
É doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro de contos
É doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro de contos
A relação entre a tecnologia, as máquinas e a humanidade sempre foi permeada por sentimentos conflitantes que oscilam entre o encantamento e a demonização. A história está permeada de exemplos que demonstram o fascínio e, ao mesmo tempo, o medo que o avanço tecnológico propicia.
Na Inglaterra do século XIX, trabalhadores têxteis, por temerem a perda de seus postos de trabalho, chegaram a destruir máquinas que foram introduzidas na indústria.
O fato é que a tecnologia é um produto da ação humana, contudo, na maior parte das vezes, a relação criador versus criatura se embaraça, e o homem se percebe como o personagem Victor Frankenstein do livro Frankenstein no qual Victor, protagonista do romance, não consegue controlar os atos da criatura que ele mesmo criou.
As inovações humanas carregam a seguinte dicotomia: podem servir a propósitos elevados ou a objetivos deletérios. Saindo do campo literário para a realidade concreta, podemos citar o caso paradigmático de Albert Einstein, que viu sua teoria ser utilizada para a fabricação de armas atômicas.
Com a chegada da internet, não foi diferente, um misto de confusão e euforia se confundiram. A rede mundial de computadores revolucionou o mercado e as relações humanas, e, de lá pra cá, o fluxo de operações virtuais se maximizou.
Não foi sem demora que as chamadas mídias sociais (Facebook, Instagram, TikTok, dentre outras) passaram a integrar o cotidiano das pessoas e fatos que, anteriormente, eram vistos como banais e irrelevantes, passaram a ser filmados e fotografados.
Com esses gestos, os atos corriqueiros perdiam o status de mero fato para figurar como um grande acontecimento. Na arena política, o feed do Facebook passou a substituir os palanques na mesma proporção em que as chamadas fake news encontraram terreno fértil para se propagar.
A busca por visibilidade e capital político trouxe como prejuízo o abuso reiterado da liberdade de expressão, mas não são apenas honras e imagens pessoais que são prejudicadas, porque quando as eleições presidenciais passam a ser determinadas pelas redes sociais, a própria democracia está em risco.
A eleição de Trump foi um recado da importância das Big Techs na definição do resultado eleitoral.
Há algumas semanas, os burburinhos da política brasileira, como de costume, invadiram as mídias, mas um fato novo foi observado: os vídeos veículados com o uso de inteligência artificial sobrepujaram a lógica da lacração e do inimigo comum.
A narrativa passou a englobar temas que, até então, estavam circunscritos às falas de tecnocratas governamentais e aos debates acadêmicos. A lógica Lula versus Bolsonaro ficou anêmica ante a profusão de conceitos como justiça fiscal, super-ricos, taxação de grandes fortunas, entre outros.
O ineditismo do vídeo está na construção cognitiva que ele conseguiu efetuar a partir de um alargamento trazido pela introdução de novos temas e novas discussões. A linguagem empregada nos meios sociais é reconhecidamente vulgar e empobrecida, e o fluxo narrativo é curto. A ênfase, na maioria das vezes, recai sobre as imagens.
O vídeo veiculado dividiu opiniões, alguns apontaram que ele promoveu um processo de conscientização; outros, por sua vez, acusaram-no de inflamar um clima de “nós contra eles”, ou ainda, de incitar uma guerra entre pobres e ricos.
Bem, se no começo do texto ora apresentando fiz uma alusão ao romance Frankenstein, não posso me furtar em trazer uma outra obra literária para balizar essa reflexão.
Em O Médico e o Monstro, o autor escocês Robert Louis Stevenson demonstrou, com muita propriedade o aspecto dual do ser humano e seu ímpeto para praticar tanto o bem quanto o mal.
As inovações advindas do processo de criação humana, como a inteligência artificial, também trazem essa dualidade. Elas podem servir à manipulação e à mentira ou, adversamente, podem contribuir para o debate político.
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