Fumaça, dix, treta teen e bebê reborn: a quinzena em que o algoritmo surtou e a gente foi junto
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Jornalista formada pela Universidade Sete de Setembro (2015) e pós-graduanda em Gestão e Negócios pela Esase Brasil. Iniciou a carreira no O POVO como estagiária em 2014, atuando na produção de conteúdo digital. Em 2016, passou a supervisionar as redes sociais, liderando projetos pioneiros como transmissões ao vivo e conteúdos audiovisuais nos stories, além de capacitar repórteres e estagiários no uso dessas ferramentas. Em 2019, tornou-se coordenadora das redes sociais do Grupo O POVO. Atualmente, é editora-chefe das redes sociais e coordena todos os perfis da marca
Fumaça, dix, treta teen e bebê reborn: a quinzena em que o algoritmo surtou e a gente foi junto
Quando a internet "fura bolhas", algoritmos vibram, métricas disparam, jornalistas correm atrás do caos, e o público tenta decidir como e se acompanha. Geralmente acompanha.
Foto: AFP; Reprodução rede sociais; Agência Senado; Adobe Stock
Fumaça, dix, treta e reborn: a quinzena em que o algoritmo surtou e a gente foi junto
Maio mal começou e já mostrou que nem os mais calejados em cobrir o caos digital estavam preparados para a avalanche de assuntos que tomou conta da internet. Tudo viralizando, polarizando, gerando discussões nas mais diversas bolhas — das sociais às políticas, das psicológicas às jornalísticas. Ninguém ficou de fora.
A lógica do ambiente digital é essa: temas isolados ganham força em nichos. Mas, vez ou outra, alguns “furam a bolha” e viram pauta nacional.
Foi exatamente o que aconteceu nessa primeira quinzena de maio. O tribunal da internet abriu várias sessões ao mesmo tempo e julgou de tudo um pouco. O resultado? Algoritmos em festa, métricas explodindo e um monte de jornalistas e criadores de conteúdo correndo para acompanhar o ritmo.
Se você passou ileso por tudo isso... sinceramente, me apresenta o seu segredo. Ou pelo menos o seu bloqueador de notificação.
A expectativa pela fumaça branca transformou o Vaticano em um centro midiático
Começamos com o que parecia ser o assunto mais solene e protocolar do início do mês: Os ritos do Conclave. Houve uma explosão de buscas e conteúdos explicando os processos, os cardeais envolvidos, os possíveis nomes para suceder o pontífice e toda a simbologia da fumaça branca que, ao surgir, indicaria o novo papa.
É um tipo de evento que une política, religião, diplomacia e história — e que, por si só, justificaria semanas de cobertura. Sem comentar no fenômeno dos milhões de pessoas assistindo a transmissão do Vaticano, além de reproduções das lives em outros canais de YouTube, cortes em redes sociais e todo o movimento pela praça São Pedro lotada.
Enquanto ouvíamos "Habemus Papan", e conhecíamos o papa Leão XIV, uma treta teen despontava no Instagram e TikTok.
Treta "Dix” entre adolescentes famosos viraliza e mobiliza a Geração Z
A treta teen que parou o TikTok foi protagonizada por Duda Guerra e Antonella, duas jovens influenciadoras em ascensão. O pivô da discórdia? Uma suposta solicitação de amizade no famoso “Dix”, gíria da Gen Z para o famoso perfil secreto do Instagram. Traduzindo: perfis usados pra stalkear, desabafar e, aparentemente, também flertar sem ninguém ver (só que todo mundo vê).
Segundo consta na treta, Antonella Braga teria pedido acesso ao Dix de Benício Huck (sim, o filho da Angélica e do Luciano Huck), namorado de Duda Guerra.
Bastou um pedido para seguir o Dix do pequeno Huck e a internet entrou em combustão. Teve vídeo com mapa de relações, criador de conteúdo surfando no hype, pronunciamentos para todos os lados e, claro, os millennials tentando entender o que raios era “Dix”, quem eram os adolescentes envolvidos e por que isso virou pauta de conversa em todo canto — sim, em alguns momentos a redação parava pra ouvir quem “tinha propriedade” pra resumir a treta.
O que começou como um simples follow — interpretado como flerte — virou trend topic, acendeu alertas sobre exposição nas redes, envolveu familiares do grupinho teen e entrou no radar de colunistas de comportamento. E, claro, de nós, jornalistas, tentando explicar o que era Dix e contextualizar o drama.
