pacobahyba, próxima de Cid e de Camilo Santana).
O ex-governador também admitiu abrir mão da cadeira no Senado, mas somente na hipótese de apresentar um candidato à vaga na chapa.
Considerando-se tudo isso, e mais a pretensão de eleger a maior bancada de deputados estaduais e federais no PSB, é possível que os planos do Ferreira Gomes passem por esse domínio gradual, avançando posição a posição.
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