Foto: FABIO LIMA
MAIOR parte das adolescentes que se torna mães tem baixa escolaridade
Nas últimas semanas, O POVO divulgou matérias que denunciavam a negligência e o desamparo de crianças e adolescentes. Em uma das edições, o jornal trouxe a nefasta notícia de que, todos os dias, uma menina de até 14 anos dá à luz no Ceará. Em uma outra edição, O POVO desvelou que no Ceará atualmente existem mais de 2 mil crianças e adolescentes de 10 a 14 anos em união conjugal.
As duas notícias são igualmente estarrecedoras e nos levam a questionar sobre como chegamos a esse nível de abandono para com uma população que, em um futuro próximo, reunirá os indivíduos que conduzirão nosso País. Aqui, a ausência de cuidados com a infância e a adolescência é histórica e estrutural.
Muitos fatos do cotidiano são reveladores do abandono: as crianças em situação de rua, o flagelo do trabalho infantil, a exploração sexual de crianças e adolescentes, a evasão escolar, a extrema pobreza e a subescolarização são alguns dos incontáveis problemas que atravessam a vida de muitos indivíduos.
A despeito de todo o avanço legal como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que esse ano completou 35 anos, o Brasil continua a negligenciar a fase da vida mais rica e que é responsável, em grande parte, pelo destino de uma pessoa.
Segundo o Banco Mundial, o PIB do Brasil teria uma estimativa de crescimento se todas as crianças desenvolvessem suas habilidades ao máximo.
O economista James Heckman, ganhador do prêmio Nobel, demonstrou que cada 1 dólar investido até os 6 anos de idade se traduz em um retorno de 7 dólares.
As pesquisas em educação também atestam a potência guardada na infância. Nesse período, o cérebro humano atua como uma esponja, absorvendo todas as informações e estímulos contidos no ambiente.
Infelizmente, os estudos acadêmicos, os avanços em termos de legislação protetiva e os diferentes pactos internacionais em defesa do desenvolvimento integral e da proteção de crianças e adolescentes não foram capazes de sensibilizar as autoridades brasileiras.
A não assistência, o descaso e a negligência para com a geração mais jovem se traduzem num desperdício de talento humano, de inovação e de desenvolvimento sustentável.
Esse vácuo protetivo repercutirá em um futuro próximo, no qual o Brasil seguirá como um país subdesenvolvido, pois como pensar em um futuro promissor se no presente aqueles que estarão lá estão esquecidos?