
É doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro de contos
É doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro de contos
A contemporaneidade é atravessada por crises dos mais diferentes matizes. Apesar do epicentro estar localizado na economia, a crise em si e o discurso sobre ela se propagam em todos os âmbitos da vida social.
Uma das facetas na qual a crise revela seus sintomas é na subjetividade humana, na forma como o indivíduo lapida sua individualidade, seus desejos, expectativas, afeto e principalmente sua atenção. Já se tornou um consenso afirmar que o instantâneo, a fugacidade e a superficialidade são características marcantes do tempo presente; a linguagem empobrecida pavimenta as interações humanas.
Ao analisarmos os assuntos que estão na ordem do dia, que circulam nas mesas de escritórios e nos cafés da manhã das famílias, deparamo-nos com banalidades e frivolidades. No Brasil, há em curso uma inversão de valores e prioridades; o banal adquire o status de relevante, e o que é relevante passa a ser enxergado como banal e até descartável.
Os brasileiros desperdiçam o recurso mais valioso e escasso navegando em mídias sociais; são extensas horas na frente de uma tela em um ócio nada humanizador. O estímulo ao consumo e à distração coloca o navegante em uma total passividade, consumindo não apenas mercadorias, mas serviços subterrâneos e principalmente ideias vendidas em forma de imagens e estilo de vida. Nessa seara, muitos apresentam fórmulas rápidas para problemas complexos que desafiam até mesmo grandes especialistas.
O cardápio de distração é farto, temos fofocas e discussões esdrúxulas entre influenciadores, e os brasileiros perdem horas com essas questiúnculas, ao passo em que entram em um vale-tudo na promoção de um eu virtual fantasioso e irreal, tudo para imitar a vida das subcelebridades.
A essa altura, o leitor deve estar se perguntando: por que os brasileiros dedicam atenção a assuntos tão irrelevantes, e como conseguem transformar crises, corrupções e todo tipo de tragédia em algo risível? A impressão é de que queremos fugir a todo custo dos problemas reais que afetam a coletividade. Muitos acompanham pari passu a vida das celebridades e subcelebridades, mas poucos têm uma opinião fundamentada acerca da atual política econômica, poucos querem saber o que está tramitando no Congresso Nacional.
A interação com os assuntos fúteis é mediada por fake news e superficialidades. Nesse cenário de intensa despolitização e manipulação, os falsos dilemas cumprem um papel fundamental, pois agem como cortina de fumaça dispersando a atenção de assuntos relevantes. A distração do momento é o bebê reborn, pseudoespecialistas discorrem horas sobre o falso dilema.
Enquanto isso, assistimos incrédulos ao naufrágio brasileiro, o cenário fica mais assustador quando recordamos o elevado número de analfabetos funcionais existentes no Brasil, essas pessoas não possuem habilidades para perceber mentiras, manipulações ou qualquer outro recurso interpretativo.
Desse modo, são milhões de brasileiros fragilizados que se deparam cotidianamente com imagens e notícias que não conseguem confrontar. O fato é que a internet foi massificada em um País de analfabetos.
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