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A incompetência do poder público em proteger crianças e adolescentes
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Sara Oliveira é repórter especial de Cidades do O POVO há 10 anos, com mais de 15 anos de experiência na editoria de Cotidiano/Cidades nos cargos de repórter e editora. Pós-graduada em assessoria de comunicação, estudante de Pedagogia e interessadíssima em temas relacionados a políticas públicas. Uma mulher de 40 anos que teve a experiência de viver em Londres por dois anos, se tornou mãe do Léo (8) e do Cadu (5), e segue apaixonada por praia e pelas descobertas da vida materna e feminina em meio à tanta desigualdade

Sara Oliveira comportamento

A incompetência do poder público em proteger crianças e adolescentes

Dois alunos foram mortos e três foram baleados na escola de ensino médio Professor Luis Felipe
 Disparos aconteceram em escola no bairro Campo dos Velhos, em Sobral (Foto: FERNANDA BARROS/O POVO)
Foto: FERNANDA BARROS/O POVO Disparos aconteceram em escola no bairro Campo dos Velhos, em Sobral

"O dia amanheceu em um misto de pesar e acolhimento". Essa foi a primeira frase de uma matéria que, em outubro de 2022, trazia detalhes do retorno às aulas em uma escola onde um adolescente foi assassinado. Quase três anos depois, mais duas mortes no ambiente que deveria ser de proteção trazem a mesma sensação de volta. 

O dia amanhã ainda não será de acolhimento. As aulas na escola de ensino médio Professor Luis Felipe, em Sobral, foram suspensas depois que Victor Guilherme Sousa de Aguiar, 16, e Cláudio Sousa Oliveira Filho, 17, foram mortos no estacionamento da escola, na hora do intervalo.

Criminosos encostaram na calçada e atiraram pelo menos 14 vezes. Mataram dois, feriram três e causaram o caos nos alunos, nas famílias das vítimas, na educação, na política, na sociedade. Morreu a esperança de que a escola é "o lugar mais seguro para crianças", como define o Ministério da Educação (MEC). Não é. Deveria.

A violência sempre perpassou as instituições de ensino. Minha mãe foi diretora de escola municipal por quase duas décadas, durante os anos 1990. Lembro, ainda criança, de saber dos tantos malabarismos que ela precisava fazer com as gangues que então atuavam no bairro Aerolândia

Outra familiar, hoje também na direção de uma instituição pública de ensino, já precisou equalizar ações, mudanças e ocorrências junto aos líderes de organização criminosa. Notícias sobre escolas fechadas, alunos ameaçados e evasão por causa da guerra entre facções são comuns. 

Quando, em 2022, um estudante de 15 anos atingiu três alunos - um deles vindo a óbito - diferentes instituições se movimentaram, reuniram-se e planejaram abordagens e ações. O objetivo era promover mais segurança e acolhimento.

As ações, porém, acabaram se perdendo. Tantas inciativas surgem no meio das tragédias, que dão palco para os mais calorosos discursos - como aconteceu nesta quinta-feira, 25 - e que não se concretizam. Não conseguem garantir proteção a crianças e adolescentes.

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No primeiro posicionamento sobre as mortes desta quinta, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) destacou que encontrou drogas, balança de precisão e embalagens junto a um dos adolescentes vítimas do ataque. 

O recado de que a vítima estaria, portanto, envolvida com o tráfico de drogas, não mostra culpabilidade de um adolescente. Na verdade, escancara a incompetência do poder público de promover direitos básicos, de monitorar, cuidar e acolher nos espaços de educação. 

Vídeo mostra o momento em que criminosos atiram contra estudantes em escola de Sobral; confira

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