Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Talvez não seja coincidência que episódios de ataque ao que ainda resta de cobertura vegetal em Fortaleza estejam sendo registrados em simultâneo, a partir de administrações do mesmo grupo político
Foto: AURÉLIO ALVES
TERRENO desmatado no entorno do Aeroporto Internacional de Fortaleza
Não é usual que se pense numa gestão autodeclarada progressista em termos de atraso em pautas tão caras a esse campo político, tais como a ambiental. Mas talvez não seja coincidência que episódios de ataque ao que ainda resta de cobertura vegetal em Fortaleza estejam sendo registrados em simultâneo, a partir de administrações do mesmo grupo político (Governo do Estado e Prefeitura), sem debate ou manifestação de discordância mais enfática, salvo a do vereador Gabriel Aguiar e a do deputado estadual Renato Roseno, ambos do Psol, vozes solitárias na Câmara e na Assembleia.
Trata-se de um mecanismo de dois pesos e duas medidas difícil de sustentar publicamente, visto que, não faz tanto tempo, o PT em especial e o bloco de esquerda no geral produziam um discurso de enfrentamento às práticas do bolsonarismo instalado no poder.
Embora pareça mais velho do que de fato é, o convite para "passar a boiada", por exemplo, de autoria do então ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, sumarizava uma das linhas-mestras dos interesses mais vocais que davam amparo a Jair Bolsonaro (construção/agro). Corta para o Ceará de 2025: guardadas as proporções, os sinais por toda parte ainda não indicam sanha de predação equivalente àquela, mas o horizonte não é alvissareiro (e vejam que sequer mencionei a "chuva de veneno").
A esse respeito, é notável a conduta acanhada da base governista estadual e municipal, dando de barato que o alinhamento entre as esferas de comando do Executivo é uma espécie de blindagem que tende a funcionar com eficácia por muito tempo. Como se sabe, a fatura chega em algum momento, cobrando com retroativo o desgaste da banalização de uma questão que, encarada estritamente sob a ótica político-eleitoral, já seria preocupante.
Mas não é o caso, uma vez que a supressão de mata no entorno do aeroporto da capital cearense e o projeto que flexibiliza a exploração de áreas protegidas da Sabiaguaba ganharam evidência às vésperas da COP30 (!). Ou seja, enquanto o mundo se volta para o coração da Amazônia brasileira à procura de respostas que possam evitar o colapso, o debate local anda na contramão.
O senador Cid Gomes (PSB) guarda um plano B na manga para o caso de Júnior Mano (PSB) não se viabilizar como candidato ao Senado até 2026: o também deputado federal Robério Monteiro, de saída do PDT para o PSB.
Nessa hipótese, Robério ocuparia a vaga de Cid na chapa, dividindo seus votos na Câmara entre dois nomes próximos do ex-governador: Roger Aguiar, ex-prefeito de Marco, e Antônio Martins, prefeito de Cariré. Esse cenário reafirma disposição de Cid em não concorrer ao Congresso ano que vem, o que não significa que o pessebista deve abrir mão da sua cadeira tão facilmente.
A rigor, os movimentos Ceará adentro sugerem é que Cid faz articulação própria, que envolve a sucessão no Senado e a formação de bancada mais "cidista" do que socialista.
Alcides e o "bolsocirismo"
Pré-candidato ao Senado, o deputado estadual Alcides Fernandes (PL), pai de André Fernandes, é o primeiro a colocar o bloco do "bolsocirismo" nas ruas, apelando tanto ao ex-presidente quanto ao ex-presidenciável para capitalizar de um lado e do outro, isto é, numa direita cujo voto é mais fácil de fidelizar e num centro que não se acostumou ainda com a ideia de que Ciro Gomes pode compor estrategicamente com a ala bolsonarista no Ceará de olho na disputa pelo Governo do Estado.
Desde o início da semana, Alcides vem se apresentando alternadamente como "candidato de Ciro" e "candidato de Bolsonaro", sem qualquer preocupação em causar curto-circuito na cabeça do eleitorado.
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