É doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro de contos
É doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro de contos
Os últimos acontecimentos envolvendo violência contra as mulheres e feminicídios são estarrecedores. Um olhar retrospectivo é capaz de apontar a existência de uma verdadeira “guerra contra as mulheres”, expressão utilizada pela pesquisadora italiana Silvia Federici.
A título ilustrativo, aponto aqui que, neste ano, a cidade de São Paulo já registra um número de feminicídio maior que dos últimos dez anos.
Os fatos chocam não apenas pelos números, mas principalmente pela banalização da violência, da morte e também pela desumanização da mulher.
São corpos, identidades e circunstâncias criminais diferentes, entretanto, há um ponto convergente nessas mortes: todas as vítimas são mulheres e todos os criminosos são homens que dividiam o cotidiano com elas.
No caso das professoras mortas no Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) do Rio de Janeiro, por um colega de trabalho, a causa que determinou as mortes foi o fato de um homem não tolerar ser liderado por uma mulher.
Na outra ponta, um homem atropelou e arrastou sua ex-companheira por um quilômetro, inconformado com o fim do relacionamento amoroso. Os dois episódios demonstram de forma cristalina que as relações humanas estão contaminadas pela desumanização e ódio às mulheres. O convívio entre parlamentares também está eivado de conflitos, sendo a violência política de gênero no Brasil alarmante.
A reação a essa “guerra contra as mulheres” transita entre a espetacularização midiática, a indiferença disfarçada e a comoção popular.
A forma como alguns segmentos da mídia retrata os casos acaba por enfatizar a vítima, repetindo por diversas vezes seu nome e divulgando sua foto, ao passo em que a identidade do agressor, permanece abafada.
Outra questão relevante está na forma como a linguagem é utilizada, marcada pela preferência por construções na voz passiva, como em “mulher foi morta pelo marido”, em vez de “marido mata mulher”.
Neste momento, quero lançar uma provocação: o que permanece nas subjetividades após a comoção social, o disparo de likes e de visualizações? Para qual lugar canalizamos nossa revolta e indignação? Ou ainda, como podemos nos reerguer após os sentimentos de impotência e desesperança?
Segundo dados do Estudo Global sobre Homicídios das Nações Unidas, 95% dos assassinatos no mundo são cometidos por homens; 80% dos crimes violentos, em geral, também têm autoria masculina; 97% das agressões sexuais, em nível mundial, são praticadas por homens; e, globalmente, 99% dos perpetradores de estupro são homens.
Uma leitura apressada e superficial desses dados nos indicaria que os indivíduos do sexo masculino possuem um pendor intrínseco para a violência, ou, dito de outra forma, são seres naturalmente maus e com traços biológicos fadados ao cometimento de crimes.
Felizmente, não há nada inscrito no DNA masculino que explique os dados divulgados nesta coluna e isso é uma excelente notícia, pois aponta para causas culturais, econômicas e sociais, o que abre possibilidades para mudanças reais e duradouras.
A sociedade precisa refletir sobre a construção de novos padrões de masculinidade. Mais do que isso, a desconstrução do machismo e da misoginia deve ser assumida como responsabilidade do Estado.
E aqui não me refiro apenas à criminalização da misoginia, como propõe o PL 898/2023, mas à urgente necessidade de (re)pensarmos a forma como educamos os meninos.
A pesquisa intitulada “Meninos: sonhando os homens do futuro” revela um dado alarmante: seis em cada dez meninos afirmam ter poucas referências positivas de masculinidade entre as pessoas com quem convivem no cotidiano.
Esse dado é muito preocupante, contudo, não tenho aqui nesse espaço o objetivo de demonizar homens ou desqualificá-los, pelo contrário, desejo a aproximação dos homens na luta pelo fim da violência contra as mulheres.
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