Expulsões de moradores por facções no Ceará: finalmente, um indicador
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Jornalista formado pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Atua em redações desde 2014, quando participou do programa Novos Talentos, no O POVO. É repórter do caderno de Cidades, onde tem ênfase na cobertura de segurança pública. Escreve ainda para Esportes O POVO. Mestrando em Avaliação de Políticas Públicas, na UFC.
Expulsões de moradores por facções no Ceará: finalmente, um indicador
Estatísticas são fundamentais para monitorar e inferir se as ações empregadas pelo Poder Público estão surtindo efeito diante de um dos principais males causados pelas organizações criminosas no Estado
Foto: Reprodução/Redes Sociais
Criminosos picharam portão de residência no bairro Mondubim com ameaças aos moradores
Depois de anos de cobrança, finalmente, veio a público um indicador que contabiliza os casos de expulsões de moradores praticadas por facções criminosas no Ceará. O POVO tem esquadrinhado desde sexta-feira, 31, as informações trazidas pelo Relatório Técnico nº 224/2025/DRCO/PCCE que, entre outros, apontou que 219 eventos relacionados ao deslocamento forçado de moradores foram registrados no Estado entre janeiro de 2024 e setembro de 2025.
O relatório, somado às prisões recentes feitas pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), indicam que a especializada entrou de vez no enfrentamento às expulsões de moradores.
A atuação da Draco no combate às expulsões de moradores é importante porque a delegacia se tornou uma das ilhas de excelência na segurança pública do Estado, com investigações precisas que incidem diretamente nas estruturas das facções criminosas cearenses, a partir das prisões de suas principais lideranças.
Evidentemente, somente o trabalho da Draco não basta para conter as expulsões, até porque os investigadores da delegacia já estão atolados de demandas outras enquanto responsáveis diretos por algumas das principais investigações referentes às facções.
Mas não deixa de ser uma movimentação importante das autoridades da segurança pública do Estado. Como tratado no texto de estreia desta coluna, o Poder Público cearense tem se notabilizado pela ausência de intervenções diretas de enfrentamento aos deslocamentos forçados.
Claro, falta ainda abordar várias outras dimensões do fenômeno, desde questões como o planejamento urbano para evitar que novos conjuntos habitacionais sejam capturados pelas facções até o atendimento psicossocial das pessoas que já tiveram de deixar suas casas e, certamente, não retornarão só por causa de algumas prisões.
Mas a atuação da Draco e a existência, enfim, de uma estatística consolidada dos casos de expulsões não deixam de ser boas notícias, sobretudo, se forem apenas os passos iniciais de um conjunto mais amplo de medidas.
É impossível pensar no sucesso de qualquer política pública sem o monitoramento de dados básicos que mensurem os impactos que as intervenções estatais estão tendo sobre determinada problemática.
Cabe agora à SSPDS continuar alimentando esse índice, detalhando-o ainda mais e, se possível, disponibilizá-lo de forma transparente para outros entes públicos e para a sociedade civil.
Será preciso, por exemplo, lidar com a subnotificação, já que muitos moradores sequer procuram as Forças de Segurança, seja por medo, seja pelo sentimento de que nada pode ser feito.
Não era preciso esperar o recente aumento nos casos de expulsões diante da disputa entre Comando Vermelho (CV) e Terceiro Comando Puro (TCP) — como atestado até pelo citado Relatório Técnico nº 224/2025/DRCO/PCCE — para que essas ações tivessem ocorrido.
Mas, como diz o ditado, antes tarde do que nunca. Até a designação de uma nomenclatura padronizada (“deslocamentos forçados”) foi adotada, o que é relevante diante de um discurso oficial que, quando não apelava para eufemismos (“ameaças a moradores”, por exemplo), ignorava a existência dessa modalidade criminosa.
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