Com formação em desenvolvimento mobile pelo IFCE e pela Apple Academy, junto ao seu conhecimento em Design e Animação, atuação em UI|UX e experiência na criação de aplicativo móveis, fundou a Startup Mercadapp. É amante dos livros, da música, do teatro e do ballet. Tudo isso sempre junto e misturado a tecnologia e inovação. Escrever sempre foi seu refúgio dentro dessa jornada tão desafiadora, que é ser uma jovem mulher empreendedora
A cidade é hoje um dos principais polos de balonismo do Brasil, graças ao relevo plano, às boas condições climáticas e ao vento estável, fatores essenciais para um voo seguro e suave
Foto: Arquivo pessoal
O céu de Boituva
Era ainda madrugada, o frio leve da manhã paulista e a expectativa que fazia o coração bater um pouco mais rápido. Boituva ainda dormia, mas no campo aberto onde os balões eram preparados, já havia vida. Equipes trabalhando, cestos no chão, e o som grave dos queimadores testando o fogo. E ali estávamos nós: eu, meus dois irmãos e minha cachorrinha, que ganhou permissão para embarcar também.
Boituva, a 120 km da capital São Paulo, é conhecida como a capital brasileira do paraquedismo. Mas seu céu também é famoso pelos balões coloridos que ganham o horizonte ao nascer do sol.
A cidade é hoje um dos principais polos de balonismo do Brasil, graças ao relevo plano, às boas condições climáticas e ao vento estável, fatores essenciais para um voo seguro e suave.
Ver um balão inflando é como assistir a um gigante acordando. O balão em si, chamado de envelope, começa murcho no chão. Um grande ventilador é usado para enchê-lo com ar frio, que logo depois será aquecido com as chamas do maçarico.
Quando o ar dentro do balão fica mais quente que o ar do lado de fora, ele sobe. Simples assim, mas absolutamente mágico. As chamas, que saltam em rajadas laranja e azul, saem de queimadores alimentados por cilindros de gás propano presos ao cesto.
É esse fogo que controla a subida, a descida e, em partes, a estabilidade. O balão não tem leme, nem motor: ele vai onde o vento levar.
O cesto, feito de vime, por ser leve, resistente e flexível, acomoda os passageiros e o piloto. No nosso caso, o grupo era pequeno, aproximadamente 32 pessoas e a proximidade tornava a experiência ainda mais íntima. Minha cachorrinha, observava tudo com olhos atentos, como se entendesse que aquilo não era qualquer passeio.
O momento da decolagem é tão suave que parece que a terra se afasta de você, e não o contrário. Quando percebemos, já estávamos flutuando. As primeiras luzes do dia começaram a tingir os campos embaixo de nós. O silêncio do céu só era cortado pelo som ocasional do fogo sendo liberado e pelos suspiros dos passageiros, emocionados.
Do alto, Boituva se revela com outra textura: plantações, linhas de estrada, vacas que parecem miniaturas e pequenas casas que começam a acordar. É uma paz que só quem já esteve num balão entende. Não há barulho de motor, não há pressa. Só a brisa te levando, como se o tempo tivesse desacelerado só pra você prestar atenção.
Voar com meus irmãos trouxe uma emoção a mais. Estávamos juntos, conectados pelo silêncio e pela paisagem. A troca de olhares entre nós dizia mais do que qualquer palavra. E ver minha cachorrinha tão calma, como se flutuar fosse parte da rotina dela, deixou tudo ainda mais especial.
O voo durou cerca de uma hora. E como tudo que é bom e leve, passou rápido. O pouso, numa fazenda nos arredores, foi tranquilo, com apenas um pouco de emoção com o cesto tocando o chão e se inclinando de leve. Ao fim, brindamos com espumante, como manda a tradição dos voos de balão, uma herança francesa que Boituva também adotou.
Voar de balão é uma arte que mistura simplicidade e técnica. O piloto precisa interpretar o vento, calcular altitudes, prever direções. E mesmo assim, há sempre uma margem de surpresa e talvez seja isso que torna tudo tão especial. Nenhum voo é igual ao outro. Nenhum céu é o mesmo.
Voltar para o chão depois de um voo assim é como acordar de um sonho que você lembra com nitidez. Ficou em mim a sensação de ter voado por dentro de um quadro. De ter visto o Brasil de cima, mas com olhos mais brandos, mais gratos. E de ter vivido, com os meus, um daqueles momentos que não se repetem, só se guardam.
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