Luana Sampaio é pesquisadora e diretora de criação audiovisual do O POVO. É doutoranda em Comunicação pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com pós-graduação em Artes Criativas na Deakin University, na Austrália. Escreve sobre memória, testemunho, imagem, cinema e história
Esta coluna te convida a assistir ao documentário "A rebelião dos jangadeiros", a pesquisar sobre a rebelião, a conhecer a história não oficial do Ceará e a questionar as pontas soltas daquela outra que te contaram
Foto: Produção "A Rebelião dos Jangadeiros",
Pré-estreia do documentário "A Rebelião dos Jangadeiros", no Cinema do Dragão do Mar, em 15/10/2025.
Em uma quarta-feira costumeiramente comum aconteceu um evento esperado há mais de dois anos por algumas dezenas de pessoas. “A rebelião dos jangadeiros”, filme gestado em parceria do O POVO+ com a Gavulino Filmes, teve sua pré-estréia no Cinema do Dragão do Mar em uma sessão tão lotada que, suponho, deixou cerca de cem pessoas do lado de fora por falta de lugares.
Outras esperaram um pouco mais para ver a segunda exibição aberta às pressas da necessidade de acolher as centenas ali presentes.
Poderíamos, objetivamente, dizer que “A rebelião dos jangadeiros” é um filme que resgata a história de Tia Simoa e José Napoleão, casal que capitaneou a rebelião dos jangadeiros de 1881, impedindo que pessoas negras fossem embarcadas para servir ao tráfico interprovincial de escravizados no Brasil.
Em outra medida mais objetiva ainda temos o rasgo, a fissura histórica pela qual indivíduos, no presente, contam e cantam as histórias feitas esquecidas na tentativa de hoje escrever um novo capítulo da história do Ceará, finalmente protagonizado pelas pessoas comuns que enfrentaram o poder escravocrata pela liberdade dos seus.
Embora não hajam registros oficiais de seus nomes e rostos, aquele pouco que ficou conseguiu, ainda, ser ouvido. E nessa hora, o cinema estava lá para escutar.
Foto: Divulgação/ Gavulino Filmes
Bastidores de "A Rebelião dos Jangadeiros", filme que mistura ficção e documentário
Até ser chamada para compor a equipe do filme como assistente de roteiro, nunca cruzei com os nomes de Tia Simoa e José Napoleão. Essa lacuna, inclusive, é lembrada por diversas pessoas na frente e atrás da câmera. “Como é possível ensinarem sobre essa nossa terra sem nunca tocar nos nomes deles?”.
O filme também quer saber, escavando a memória enquanto cria outra, enquanto homens e mulheres pretos e brancos se unem em cena para narrar o novelo de afetos e revoltas que não cessam de pulsar.
No dia da exibição, assisti ao filme sentada no chão, ao lado do diretor e da diretora do filme - pessoas que amo e admiro. Os bastidores de um longa sempre ficam à margem do discurso, enquadrados do lado de fora das cenas, mas dentro da nossa lembrança.
Dois anos de trabalho não são dois meses, e nossa vida há tanto balançada pelos jangadeiros fez daquela quarta-feira a redenção de dias que duvidavam que, aquele dia, viria tão emocionado e celebrante como veio.
Esta coluna te convida a assistir ao documentário “A rebelião dos jangadeiros”, a pesquisar sobre a rebelião, a conhecer a história não oficial do Ceará e a questionar as pontas soltas daquela outra que te contaram. O cinema as vezes tem sorte de ser escolhido para contar histórias, e esperamos que com ele novas linhas, imagens e sons possam ser conhecidas.
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