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Vondelpark e o cotidiano dos nativos
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Com formação em desenvolvimento mobile pelo IFCE e pela Apple Academy, junto ao seu conhecimento em Design e Animação, atuação em UI|UX e experiência na criação de aplicativo móveis, fundou a Startup Mercadapp. É amante dos livros, da música, do teatro e do ballet. Tudo isso sempre junto e misturado a tecnologia e inovação. Escrever sempre foi seu refúgio dentro dessa jornada tão desafiadora, que é ser uma jovem mulher empreendedora

Larissa Lima comportamento

Vondelpark e o cotidiano dos nativos

Vondelpark é mais um parque que parece ter sido desenhado para acolher. Não apenas visitantes ou turistas, mas emoções, pensamentos e pausas
Vondelpark, em Amsterdã (Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Vondelpark, em Amsterdã

Eu amo viajar, isso todos já sabem. Mas antes de conseguir viajar fisicamente, eu viajava nos livros. E é óbvio que eu amo ler livros e relatos de viagens. Esses dias estava relendo alguns poemas do livro “Poemas de Viagens” de Cecília Meireles. E me perdi por alguns minutos nesse trecho de “Desenhos da Holanda”:

“A alma ao nível da terra:
a alma ao longo destes campos,
docemente cinzentos,
onde róseas crianças brincam,
soltas como flores,
com ramos secos e cordeiros brancos”.

O trecho deve ter sido tão tocante para outros também, que está na orelha no livro. Pois bem, me recordei imediatamente do dia em que passei algumas horas no Vondelpark, em Amsterdã. Era outono, e eu estava ali, sentada num banco do parque fazendo uma das coisas que eu mais gosto de fazer ao viajar: observar a rotina, o cotidiano dos nativos.

Vondelpark é mais um parque que parece ter sido desenhado para acolher. Não apenas visitantes ou turistas, mas emoções, pensamentos e pausas.

Lá é exatamente isso: um refúgio urbano, mesmo numa cidade conhecida por suas bicicletas velozes e sua eficiência quase coreografada. Inclusive eu quase fui atropelada lá. É ali, entre árvores centenárias, lagos calmos e trilhas sinuosas, que se revela uma Holanda mais íntima.

A Holanda é um país de proporções modestas, mas de identidade grandiosa. Pequena em território, gigantesca em soluções. De seus moinhos às tulipas, dos canais ao design, o país nos ensina, silenciosamente, que viver bem é viver com equilíbrio.

Com casas alinhadas lado a lado como se se apoiassem umas nas outras, ciclovias que se entrelaçam como veias de um organismo saudável, e uma população que parece sempre saber onde está indo. Assim como na cidade ou no parque, eu sempre sentia a Holanda como um disco, e tudo parecia dançar na sintonia de cada uma das músicas que passavam em minha cabeça, e os rios eram como um grande metrônomo para mim.

O Vondelpark é o maior parque da cidade e também o mais querido. Aberto desde 1865, recebeu o nome do poeta Joost van den Vondel, uma das figuras literárias mais importantes do país. Mas se engana quem pensa que é só um espaço verde para contemplação.

O Vondelpark é movimento, é cena viva, é onde se aprende a ver os holandeses como realmente são: caminhando descalços pela grama, lendo um livro sob o sol tímido, fazendo piqueniques improvisados com queijos locais e cervejas artesanais.

É curioso observar o cotidiano no parque. Casais jovens estendidos no gramado como se o mundo fosse apenas aquele pedaço de céu. Crianças correndo soltas, com liberdade e autonomia. Senhores e senhoras em bicicletas com flores no guidão, bem como cena de filme, e sorrisos verdadeiros nos rostos. Cachorros soltos, confiantes, como se também fossem cidadãos com direito a aproveitar a tarde.

Em certos momentos, me lembrava uma espécie de teatro sem palco. Não há espetáculo marcado, mas a vida acontece em sincronia. Alguém toca um violão em um canto. Em outro, um grupo ensaia passos de dança. Mais adiante, uma senhora se senta num banco e, em poucos minutos, outras três pessoas se juntam a ela, como se fossem velhas conhecidas. Tudo parece espontâneo, leve, cooperativo.

Os holandeses têm um apreço especial pelo "gezelligheid", palavra intraduzível que expressa algo entre aconchego, conforto e o prazer de estar junto. E ali, no Vondelpark, tudo é gezellig.

Dizem que durante o verão, o parque ganha ainda mais vida. Há apresentações gratuitas de música, teatro ao ar livre, feiras, encontros de artistas. Eu claramente já quero voltar no verão.

Não é preciso muito para sentir o Vondelpark. Basta estar. Caminhar sem rumo, sentar sem pressa, observar sem julgar. E, aos poucos, você se percebe parte daquele organismo, mesmo sendo visitante. Você passa a entender por que aquele lugar é tão querido. Porque ali, o tempo passa, mas não corre. As pessoas vivem, mas não se atropelam, mesmo com tantas bicicletas.

São em momentos assim que eu relembro que viver bem não precisa de excessos. Às vezes, basta um pedaço de grama, um bom livro, um céu e a disposição de simplesmente estar, estar presente.

Foto do Larissa Lima

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