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Apesar das prisões e da chegada do TCP, CV segue em expansão no Ceará
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Jornalista formado pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Atua em redações desde 2014, quando participou do programa Novos Talentos, no O POVO. É repórter do caderno de Cidades, onde tem ênfase na cobertura de segurança pública. Escreve ainda para Esportes O POVO. Mestrando em Avaliação de Políticas Públicas, na UFC.

Apesar das prisões e da chegada do TCP, CV segue em expansão no Ceará

Avanço do Comando Vermelho mostra que atuais estratégias de segurança pública precisam ser revistas. Conexão Ceará-Rio de Janeiro é um dos principais desafios para as autoridades
Tipo Opinião
Homens se filmaram fazendo pichações em alusão ao Comando Vermelho no contexto da disputa com a Guardiões do Estado no Vicente Pinzón (Foto: Reprodução/Redes Sociais)
Foto: Reprodução/Redes Sociais Homens se filmaram fazendo pichações em alusão ao Comando Vermelho no contexto da disputa com a Guardiões do Estado no Vicente Pinzón

A facção criminosa Comando Vermelho (CV) continua em franca expansão no Ceará, apesar de mais de 1.800 suspeitos de integrarem organizações criminosas terem sido presos somente neste ano no Estado.

Depois de uma queima de fogos generalizada na Grande Fortaleza marcar, no dia 16 de setembro passado, o domínio do CV no bairro Vicente Pinzón e na comunidade do Lagamar, a facção ainda voltou a comemorar, de lá para cá, o controle de territórios como o da Vila Manoel Sátiro e da comunidade das Malvinas, no Quintino Cunha.

Além disso, nessa quinta-feira, 16, um outro foguetório — bem menor que os de setembro, é verdade — também foi registrado em diversos pontos da cidade, o que foi uma comemoração por parte do CV de uma suposta conquista da comunidade da 30 de Abril, localizada no bairro Boa Vista. Expulsões de moradores também foram registradas no local.

E ainda há vários outros territórios cobiçados, que passam atualmente por “guerras”, e que podem vir, em breve, a ter a bandeira do CV, a exemplo do residencial Cidade Jardim I.

A expansão do CV já se dá desde, pelo menos, 2020. Atualmente, a facção é, sem dúvida, a que atua em mais territórios do Estado. Esse cenário levou analistas do Departamento de Repressão ao Crime Organizado (DRCO) a prever que a facção irá derrotar as rivais e atuar em todas as comunidades de Fortaleza.

É um avanço que ocorre mesmo após o aporte do Terceiro Comando Puro (TCP) no Estado, também há cerca de um mês, a partir da absorção dos membros da Guardiões do Estado (GDE).

Com o “santuário” proporcionado pelas favelas cariocas, os chefes do CV alencarino ficaram mais confortáveis para emanar ordens aos subalternos ainda fixados em territórios cearenses. Detém ainda o privilégio de acessar os mesmos canais de tráfico de drogas, armas e outros ilícitos de seus correligionários cariocas.

De quebra, os faccionados cearenses ainda apreendem as mesmas práticas criminosas consagradas no Rio, replicando-as aqui. São exemplos disso as cobranças de “taxas de segurança” a comerciantes, prestadores de serviço e bancas de jogos de azar.

A extinção da Guardiões do Estado (GDE), que virou TCP, pode ser vista como uma tentativa de conter a tendência de retração de territórios registrada na facção cearense. Vale lembrar que a expansão do CV registrada nos últimos anos ocorre, sobretudo, sobre territórios outrora pertencentes a GDE.

A união com um aliado carioca — melhor estruturado e, consequentemente, mais rico — replicaria a estratégia do CV cearense. Atualmente, da cúpula fundadora da GDE — a “Sétima Coluna” — todos estão presos, à exceção de Yago Steferson Alves dos Santos, o “Yago Gordão” ou “Supremo”.

Não à toa, Yago não se encontra mais no Estado, havendo informes de que ele está fora do Brasil. Mesmo alguns dos criminosos que chefiam a Massa Carcerária já aprenderam que emanar ordens de fora do Estado é mais “seguro” para os “negócios” — enquanto, no PCC, pouco afeito no Ceará a disputas territoriais, as preocupações são de outra natureza.

Para o cidadão comum, porém, importa mesmo é saber qual a estratégia do Poder Público para anular as vantagens das quais gozam os faccionados abrigados no Rio. 

Os governos do Ceará, do Rio de Janeiro e também o Executivo e o Legislativo federais precisam também apresentar medidas visando sustar as condições sociais, econômicas e culturais que permitem às facções repor “soldados” com tanta facilidade, apesar de tantas mortes e prisões.

Foto do Lucas Barbosa

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