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Fraport devastadora e devastada
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Redator do blog e coluna homônimos, diretor de Jornalismo da Rádio O POVO/CBN e CBN Cariri, âncora do programa O POVO no Rádio e editor-geral do Anuário do Ceará

Fraport devastadora e devastada

O que o episódio do desmatamento de 32 hectares em Fortaleza pela alemã Fraport suscita é a aparente subestimação da inteligência e sensibilidade média do distinto público. Os acionistas deveriam medir o peso das árvores e dos animais nesta balança. Cronogramas do gênero devem calcular o dilema lucro mais rápido versus sustentabilidade no longo prazo
Tipo Opinião
Letreiro após reforma depois da assinatura de concessão do aeroporto à alemã Fraport (Foto: Mauri Melo em 27/05/2018)
Foto: Mauri Melo em 27/05/2018 Letreiro após reforma depois da assinatura de concessão do aeroporto à alemã Fraport

Uma empresa pode exibir à exaustão uma licença concedida por um órgão ambiental. Vai morrer de falar que está tudo certinho, tudo dentro dos conformes. O órgão concedente também dirá que não não há nada de ilegal. Afirmará que nenhum crime foi cometido e que, em algum momento, a compensação será feita. Mas, cá pra nós, isso será o bastante? Parece que não. A imagem aérea (?!) de mais de três dezenas de hectares devastados soam muito mais eloquentes do que um papel. Somem-se a isso animais em fuga em plena área urbana. Pronto (como dizemos no Ceará) está composta a tragédia.

Sem nem entrar no mérito - se as licenças foram corretas ou indevidas - o assunto é para além da letra fria da lei. A concessionária do aeroporto de Fortaleza, a alemã Fraport, com base no contrato de concessão com o Governo Federal, diz cumprir integralmente a legislação. Pelo contrato, aliás, ela mirou não apenas o terminal, mas o entorno. E isto inclui o desenvolvimento das áreas localizadas no sítio aeroportuário. Estava previsto desde o princípio. A questão é o que permite a lei e o que diz e faz a empresa.

O que o episódio suscita é a aparente subestimação da inteligência e sensibilidade média do distinto público. Os acionistas deveriam medir o peso das árvores e dos animais nesta balança. Cronogramas do gênero devem calcular o dilema lucro mais rápido versus sustentabilidade no longo prazo. Talvez este tenha sido o maior erro da empresa, a visão embaçada de sustentabilidade.

Houve comunicação prévia, resgates cuidadosos da fauna e outros protocolos mais? Parece que não. Os manuais sobre o que fazer em casos assim há aos montes. Gente capacitada na praça também, biólogos e veterinários, dentre outros. Em linhas gerais, fazer com clareza estudo de fauna pré-desmate, com uso de armadilhas fotográficas, avistagens e captura para conhecer as espécies. Quer mais? um plano de resgate para capturar e transportar os animais para área adequada. Salvar ninhos e, quando possível, realocar ovos e filhotes, por exemplo. Alguém ouviu a Fraport falar nisso desde 2023, quando a Semace concedeu o Sim para trator e motosserra? Isso tudo com relatórios a mostrar o êxito do trabalho?

Inês e a floresta estão mortas. O que resta fazer agora? Afora a discussão jurídica e administrativa, em ar condicionado, resta à comunidade - ativistas, parlamentares e quem mais se interessa pelo tema - buscar as compensações possíveis para o meio ambiente. Há perguntas ainda sem respostas. Quanto à compensação para a reputação da empresa, eis uma clareira bem mais profunda a ser reflorestada. E assim como as árvores, a reputação não brota do dia para a noite.

Atentado em escola de Sobral deixou dois jovens mortos e três feridos e dois mortos. Na imagem, a Escola de Ensino Fundamental e Médio Professor Luis Felipe, onde aconteceu a tragédia(Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Atentado em escola de Sobral deixou dois jovens mortos e três feridos e dois mortos. Na imagem, a Escola de Ensino Fundamental e Médio Professor Luis Felipe, onde aconteceu a tragédia

EDUCAÇÃO E SEGURANÇA

O caso de Sobral e o paradoxo do Ceará

A violência em Sobral tem duplo impacto para o Ceará. Junta em uma mesma tragédia o que o estado tem de melhor e pior em se tratando de resultados nas políticas públicas de sua história recente: educação e segurança pública. E para ampliar a nota ainda mais sombria do episódio aconteceu em Sobral, berço do sucesso cearense na educação. As políticas de alfabetização na idade certa, com municípios cearenses a se destacar no ranking nacional do Ideb nos anos iniciais do ensino fundamental, viraram modelo para o País. Investimentos na formação de professores e premiações por resultados são alguns dos instrumentos bem utilizados.

Contudo, este mesmo estado-referência na educação, com escolas em tempo integral, assiste o avanço de facções criminosas, com grupos a disputar territórios, aterrorizando moradores e desafiando o Estado. É notório que educação é determinante para uma sociedade menos violenta no longo prazo. Entretanto, para a criminalidade já instalada faltam ações mais eficazes. O Ceará forma estudantes que habitam em ambientes dominados por facções. Sobral mostrou que a ameaça não está apenas onde residem. Entrou na escola.

Horizontais

Bodas de Prata - A agência Divulga Ação chega aos 25 anos, com carteira local e nacional. Tem a conta do GPA - Grupo Pão de Açúcar e suas bandeiras Extra Mercado e Pão de Açúcar, além do Assaí Atacadista no Ceará. Na área cultural, atende a produtora Free Lancer Produções. A jornalista e roteirista Ana Peyroton comanda.

Maratoninha - O Sesc Ceará realiza novas etapas da Maratoninha Sesc 2025, corrida infantil que incentiva a prática esportiva. O circuito passará por Sobral amanhã, o que acaba sendo um contraponto ao que ocorreu nesta quinta no município. Depois, Crato (4/10), Fortaleza (12/10), Tabuleiro do Norte (12/10) e Juazeiro do Norte (8/11).

 

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