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Simbora, Marias: projeto cearense integra a São Paulo Fashion Week
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jornalista, com pós-graduação em Propaganda e Marketing (Uni7) e em Moda e Comunicação (Universidade de Fortaleza). Já atuou como assessora de comunicação, repórter do Núcleo de Revistas do O POVO, jornalista na área de branding e design, e produtora de conteúdo no Penteadeira Amarela, um dos primeiros blogs de comportamento do Ceará. A ligação com a moda surgiu ainda na faculdade, quando teve contato com os bastidores da moda, passando a vê-la como forma de expressão individual, de manifestação cultural e de reflexão social. Atualmente, é editora-adjunta de projetos do O POVO.

Larissa Viegas arte e cultura

Simbora, Marias: projeto cearense integra a São Paulo Fashion Week

Projeto social Vai Maria é o primeiro cearense a participar da São Paulo Fashion Week. Desfile será na quinta-feira, 16, e reforça a potência, a criatividade e o impacto da moda cearense para o Brasil e o mundo
Tipo Opinião
Coleção Carnaúba, da Catarina Mina, é apresentada na SPFW (Foto: Igor de Melo/Digulgação)
Foto: Igor de Melo/Digulgação Coleção Carnaúba, da Catarina Mina, é apresentada na SPFW

O Brasil está descobrindo o Nordeste. Sim, demorou. Mas parece que agora algumas bolhas estão sendo rompidas. A da cultura, por exemplo, sendo puxada pela música e por artistas como João Gomes, tem mostrado que dentro do mapa da região há fronteiras, sotaques, ritmos, sabores e saberes. Mas isso é tema para uma outra coluna, segura aí a pauta.

A temática de hoje traz frutos do Ceará. E, para começar, preciso voltar alguns anos. Mais precisamente em 2015, quando uma moça chamada Celina Hissa inventou uma história de convidar artesãs do Estado para colocar em prática a herança que receberam e transformar o crochê nas suas bolsas da Catarina Mina. Até aí, nada de novo.

Então vieram alguns diferenciais: design original e atemporal, executado primorosamente e informado de maneira moderna, elegante. A cereja do bolo foi a transparência, apresentando os custos de cada peça e o valor recebido pelos profissionais envolvidos em cada etapa.

Projeto do Iprede com a Catarina Mina ensina mulheres a costurar e a bordar(Foto: Pedro Tofo/Divulgação)
Foto: Pedro Tofo/Divulgação Projeto do Iprede com a Catarina Mina ensina mulheres a costurar e a bordar

Hoje, dez anos depois, Celina e sua Catarina Mina são nomes que estão na linha de frente desse movimento de exibir o Nordeste. Nessa temporada, o palco é, na verdade, uma passarela. A marca já está na capital paulista para participar, pela terceira vez, da São Paulo Fashion Week (SPFW).

O desfile, que acontece na próxima quinta-feira, dia 16, tem um toque especial: peças do projeto "Vai Maria". O projeto social do Instituto da Primeira Infância, o Iprede, em parceria com a Catarina Mina, nasceu neste ano, mas a marca já havia realizado formações com as mulheres assistidas no Instituto.

O lançamento aconteceu com a coleção Alpendre, no DFB Festival. A aceitação não poderia ter sido mais positiva. O público, segundo Celina, segue amando, valorizando e vibrando com cada peça criada, como se o consumidor e a consumidora vissem um pouco de cada mulher que teve a vida transformada pelo trabalho e pela arte.

Hoje dezenas de Marias, como são chamadas as artesãs, participam do projeto. Para a SPFW, a Coleção Carnaúba celebra o artesanato e a força das mulheres do Nordeste, por meio do crochê de Catarina Mina, em bolsas e outros acessórios, e dos bordados feitos à mão do Vai Maria, em peças de vestuário.

A marca cearense Catarina Mina participa pela terceira vez da SPFW(Foto: Igor de Melo/Divulgação)
Foto: Igor de Melo/Divulgação A marca cearense Catarina Mina participa pela terceira vez da SPFW

A palmeira, símbolo do estado do Ceará, é também conhecida como "árvore da vida", que resiste às questões naturais, como a seca, representando, assim, a resiliência e a resistência feminina.

O artesanato, conforme explica Celina, é visto tanto pela Catarina Mina quanto pelo Vai Maria como um patrimônio e uma herança preciosa do povo cearense e nordestino. Especificamente o bordado, ponto forte e diferencial das peças, foram feitos manualmente por 18 bordadeiras do Projeto, além de outras artesãs do interior do Estado.

"As Marias participam tanto da confecção como do processo criativo das peças, bem como, da finalização do próprio desenvolvimento da coleção", explica João Furtado, coordenador de ações sociais e da trajetória de mulher do Iprede. "Brincamos que Catarina Mina e Vai Maria são uma formação simbiótica do acreditar no poder transformador que a moda pode proporcionar", conclui João.

Irene Teixeira da Silva, de 62 anos, vai representar as Marias na primeira fila do desfile e se sente privilegiada. Ela, que começou com o bordado, entrou no Vai Maria sem saber nem o que era uma costura. "É uma coisa muito importante para mim representar essas mulheres, mostrar o nosso Ceará, o nosso trabalho, o bordado feito pelas nossas mãos. No dia a dia, esse trabalho é uma terapia", conta.

As Marias com a mão na massa, no Iprede(Foto: Pedro Tofo/Divulgação)
Foto: Pedro Tofo/Divulgação As Marias com a mão na massa, no Iprede

Ela ainda dá uma prévia do que estará usando no desfile: um quimono lindo, com uma carnaúba bordada por ela mesma, por cima de um vestido também da Vai Maria.

