João Paulo Biage é jornalista há 13 anos e especialista em Comunicação Pública. De Brasília, acompanha, todos os dias, os passos dos parlamentares no Congresso Nacional e a movimentação no Palácio do Planalto, local de trabalho do presidente. É repórter e comentarista do programa O POVO News e colunista do O POVO Mais
Da vigília à prisão: o caminho de Bolsonaro até a PF
Ex-presidente foi levado à superintendência da Polícia Federal em Brasília por possível tentativa de fuga. Ele confessou ter violado a tornozeleira eletrônica.
Foto: EVARISTO SA/AFP
Bolsonaro está preso em uma sala que mede 12 m², na Superintendência da PF em Brasília
Sexta-feira, 17horas. Flávio Bolsonaro grava um vídeo na frente do condomínio do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, convocando apoiadores para uma manifestação: o filho 01 clamava por uma vigília de oração na frente do condomínio, já que, segundo ele, a prisão do pai estava próxima.
Sábado, 00h07. Pouco depois da meia-noite, o Centro Integrado de Monitoramento (Cime), órgão que faz parte da Secretaria de Justiça e Segurança Pública do Distrito Federal, comunica à PF que a tornozeleira de Jair Bolsonaro emitiu alerta de tentativa de violação. Veículos dos dois órgãos se dirigiram à casa do ex-presidente e ouviram dele a confissão. "Meti ferro quente. Curiosidade", disse Jair. "Ferro de passar?", perguntou a juíza Rita de Cássia Siqueira, responsável pela diligência. "Ferro de solda. Foi curiosidade", reafirmou Bolsonaro.
A partir daí, os eventos não têm horário certo, mas aproximado. O delegado da PF responsável pela investigação escreveu relatório e pediu a prisão de Bolsonaro. O documento chegou ao STF por volta de 00h30, segundo fontes da coluna. Moraes acionou a Procuradoria-Geral da República, que se manifestou a favor da prisão perto das 2horas. Às 2h30, Alexandre de Moraes emite a ordem de prisão, cheia de cuidados com o ex-presidente: os agentes deveriam prendê-lo em carros descaracterizados, sem algemas e a Polícia Federal precisava garantir acompanhamento médico por 24h.
Já na superintendência, onde Bolsonaro está preso em uma cela de 12m², com ar-condicionado, TV, banheiro privativo e cama de solteiro, o ex-presidente foi assistido por dois médicos. O primeiro carregou uma mala de medicamentos, que, segundo a defesa, são usados diariamente por Bolsonaro. A segunda doutora foi chamada pela PF, fez exames físicos em Jair e o liberou para ficar na cela.
Logo depois, chegaram os advogados Paulo Amador Cunha Bueno e João Henrique Freitas. O primeiro entrou logo, mas o segundo ficou 15 minutos na porta. Ele não estava listado como parte da defesa de Bolsonaro, algo que teve que ser feito por Bueno já dentro da PF. A pergunta "Agora, advogado não pode entrar?", feita por João, atiçou os bolsonaristas que estavam no local.
Em menor número, os ditos patriotas passaram a gritar com mais veemência contra os lulistas que lá estavam. A Polícia Militar do DF colocou duas viaturas entre os dois grupos para evitar confrontos. Não deu certo: empurrões de lado a lado deixaram a situação ainda mais tensa. A briga só terminou quando os opositores de Bolsonaro deixaram a PF com destino ao Pardim - bar frequentado por eleitores da esquerda.
Bolsonaro dormiu na prisão e não deve voltar para casa, onde cumpria prisão domiciliar, tão cedo. Durante a audiência de custódia, ele disse ter tido "uma certa paranoia" causada por medicamentos, ouviu vozes da tornozeleira e, por isso, tentou abri-la. A confissão dá razão ao pedido de prisão.
Com o apoio médico 24h por dia e uma cela que mais parece um quarto de hotel, Moraes vê o ex-presidente longe de qualquer risco de saúde. Ele desconsiderou o pedido de cumprimento da pena, de 27 anos e 3 meses, em casa. A tentativa de fuga tirou de Bolsonaro esse possível benefício.
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