Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO
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O resultado da eleição no Uruguai semana passada, com a vitória de Yamandú Orsi, foi mais um dos muitos exemplos recentes de um candidato da oposição obtendo êxito nas urnas. Cada vez mais falado, o fenômeno da anti-incumbência não é algo novo e tampouco raro na política da América do Sul.
Como bem mostrou reportagem assinada no O POVO por Vítor Magalhães na última semana, este tem sido um movimento recorrente na região.
Pelas bandas de cá, apenas o Paraguai tem visto a hegemonia do Partido Colorado (direita) seguir inabalada. Até mesmo a Colômbia quebrou em 2022 a sequência de sempre eleger presidentes de direita ao empossar o progressista Gustavo Petro, muito embora sejam poucas as chances de ele conseguir uma reeleição em 2026.
Pesquisa AtlasIntel divulgada em novembro aponta que das cinco maiores economias da América Latina (Brasil, México, Argentina, Colômbia e Chile) apenas os presidentes dos dois primeiros têm índices de aprovação maiores que os de desaprovação.
No caso de Lula, em cenário de empate técnico dentro da margem de erro. Em relação a Cláudia Sheinbaum, uma presidente recém-empossada que, apoiada por um presidente com alta popularidade, conseguiu quebrar essa onda anto-incumbência.
Mas a força das oposições em regimes democráticos também é vista fora da América Latina. São muito marcantes os exemplos de partidos considerados hegemônicos que até venceram nas urnas, mas colecionaram derrotas simbólicas de peso ao longo de 2024.
Cito aqui como exemplos os resultados neste ano do ANC, tradicional partido de Nelson Mandela que pela primeira vez não obteve maioria de votos na África do Sul; do BJP, do premiê Narendra Modi, que não confirmou a esperada vitória avassaladora na Índia; e os liberais-democratas do Japão, cujo primeiro-ministro Ishiba Shigeru terá de fazer um governo de minoria.
Sem citar as dezenas de casos de alternância real de poder que ocorreram recentemente – como a vitória dos trabalhistas no Reino Unido e de Donald Trump nos EUA – ou as que se desenham em um futuro próximo, vide os prognósticos para 2025 nas eleições da Alemanha e do Canadá.
Chovem teorias que tentam explicar as razões que resultam neste movimento anti-incumbência. As mais comuns fazem a relação direta do fenômeno como consequência de grandes eventos que mexem com a economia global como a crise de 2008 e o período atual de pós-pandemia com alta inflacionária mundo afora.
Mas eu gostaria de propor uma reflexão que vai além da macroeconomia e tangencia um pouco o sentimento e as expectativas das pessoas.
A geração que nasceu em meados nos anos 1980 cresceu em um mundo cheio de promessas. Um mundo pós-Guerra Fria, no qual a ameaça nuclear ficara para trás, muito mais conectado e esperançoso com o que a globalização tinha a oferecer.
A ideia era de que se um indivíduo tivesse uma formação um pouco acima da média já seria o suficiente para ter um ótimo emprego e ficar despreocupado financeiramente.
A realidade de hoje expõe que todo esse otimismo de outrora parece ser um risco desnecessário a se correr. E as pessoas já se tocaram – algumas das piores formas possível – que elas não vão ficar ricas com base apenas no estudo e no trabalho extenuantes. A geração que ocupa atualmente a faixa mais gorda da pirâmide etária tem a exaustão e a frustração como marcas.
Todos esses sentimentos são inevitavelmente direcionados ao governante de momento. Antes, estar no poder era sinônimo de dominar a máquina para manter e ampliar este mesmo poder. Hoje, ter a caneta das decisões significa transformar a si mesmo em um grande e frágil teto de cristal.
Pensar em alternativas para melhorar a relação das pessoas com o trabalho e lhes dar uma boa perspectiva menos simplória e um pouco mais palpável pode ser uma boa saída para líderes democráticos que queiram quebrar este ciclo de vaivém no poder.
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