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Os efeitos do "michellismo" para Ciro
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

Os efeitos do "michellismo" para Ciro

Após Michelle Bolsonaro afastar aliança com Ciro Gomes, governistas cearenses podem ter comemorado prematuramente. A não aliança facilita a Ciro formar aliança de centro-direita sem o peso do bolsonarismo
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 Ciro Gomes e Michelle Bolsonaro (Foto: FÁBIO LIMA / JÚLIO CAESAR)
Foto: FÁBIO LIMA / JÚLIO CAESAR Ciro Gomes e Michelle Bolsonaro

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É possível que o governismo no Ceará tenha comemorado muito cedo o clima de "barata voa" na oposição depois da passagem de Michelle Bolsonaro pelo Estado no último domingo, 30, quando a ex-primeira-dama afastou a hipótese de aliança com Ciro Gomes (PSDB) para a corrida eleitoral de 2026.

Explico: para o Abolição, talvez o cenário mais interessante fosse esse no qual o tucano e o PL estivessem de mãos dadas, num amálgama que facilitaria a operação de colagem do desgaste de Jair Bolsonaro na imagem do ex-ministro. Sem que esse casamento do cirismo com o bolsonarismo se sacramente, contudo, Ciro pode ficar à vontade para formatar uma composição de centro-direita sem a pecha de estar mancomunado com atores cuja biografia ele costumava desancar.

Do ponto de vista do discurso, então, não seria mau negócio para o ex-presidenciável essa separação, com cada força apresentando seu nome ainda no primeiro turno. Ocorre que as chances do bloco anti-PT dependem grandemente de sua capacidade de articular um palanque único no Ceará. Logo, se facilitaria a vida de uma chapa encabeçada por Ciro não ter de ficar consumindo energia para se explicar ao eleitorado, por outro essa cisão fragilizaria a posição dos adversários de Elmano de Freitas.

Jogo aberto

Não se sabe de fato, porém, como o deputado federal André Fernandes deve se portar de agora em diante. Afinal, o dirigente do PL vai deixar em "banho-maria" essa tratativa com Ciro e o PSDB de olho na consolidação de uma candidatura única, retomando-a apenas quando a poeira assentar, lá para meados de 2026? Ou irá encampar um quadro "puro-sangue" para o pleito?

A depender do que Fernandes e a direção do PL decidam oficialmente, o poder de fogo oposicionista aumenta ou diminui no Estado, o que não significa que as movimentações já deflagradas quando da filiação de Ciro ao PSDB estejam de todo comprometidas. Pelo contrário. À coluna, um interlocutor afiançou que o social-democrata tende a galvanizar apoios dentro do PL ainda que a legenda de Bolsonaro entre na briga com concorrente próprio.

"Michellismo"

Há uma espécie de "salto-alto" no modo como parte da esquerda tem interpretado os passos de Michelle Bolsonaro até aqui, tomados sob lente folclórica. É um risco. A ex-primeira-dama vem fazendo exatamente o que o trio de "irmãos patetas" não consegue, isto é, mobilizar as bases e a energia política que catapultaram Jair Bolsonaro para o Planalto em 2018.

Para tanto, a presidente do PL mulher tenta ocupar o papel do personagem antissistema dentro da legenda, afastando alianças impuras e agenciando valores caros para um eleitorado que constitui o núcleo duro do bolsonarismo. Único elo do grupo com as igrejas evangélicas, Michelle também reorganiza esse segmento, apresentando-se como alternativa - por ora, sem dizer expressamente que é candidata à Presidência.

A tese segundo a qual seus planos são se cacifar para uma vice de Tarcísio não explica os movimentos que o "michellismo" vem fazendo, inclusive desmantelando acordos que o marido havia chancelado.

Em visita ao Ceará, Lula foi recebido pelo governador Elmano de Freitas e o ministro Camilo Santana(Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Em visita ao Ceará, Lula foi recebido pelo governador Elmano de Freitas e o ministro Camilo Santana

Convém não subestimar

As pesquisas, por sua vez, já testam o potencial de voto da ex-primeira-dama, que começa a superar o governador de São Paulo nas sondagens. Sob holofotes crescentes, como os que se projetaram na semana passada - foram sobretudo o nome e a fotografia de Michelle que se consumiram nas redes -, ela estabelece os marcos de um capital pessoal que vai se expandindo, associado ao marido, sim, mas também a sua capacidade de representar para uma parcela dos brasileiros o que nem Carlos, nem Eduardo nem Flávio poderiam.

 

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