Um clássico moderno: drama adolescente turbinado por algoritmo. Com direito a unfollow público, vídeos emocionados e um Brasil conectado em rede social tentando entender como chegamos nesse caos.
CPI das Bets vira espetáculo midiático com Virgínia Fonseca como protagonista
E quando se pensava que já havia assunto demais, veio o espetáculo da CPI das Bets. Influenciadores digitais com milhões de seguidores passaram a ser investigados por suposta promoção de sites de apostas ilegais.
A pauta ganhou as redes sociais e a imprensa e se tornou um dos temas mais comentados da semana, sobretudo porque uma das depoentes era Virgínia Fonseca, hoje uma das maiores influenciadoras do Brasil. Seria ingenuidade supor que essa CPI se limitasse ao noticiário político sem mobilizar a audiência do canal do Senado.
O interesse pela CPI não foi só pelo tema (os lucros absurdos com publicidade de apostas), mas pela performance de Virgínia.
Teve de tudo: caretas ensaiadas, pausas estratégicas, confusão entre o microfone e o canudo do Stanley rosa, moletom com foto da filha. A cena projetava uma figura quase ingênua, quase.
Enquanto isso, a discussão séria sobre regulação das apostas online ficou em segundo plano. Para quem acompanhava pelas redes, esse nem parecia ser o tema. Coincidência? Nem de longe.
A própria Virgínia, com toda sua experiência em criar narrativa e engajar audiência, transformou a sabatina num espetáculo. Do look escolhido aos gestos calculados, tudo parecia pensado para projetar uma imagem “despreparada”, quase inocente. Não é difícil de perceber que foi justamente isso que dominou o debate online. No fim, a estratégia funcionou: o foco saiu da investigação e foi parar na performance.
Nas plataformas, o depoimento virou um campo minado de cortes e memes. Pouco importava o conteúdo da CPI — o que engajava era a estética, os trejeitos, o "jeito Virgínia de ir ao Senado". O resultado? Mais 1,2 milhão de views no YouTube da TV Senado- umas das maiores lives do canal.
Os polêmicos — e assustadores — "nascimentos" dos bebês reborn nas redes sociais
Ah, e os bebês reborn? Pois é. Quando se imaginava que o noticiário digital já estivesse saturado de temas virais, esse fenômeno, que não é tão novo, brotou e promete permanecer em pauta por um bom tempo.
A estética e o comportamento de cuidar de bonecas hiper-realistas como se fossem bebês reais, algo que durante anos habitou nichos discretos na internet, ressurgiram com força total em maio.
É incômodo até escrever sobre isso, especialmente porque sinto desconforto diante desses bonecos. Mas o crescimento da audiência não permite ignorar: vídeos que simulam partos, rotinas de cuidados maternos, aniversários com convidados reborns e até idas ao pediatra com as bonecas viralizaram de forma avassaladora.
A mistura de fascínio, julgamento e perplexidade tomou conta dos comentários, alimentando debates sobre os limites da performance afetiva nas redes.
Para muita gente, cuidar de um bebê reborn é só uma forma de carinho simbólico ou uma estratégia criativa para engajar nas redes. Mas pra outros, a coisa incomoda: parece distorcer a ideia de maternidade e transformar cuidado em espetáculo.
Tratar bonecas hiper-realistas como filhos levanta questões sérias — sobre saúde mental, sobre como a gente consome afeto como entretenimento e sobre o que, afinal, a internet decide viralizar.
O que era visto como uma mania isolada virou tendência, impulsionada por algoritmos que adoram o bizarro, o emotivo e o exagerado. E assim, a estética reborn somada a uma rotina materna encenada cria uma zona cinzenta entre afeto real e performance.
No fim, o reborn escancara uma lógica da internet de hoje: até a simulação da vida virou conteúdo. E com isso, vieram debates que vão muito além do entretenimento sobre o que é real, o que é válido e o que a gente está, de fato, assistindo.
Esse assunto vai render...
O surto veio e estamos imerso nesse universo
A internet, nesta primeira quinzena de maio, não nos deu descanso - foi preciso esperar dar uma leve trégua para resumir em uma coluna só, o surto desses últimos dias. Tivemos a convergência de debates sobre religião, adolescência, comportamento digital, marketing de influência, apostas, justiça e até brinquedos.
Abaixo, um recorte do Google Trends, ferramenta que mostra o que as pessoas mais estão buscando no Google. Dá pra ver quando os assunto mencionados acima bombaram e o que mais foi buscado.
Importante destacar que, os números têm outras métricas, outras impactos e outras leituras.
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