Logo O POVO+
Os critérios de escolha para agenda cultural
Foto de Ombudsman
clique para exibir bio do colunista

É o(a) profissional cuja função é exclusivamente ouvir o leitor, ouvinte, internauta e o seguidor do Grupo de Comunicação O POVO, nas suas críticas, sugestões e comentários. Atualmente está no cargo o jornalista João Marcelo Sena, especialista em Política Internacional. Foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO e de Política

Ombudsman ombudsman

Os critérios de escolha para agenda cultural

A cultura como um direito que deveria ser inalienável passa necessariamente pelo acesso a ela. E o Jornalismo tem um papel a cumprir nessa engrenagem
Tipo Opinião
 Theatro José de Alencar fez 115 anos (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Theatro José de Alencar fez 115 anos

Não faz muito tempo, um leitor enviou mensagem para o Whatsapp do ombudsman com um comentário sobre agenda cultural no caderno Vida&Arte. Ele revelou uma conversa com um amigo que se queixou da cobertura, mencionando a realização de eventos importantes que ocorreriam naqueles dias em Fortaleza, mas que não estavam nas páginas do O POVO ou não receberam, segundo este terceiro, o devido destaque. Como exemplos, foram citados os shows do cantor e compositor cearense Fagner e da banda Os Paralamas do Sucesso, respectivamente realizados nos dias 25/7 e 26/7, no Iguatemi Hall.

Os destaques da agenda cultural no O POVO impresso são divulgados todos os dias em notas curtas na seção “Vumbó”. Às quintas-feiras é publicado o caderno Guia Vida&Arte, que traça um roteiro com matérias mais aprofundadas sobre eventos a serem realizados nos dias seguintes. Ainda ponderei com o leitor que o show dos Paralamas do Sucesso recebeu uma nota na edição do dia 24/7 e que o próprio Fagner estivera nos estúdios da Rádio O POVO CBN um dia antes em entrevista ao vivo sobre a apresentação. A realização dos dois eventos foi noticiada ainda em publicações no Instagram do Vida&Arte, o que não deslegitima a crítica feita.

De qualquer maneira, a provocação do leitor levantou a reflexão sobre quais são os critérios de escolha adotados para divulgação de uma agenda cultural. Em uma grande metrópole como Fortaleza, são muitas as opções de eventos nas mais variadas linguagens, sobretudo nos fins de semana.

Questionei os editores do Vida&Arte sobre quais são os principais pontos levados em consideração nesse processo de curadoria, de escolha do que vai ou não ser divulgado. Isabel Costa, editora-chefe do Vida&Arte destaca que a cobertura de agenda cultural está centrada em três pilares: gratuidade, promoção do poder público e relevância artística.

“Eventos com entrada gratuita - aqueles realizados em equipamentos privados sem cobrança de ingresso ou em equipamentos públicos - são tratados como prioritários. Da mesma forma, temos um olhar voltado para atividades - de pequeno, médio ou grande porte - que sejam promovidas pelo poder público. E, junto a isso, rastreamos artistas que se destacam na cena cultural - considerando os diversos segmentos, linguagens, áreas de atuação e capilaridade - para que possam figurar em nossas várias plataformas (jornal impresso, portal e Instagram)", destaca Isabel. 

Ela enfatiza o caráter múliplo de conteúdo, destacando a inclusão desde artistas periféricos, que estão começando a carreira, até artistas de renome nacional. Nesse aspecto, ela aponta que a busca é constante dentro da equipe por equilíbrio na cobertura entre os artistas locais e nacionais, os da cena independente e os mais consagrados. 

“O intuito é oferecer a maior variedade possível para os nossos leitores - seja no impresso, no portal ou no Instagram. Ressalto que, como a agenda cultural depende de eventos que acontecem na cidade e a definição sobre datas, horários e realização ultrapassa o nosso poder decisório, em algumas semanas, podemos pender a cobertura para uma das vertentes citadas”, complementa.

Ela aponta ainda que a oferta de agenda cultural precisa ser tão diversa e plural quanto é o público leitor do Vida&Arte em suas mais várias plataformas de conteúdo.

“Cada plataforma possui um perfil. Para o impresso, temos um leitor que costuma celebrar os grandes eventos e tem apreço por entrevistas feitas com os artistas. Para o portal, temos uma busca acentuada pelos anúncios de shows - é um leitor que gosta de saber qual o radar de acontecimentos da cidade. E, especialmente, no Instagram, temos um interesse acentuado por shows, eventos, formações e atividades gratuitas”, finaliza Isabel, sugerindo como leitura a matéria “O papel da agenda cultural como força motriz dentro do jornalismo”, publicada em 23//1/2025, na ocasião dos 36 anos do caderno Vida&Arte. O link para a matéria está na versão digital desta coluna.

A importância de uma agenda plural

"Precisa acabar com essa história de achar que cultura é uma coisa extraordinária. Cultura é ordinária. Cultura é igual feijão com arroz, é necessidade básica. Tem que estar na mesa, na cesta básica de todo mundo". A célebre frase do então ministro Gilberto Gil, em 2003, ultrapassa o espírito do tempo.

A cultura como um direito que deveria ser inalienável passa necessariamente pelo acesso a ela. E o Jornalismo tem um papel a cumprir nessa engrenagem. Não como um mero promotor institucional de eventos, mas alguém que faça uma mediação entre artistas e público, respeitando critérios que dialoguem com essa ideia de democratização cultural.

Ao longo das últimas décadas, as redes sociais se consolidaram como importantes canais de comunicação. Artistas e promotores desenvolveram ferramentas de diálogo mais direto com o público. No entanto, tais instrumentos não substituem o jornalismo profissional que informa o leitor com profundidade e criticidade, tendo autonomia para falar sobre um determinado evento sem amarras institucionais ou comerciais.

Claro que artistas invariavelmente ficam de fora nesse processo de curadoria. Ou mesmo que leitores desejosos de ler sobre um show, uma peça ou uma exposição fiquem eventualmente chateados se têm expectativas frustradas.

Mas é imprescindível dentro do jornalismo cultural que os recortes escolhidos busquem um equilíbrio, priorizem uma maior pluralidade de linguagens. Tenham, sim, o artista mais consagrado nacionalmente, mas sem esquecer àqueles da cena independente ou local, para que também tenham oportunidade de formar e cultivar os próprios públicos.

Foto do Ombudsman

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?