Sobre a mudança no olhar do mercado fora do eixo Norte-Nordeste, Celina é precisa, afirmando que a Catarina Mina é sim parte dessa transformação. "Ver marcas de todo o Brasil olhando pro feito à mão, e muitas vezes vindo buscar a mão de obra excelente das artesãs nordestinas é motivador.

O que é isso senão o resultado de um trabalho da Catarina Mina e de outras marcas que têm o feito a mão no centro do processo?". E completa: "O jeito mais eficaz de incentivo e consideração ao artesanato é pagando bem por ele e respeitando quem o faz e o pensa".

No Projeto Vai Maria, mulheres em situação de vulnerabilidade social aprendem a costurar e a bordar
No Projeto Vai Maria, mulheres em situação de vulnerabilidade social aprendem a costurar e a bordar

Quem são as Marias?

O projeto social "Vai Maria" é idealizado pelo Instituto da Primeira Infância (Iprede) e pela Catarina Mina. As Marias são mães, avós, tias e filhas, todas inseridas em uma vulnerabilidade social profunda, que, por meio da moda, encontraram novas formas de modelar, costurar e bordar sonhos.

FORTALEZA, CE, BRASIL, 01.11.2022: Bolsas cearenses - Catarina Mina Foto: Thais Mesquita/OPOVO)
FORTALEZA, CE, BRASIL, 01.11.2022: Bolsas cearenses - Catarina Mina Foto: Thais Mesquita/OPOVO)

Catarina Mina no Mundo

A Catarina Mina vive um momento de afirmação e de expansão. Empresa B Certificada, integra um movimento global que reconhece empresas que cumprem padrões de desempenhos ambiental, transparência, social e de responsabilidade. Recentemente também abriu duas lojas físicas em São Paulo, uma no Shopping JK Iguatemi e outra na Rua Mateus Grou, em Pinheiros, reunindo outras marcas criadoras de moda.

 

DESFILE

  • Quando: quinta-feira, 16, às 18 horas
  • Onde: São Paulo Fashion Week, no Parque Ibirapuera
  • Mais infos: @vaimaria.iprede / @catarinamina

 

Sobrado dr. José Lourenço recebe exposição Um Fio Puxa Outro - Vem Fortalezar!
Sobrado dr. José Lourenço recebe exposição Um Fio Puxa Outro - Vem Fortalezar!

Fios e rios

E se a imaginação de artesãs permite transformar fios em bolsas, acessórios e bordados, a de artistas consegue trançar, organizar e alinhar malhas, retalhos e punhos de rede e torná-los obras de arte. O encontro entre artes visuais e tecelagem é a nova exposição Um Fio Puxa Outro - Vem Fortalezar!, promovida pelo Sobrado Dr. José Lourenço, na Casa do Barão de Camocim.

Em cartaz até o dia 6 de dezembro, as 60 obras são assinadas por dois nomes cearenses: Alexandre Heberte e Silvânia de Deus. Alexandre é de Juazeiro do Norte, Mestre em Artes pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, artista, professor e tecelão-performer. Silvânia é designer de moda e articuladora social. Uma das vanguardistas da moda cearense, está à frente da sua marca Sil e do hub cultural “Iracemar” e, cada vez mais, deseja ampliar seus horizontes para outras atividades artísticas.

“A exposição reúne dois artistas têxteis, que trabalham com fios e que, em uma analogia poética, são como dois rios que se encontram para transbordar”, contextualiza Dodora Guimarães Esmeraldo, curadora da mostra. Para ela, a arte têxtil e a tecelagem estão entre as mais caras ao Ceará. Redes de dormir e de pesca, renda, algodão e Carnaúba são preciosidades.

“Somos muito tributários dessas tradições e esses artistas as atualizam. É isso que eu acho interessante, esse salto do ancestral para o contemporâneo”. E assim, em um diálogo franco e honesto, o trio antecipa em alguns meses a comemoração dos 300 anos de Fortaleza, com uma arte e um segmento muito importante ao Estado.

Ao longo da exposição, o visitante faz um percurso poético da Capital através de uma geografia estética, onde é possível distinguir a identidade de cada artista, mas também perceber o diálogo entre as obras. O trajeto inicia no térreo, com as obras de Silvania.

Tridimensionais, com estruturas diferentes, como cipós, utiliza retalhos e tecidos inteiros. Com o crochê, faz uma rede de pesca e texturas de escamas são montadas com patchwork. Sem esquecer dos punhos de rede tingidos formando um gradiente colorido e dos objetos de crochê pendentes. Além de uma obra para vestir, remetendo ao ofício de estilista.

No andar superior, Alexandre também varia o uso de técnicas e segue nas obras macro. O destaque é a renda cariri, uma técnica autoral marcada pela transparência, que utiliza o nó caseado, método de entrelaçar fios e expressão que tornou-se marca registrada do artista. No corredor, o cortejo com 32 painéis pendentes surpreende, assim como as tapeçarias com bordados.

Exposição Um Fio Puxa Outro - Vem Fortalezar!

  • Quando: Até 6 de dezembro, de terça a sexta, das 9h às 17h; sábado, das 9h às 16h (entrada até 30min antes do fechamento)
  • Onde: Casa do Barão de Camocim (Rua General Sampaio, 1632 - Centro)
  • Mais infos: @sobrado154 / (85) 9998-5086 (WhatsApp)
  • Intérprete de Libras / Gratuito

 

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