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As malas
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Marília Lovatel cursou Letras na Universidade Estadual do Ceará e é mestre em Literatura pela Universidade Federal do Ceará. É escritora, redatora publicitária e professora. É cronista em O Povo Mais (OP+), mantendo uma coluna publicada aos domingos. Membro da Academia Fortalezense de Letras, integrou duas vezes o Catálogo de Bolonha e o PNLD Literário. Foi finalista do Prêmio Jabuti 2017 e do Prêmio da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil – AEILIJ 2024. Venceu a 20ª Edição do Prêmio Nacional Barco a Vapor de Literatura Infantil e Juvenil - 2024.

As malas

A ausência já se faz presente nas reflexões que me valem de ensaio para que eu possa enxergar o ninho vazio pelas próximas longas semanas
Tipo Crônica
Foto de apoio ilustrativo. As malas que carregam ensinamentos, recomendações e saudades (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Foto de apoio ilustrativo. As malas que carregam ensinamentos, recomendações e saudades

O tamanho das malas no quarto de minha filha me diz muitas coisas. Indica que ela cresceu, revela o tempo que ficará fora de casa, antecipa a quantidade de experiências a compor a sua bagagem de volta. Meu coração materno me trai ao escrever essa expressão. Marcelinha ainda não foi e me refiro à sua volta.

Um semestre passa rápido e demora demais. Depende do ângulo da mirada, se o ponto de vista é de quem carrega as malas ou espera por elas.

De relance, a cama por fazer não me incomoda porque prevejo o que sentirei ao constatá-la perfeitamente arrumada, dia após dia, durante seis meses.

A ausência já se faz presente nas reflexões que me valem de ensaio para que eu possa enxergar o ninho vazio pelas próximas longas semanas. Por sorte, os preparativos — ao contrário do que imaginei — ocupam o lugar da saudade prematura em meus pensamentos.

É uma alegria compartilhar os planos — são tantos! — e as providências necessárias para realizá-los. Com cada peça dobrada e guardada dentro das malas abertas, enfio mil recomendações, alertas, avisos, situações a serem evitadas; não há como escapar das preocupações naturais e inerentes ao primeiro voo solo.

Até aqui, seguramos a mão, aparamos as quedas, sugerimos caminhos, apontamos as estratégias mais eficientes para garantir o bom sucesso de seus empreendimentos, cuidamos dela.

Ela sorri, conhece de cor o repertório, diz “eu sei, lindona, fica tranquila”, e percebo as minhas repetições, sem poder evitá-las.

Quando nos despedirmos, restará torcer que não lhe faltem o passo firme e desenvolto, a autonomia, sua independência habitual e desejar que os aprendizados a tragam de volta ainda mais feliz. E, de novo, falo na volta de uma viagem que está apenas por começar para todos nós.

Foto do Marília Lovatel

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